quarta-feira, março 28, 2007

Política, Salazar e concursos de TV

Salazar foi o português vencedor no concurso da RTP, "Os Grandes Portugueses". Esquecendo a natureza do concurso, formato, modo de votação, etc, importa pensar. Porque ganha Salazar? O que está a acontecer na cabeça do cidadão português, para chegados aqui, considerar Salazar "o maior"? Que visão da política e suas práticas, faz nos portugueses emergir uma visão de Salazar como "o maior"?
É com tristeza que chegamos aqui. A este pântano de valores, que permite branquear a personalidade de Salazar em pleno século XXI. Mas, mais que tudo, isto é um forte sinal do que pensam os portugueses. Não desvalorizemos estes resultados. Não desculpemos, afirmando que se trata "apenas de um concurso". Não enfiemos a cabeça na areia, não querendo ver a diferença entre o país que vivemos e sentimos todos os dias e aquele que nos é "apresentado" na comunicação social.

domingo, março 25, 2007

Os 50 anos da CE e o Rote Armee Fraktion

Ontem, a Europa fez 50 anos. Ou seja, a "associação" na qual nós juntamente com outros 26 países, constitui a Comunidade Europeia (CE). Muito se tem escrito sobre esta Europa, muitas vezes justamente (estou a pensar nos custos exorbitantes de um Parlamento em Estrasburgo), mas, no cômputo geral, e enquanto cidadão português a residir num país que também faz parte do "clube", a Suécia, as vantagens são mais do que evidentes. Só o facto de o cidadão europeu poder movimentar-se num espaço como o "nosso", sem grandes burocracias quanto a registos, assistência médica e social, com um universo de Universidades ligadas entre si é, de facto, algo impensável há algumas décadas atrás. A vertente económica, a paz com que antigos inimigos de um passado recente de conflitos hoje se sentam à mesma mesa (Alemanha e Polónia, para dar um exemplo), enfim, a Europa como a conhecemos hoje e que achamos ser algo normal, duas décadas atrás seria impensável . As dúvidas, avanços e recuos fazem parte da história, desde a assinatura do Tratado de Roma a 25 de Março de 1957, mas, no entanto, a Europa sempre conseguiu avançar para além das suas naturais divergências, a última ainda recentemente com o recente alargamento a Leste.
Sendo a Suécia um dos países mais cépticos em relação à ideia de Europa, a que não estará alheia o facto da sua posição geográfica "puxá-la" para Leste, para o Báltico, levou que as comemorações fossem moderadas, mais no plano académico, com os habituais colóquios e conferências, longe do cidadão comum. Felizmente, que a Europa, ou a ideia de Europa não é somente palavras. Cabendo à Alemanha, na actualidade, a presidência da CE, resolveu a Embaixada desse país na Suécia, juntamente com os restantes parceiros, organizar um evento com características de "prova" gastronómica, onde a nossa forma de viver enquanto europeus fosse exposta através dos nossos vinhos, queijos, enchidos, cervejas, etc, e que teve um óptimo retorno mediático. Feliz iniciativa esta que, neste céptico país, teve o ensejo de mostrar que a Europa não é só Bruxelas e a burocracia, mas também a combinação do vinho português, os enchidos romenos, os figos grecos, a cerveja belga, vinho austríaco (nem sabia que tal coisa existia naquele país) etc, etc. Estivémos bem representados com os nossos tintos, durienses e alentejanos em destaque, para além do Porto e Madeira, acompanhado, desta vez, com o magnífico queijo de São Miguel, tendo o nosso país sido um dos mais visitados. Enquanto decorria a prova dei-me conta que o lugar onde me encontrava, a Embaixada da Alemanha em Estocolmo, é um daqueles locais em que a história um dia resolveu visitar. E não pelos melhores motivos. O ano é 1975, nas vésperas do primeiro aniversário de uma revolução pacífica ocorrida num país da Ibéria, a 24 de Abril, um comando de seis terroristas do grupo alemão Baader-Meinhof (Rote Armee Fraktion), seus nomes: Hanna-Elise Krabbe, Karl-Heinz Dellwo, Lutz Taufer, Bernhard Rössner, Ulrich Wessel e Siegfried Hausner, ocupa, de surpresa, a Embaixada da República Federal Alemã na Suécia. O objectivo do comando "Holger Meins" é o de obrigar o governo da Alemanha Federal, do social-democrata Helmut Schmidt, a negociar a libertação dos fundadores do grupo terrorista, Andreas Baader e Ulrike Meinhof. A espiral de terror do comando começa, primeiro, por colocar 13 quilos de TNT no edifício, seguindo-se a ameça de assassinarem os 12 elementos da Embaixada, enquanto vão informando a policía sueca e as autoridades alemãs das suas exigências. As autoridades federais de Bona negam-se a negociar com o comando, o que resulta no consequente assassínio, a sangue frio, do adido militar da Embaixada. Face a nova recusa em negociar, segue-se novo assassínio, desta vez do adido económico, Hillegaart, com 3 tiros, fazendo com que a policía sueca resolva avançar. Não chegam a vias de facto, já que os 13 quilos de TNT são activados, destruindo parte da Embaixada, ferindo os terroristas e os restantes elementos do staff da Embaixada. Durante 12 horas, tempo que decorreu a ocupação, a Europa vê-se confrontada com uma nova realidade, e o governo alemão, de Schmidt, e o sueco, de Olof Palme, são colocados à prova. Este último, Palme, seria 11 anos depois do raide de Estocolmo, assassinado em plena baixa de Estocolmo e, uma das várias teorias que circulam sobre os motivos do crime e que ainda hoje é referenciada, é a da possível participação do Rote Armee Fraktion. Enquanto circulava pelas várias dependências da Embaixada onde decorria o evento, e observava como as diversas nacionalidades da "nova" Europa comunicavam entre si e trocavam opiniões, o dinamarquês com o letão, o eslovénio com o cipriota, e por aí fora, não deixava de pensar que, 30 anos atrás, o fanatismo e a violência tinham tomado conta deste espaço e destes corredores. Essa é, definitivamente, a Europa que não queremos. Só por isso, o que não é pouco, devemos comemorar os 50 anos da Europa.

quarta-feira, março 21, 2007

Parque dos Abadinhos ou humor à solta?

O Parque dos Abadinhos - choupal junto ao rio Águeda, a caminho do Sardão - está "plantado" de placas como as da imagem. Avisos solenes e graves, com pontos de exclamação e tudo. O caso parece sério...



Que fazer? Ter pena de tão belo choupal estar doente? Imaginar que o humor chegou às zonas verdes? Ousar pensar que um belo e frondoso choupal, pode ser espaço de mais uma "atonguice"? Verdadeiramente hilariante ...

terça-feira, março 20, 2007

15 K

Depois de um fim de semana invernal, que desgraça, com neve, chuva, vento e frio, e pouca vontade de calçar as sapatihas, hoje, no entanto, lancei-me à estrada. Ainda apanhei um pouco de neve, mas o sol acompanhou-me nestes 15 quilómetros. Tive a necessidade de aumentar a cadência um pouco.
Nos próximos dias no Sul da Suécia, em Gotemburgo, realiza-se a feira TUR(marcador; www.tur.se). Trata-se da maior feira dedicada ao produto Turismo na Escandinávia, e uma das maiores na Europa, e, como vendo sendo hábito, estaremos representados com um pavilhão nacional. Para além da participação institucional, muitos e bons operadores nacionais marcarão presença. Para Portugal, e no produto em questão, Turismo, a Suécia é um mercado relativamente pequeno mas importante. Não tanto pelo número de turistas suecos que nos visitam mas, sim, pela qualidade, leia-se, pela relação da estadia/despesa efectuada, o que é significativa. Não querendo abusar da vossa paciência com números e gráficos, posso, no entanto, empiricamente, dizer que em 10 suecos que nos visitam, 6 fazem-no por causa do Golfe. A Suécia, um país com cerca de 9 milhões e meio de habitantes, tem cerca de 500 mil praticantes de golfe (o maior número de praticantes na Europa) e, com as condições climatéricas que lhes caiu na rifa, é fácil perceber a necessidade que tem em procurar outros campos durante parte significativa do ano. E aqui, passe a feroz concorrência neste mercado tão específico como o Golfe, Portugal, com a boa oferta de campos, está bem visto. Para além do golfe, essencialmente na região do Algarve e Lisboa, a preferência dos suecos passa pelos Açores, onde são um dos principais visitantes. Nos Açores, os suecos, povo que dá grande atenção à natureza e ao meio-ambiente, fascinam-se com a natureza, da espectacular flora que essas ilhas oferecem e da possibilidade em efectuarem grandes passeios. O mesmo aplica-se à ilha da Madeira, e à sua peculiar flora, as flores da Madeira fazem os suecos deslocarem-se a essa ilha em bom número.

sexta-feira, março 16, 2007

OTA - público - privado à moda liberal...

Atente-se na subtileza do conteúdo desta notícia:
O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, admitiu hoje que o Banco Europeu de Investimento poderá ser uma das possibilidades no financiamento do novo aeroporto e disse não ter dúvidas de que a União Europeia vai aprovar o projecto.
No encerramento da primeira sessão da conferência do aniversário dos 20 anos do BEI em Portugal "Perspectivas para o Futuro", Mário Lino salientou que o projecto da Ota é um investimento essencialmente privado e que o investimento público atinge um valor máximo de 600 milhões de euros.
O ministro afirmou que o projecto já foi considerado em Bruxelas como prioritário e que cabe agora à União Europeia apreciar a sua qualidade para atribuir os fundos comunitários. in Jornal de Negócios 16.3.2007
Projecto privado, investimento público, fundos comunitários. Fica transparente e claríssima a opção política. Assim entendemos a "pujança" destes projectos-bandeira que tudo conseguem levar à frente. Opiniões de técnicos credenciados e independentes, estudos de impacto ambiental, estudos geológicos, estudos de segurança aérea, estudos de acessibilidades, etc. Tudo, verdadeiramente tudo!!! Ah é verdade o Vitorino vai para presidente da AG da Brisa. Mas que "rilação" têm estas coisas? A Ota é uma verdadeira medida rosa, porque o vermelho é demasiado afirmativo e intransigente.
PS - O PM deu ordem para procurarem a gaveta onde há anos guardaram "o socialismo". Quer mandá-lo para exposição nas vitrines da Fundação MS...
Biba a OTA e o TGV canhões do nosso desenvolvimento...

quinta-feira, março 15, 2007

O degelo


A 3 meses da data da Maratona de Estocolmo, é tempo de acelarar a preparacão e aumentar o ritmo. Durante os meses de inverno, com neve, frio e, essencialmente, a escuridão, o treino não foi o mais eficaz, exceptuando umas valentes corridas em Copenhaga. Agora, que o degelo avanca a olhos vistos, embora ainda tenhamos temperaturas que faria um Português corar de frio, desde final de Fevereiro que tenho aumentado o treino e "papado" quilómetros atrás de quilómetros. Quem anda nestas coisas (fala o profissional...), sabe que, com o quotidiano, profissional e pessoal, intenso das nossas vidas nas sociedades pós-modernas (lembrei-me do semiótico Baudrillard, recentemente falecido), o quão dificíl é ganhar motivacão para treinar ao fim do dia. Para mais, com temperaturas a rondar as negativas, é preciso ter muita motivacão. Até à data, comigo a coisa tem funcionado. Descobri, ao dar uma saltada ao site da Maratona (http://www.stockholmmarathon.se/start/content.cfm?ShowResults=Yes&Sec_ID=206&Rac_ID=65&Lan_ID=3&RequestTimeOut=600), que, para além deste vosso representante da provincía lusitana da grande Ibéria, outros 6 bravos lusitanos e 1 lusitana também estão inscritos. A ver se os apanho entre os 18 mil que participarão. Junto anexo foto do Estádio Olímpico de Estocolmo, o objectivo dos mais de 40 km, 42 195 metros, para ser mais preciso. Bem, deixemo-nos de palavreado, que aqui já são 7 da tarde e tenho que calcar as sapatilhas e lancar-me à floresta para mais um treino (no outro dia, já noite, pela floresta dentro ao som de Morrissey, passei por um veado e ainda vi uma raposa). Devo estar realmente louco.

quarta-feira, março 14, 2007

Atractivo? eu?

(in Região de Águeda )

O que me preocupa é que estamos a crescer menos que a média nacional desde 1997 em termos de nascimentos, isso significa que estamos a ser menos atractivos que outros concelhos", referiu Gil Nadais.

Ou nós menos atractivos ou elas menos atraentes, é bem capaz!

Mas também pode não ser nada disso. Pode ser simplemente que estejamos a fazer mais batota que os outros!... Ou será desinteresse pela coisa ...?

Ora aqui está uma questão que importa averiguar melhor. Não se venham a tomar medidas para resolver o problema errado!...

Carta Educativa ou o documento desnecessário

Está em curso em Portugal, uma profunda reorganização da rede escolar ao nível do 1º Ciclo do Ensino Básico. Se o exagero do número de escolas com menos de 10 alunos, era evidente, a ordem cega e demencial é fechar em quase todo o lado, sem olhar aos contextos e à realidade. Passar de uma rede com trinta escolas para três, (como acontece em alguns concelhos) parece-nos um disparate ainda maior. Mas como resolver o problema? Como definir com equilíbrio e bom senso, a justa medida? Como fundamentar as decisões, tendo em conta cada realidade sócio-educativa?
Desde 2003 que todas os Municípios deveriam ter elaborado a sua Carta Educativa. Um documento que fizesse o levantamento da realidade escolar, não só ao nível de infra-estruturas, como da demografia escolar e sua visão prospectiva. Que condições possui a escola do 1º CEB das Chãs (Macinhata)? Em que estado se encontra a escola do 1º CEB de Castanheira do Vouga? Como funcionam as aulas e as Actividades de Enriquecimento Curricular nas escolas do concelho? Quantos alunos existem? O número de alunos está em crescimento? Há freguesias com maior potencial de crescimento do que outras? ...
Em Águeda a Carta Educativa por motivos vários ainda não foi produzida. Em Águeda quanto à realidade da rede escolar ainda falamos de cor, sem dados. Em Águeda a Carta Educativa está em elaboração (lenta), quando municípios vizinhos (Anadia, Aveiro) já a discutiram e já se encontram a tomar decisões em função da sua informação. Mas como somos diferentes em Águeda. Apesar de não termos ainda elaborado a Carta Educativa, já começámos a tomar decisões sobre a rede escolar. Confuso? Só para alguns .... Já se referem escolas que fecham, centros educativos (designação horrível!!!) a construir, terrenos em aquisição, deslocação de alunos, etc.
Que sentido faz estar a elaborar a Carta Educativa e em simultâneo ir anunciando o que se vai fazer? Que sentido faz tudo isto? Que racionalidade? Que eficácia?
PS - Por considerarmos "demasiado original", abstemo-nos de emitir opinião acerca da forma e metodologia de elaboração da Carta Educativa, "dirigida" de Lisboa por um gabinete....

terça-feira, março 13, 2007

Fechar escolas

(in Soberania do Povo)

Gil Nadais revelou na reunião de Câmara de quinta-feira, dia 1 de Março, que a ministra da Educação “disse-me que tem nove escolas para fechar em Águeda”. O presidente da Câmara defende que antes das escolas do 1º. ciclo serem fechadas, devem ser criadas condições alternativas e, por isso, “disse-lhe para ter calma porque não podemos fechar sem explicar às pessoas que existem alternativas melhores”. Gil Nadais afirmou que se a ministra persistir em encerrar algumas destas escolas “contará com a minha oposição” e acrescentou que “os pais têm que ter um papel importante nesta matéria”.

Oh Sr. Presidente, então isso é coisa que se diga à ministra? Isso é lá maneira de falar? O que é que ela vai pensar da Câmara de Águeda? Não espere que ela vá pensar que o Presidente da Câmara de Águeda, com esta atitude, se está a preocupar com as populações! Parafraseando, de preocupações está o inferno cheio!...

Olhe que ela vai é perguntar: O que é que o Sr. Presidente já fez a propósito? Então o Senhor não sabe, há mais de um ano, que este problema existe? E deixou-se ficar quieto, à espera que seja eu a resolvê-lo? Lá por se ter safado no 1º ano pensava que isto acabava. O Senhor tem ao menos uma ideia de como o problema deve ser resolvido no seu concelho?

E será que não perguntou?

Se fosse eu tinha perguntado!...

O logro...

"Privados abrem clínicas onde Governo fechou centros de saúde" (DN, 13/03/2007). Sob este título escreve-se:

"Três grupos privados e a União das Misericórdias Portuguesas são as entidades privadas e da rede social que já puseram em marcha um ambicioso programa de abertura de unidades de saúde que pretendem ocupar o vazio deixado pelo Estado ao fechar urgências, centros de atendimento permanente e maternidades". Mais adiante: "... privados da Hospor, detido pelo grupo BES Saúde, e da Rede Nacional de Saúde Privada, que estão no terreno para ocupar o espaço que o ministério deixa vago, respectivamente, no Vale do Rio Minho e em Mirandela. Outras empresas privadas poderão também vir a beneficiar desta nova política no Ministério da Saúde, como é o caso do grupo Mello que tem previsto, ainda este ano, abrir uma clínica em Torres Vedras com atendimento permanente".

O Ministro, entretanto, vai dizendo: "Não contem connosco, todavia, para o conservadorismo amolecido de modelos ultrapassados, dispendiosos, inseguros para o cidadão e sobretudo enganadores na falsa disponibilidade. Um modelo de especialidade e urgências ao pé da porta de cada um, simplesmente não existe. Propô-lo seria irresponsável, perpetuá-lo será hipotecar o futuro. Nada mudar, seria uma covardia que os nossos Cidadãos não tolerariam, quando se apercebessem da dimensão do logro" ( http://www.portugal.gov.pt/ ).

O BES e o Grupo Mello transformara-se em sociedades filantrópicas? Estou mesmo a ver os executivos sentados nas longas mesas de reunião feitas de madeira exótica a dizer: "Coitadinhos, ficaram sem a urgência..., que pena... vamos criar uma privada". Naturalmente (e nada contra isso...) o seu objectivo é o lucro! Sendo assim, o BES e os Mellos para investirem no Vale do Minho, em Mirandela ou em Torres Vedras é porque esses locais têm potencial para assegurar retornos do investimento. Esse potencial só existe se houver procura (quantidade de utentes na perspectiva do BES e dos Mellos, necessidade de cuidados de saúde na perspectiva dos utentes). Porque se defende o encerramento de serviços de saúde naqueles locais? Por estarem 'falsamente disponíveis'? Por serem 'inseguros'? Por serem 'dispendiosos'? Qual logro?

quinta-feira, março 08, 2007

Notícia que me agradou (ou como medidas simples...)

No Diário de Aveiro de 8/3/07:

Pateira de Fermentelos: Ceifeira deixa autarcas satisfeitos.

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Com a finalidade de observar o resultado desses mesmos trabalhos, na Câmara de Águeda reuniram recentemente os representantes das diversas entidades que acompanham o referido processo entre as quais a CCDR-C (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro), o INAG (Instituto da Água), representantes dos municípios de Aveiro e Oliveira do Bairro, e das juntas de freguesia limítrofes à Pateira (Óis da Ribeira, Fermentelos, Espinhel e Requeixo). Gil Nadais, presidente da Câmara aguedense, fez o ponto da situação, apresentando o relatório com o balanço dos trabalhos da ceifeira aquática na Pateira que, como referiu «após apenas oito semanas de operacionalidade, onde está incluído um período de formação dos operadores, já removeu 4.000 metros cúbicos de jacintos-de-água da Pateira».

...

Refere ainda a notícia, o processo de avaliação de "propostas com vista à valorização da biomassa removida", a apresentação pelo INAG dos "resultados do levantamento hidro-topográfico realizado ao fundo da lagoa", bem como a identificação de "zonas com maior acumulação de sedimentos (menos profundas) e para as quais poderá ser estudada a hipótese de dragagem", a "visita das entidades ao parque de Espinhel, nas proximidades do qual a ceifeira se encontra actualmente a laborar", e que desde 17 de Fevereiro a ceifira se encontra a operar também aos fins de semana, com o fim de "optimizar e rentabilizar ao máximo o funcionamento da máquina".

E agradou-me esta notícia porque:

  1. É uma notícia sobre o acompanhamento e avaliação de um projecto em curso. Estou cansado de só ver anúncios de lançamentos de novos projectos espampanantes e das verbas (financiamentos) envolvidas, sem nunca mais se ouvir falar do seu estado e dos seus resultados;
  2. No projecto estão envolvidas as entidades e as pessoas que têm a ver com o problema e que têm vontade e estão dispostas a agir (não apenas participar);
  3. Trata-se de um projecto aberto. Perante um problema, procuraram-se parceiros e soluções, identificam-se e põem-se em marcha as medidas de execução imediata (mesmo sem haver uma absoluta certeza "científica" da sua eficácia - mas acredita-se!), definem-se os estudos necessários para se poderem decidir as medidas futuras e fazem-se executar, acompanha-se, avaliam-se permanentemente os resultados e corrigem-se as medidas.
  4. Está-se a prestar "contas". Dizer como vai, o que se fez, o que falta e o que se pensa fazer.
  5. Com a humildade de se dizer: não temos a certeza mas acreditamos que vamos conseguir!

Assim, e a continuar assim, volto a acreditar.

Afinal, com medidas "simples", é possível resolver os problemas. Quando se quer mesmo resolvê-los! E não apenas dar nas vistas e aparecer na fotografia - notoriedade efémera.

E esta "nova" atitude está a contagiar, como parece indicar esta notícia, também no Diário de Aveiro de 6/3/07:

"O presidente da Junta de Freguesia de Requeixo, Sesnando Alves dos Reis, vai comprar um barco a motor e com a ajuda de uma retroescavadora espera poder retirar os jacintos de água que se acumulam no esteiro de Requeixo".

Um Presidente de Junta que não se queixa nem lamenta, antes arranja maneira de ir resolvendo os problemas. Faz o que pode. Mas faz. Age.

Parabéns, pelo exemplo, Sr. Presidente de Requeixo.

Parabéns também Sr. Presidente da Câmara.

quarta-feira, março 07, 2007

Assembleias, pontos únicos e políticas desportivas

A Assembleia Municipal (AM) da bila (como gosta de dizer o CC) reuniu com uma ordem de trabalho diminuta, segundo alguns. Pessoalmente fiquei satisfeito pelo facto de ter sido convocada uma AM apenas para analisar e discutir um documento de orientação da política de apoios ao associativismo desportivo. É um bom sinal. Tal atitude releva, na minha óptica, da valorização que é dada à actividade física e desportiva na nossa comunidade e por outro lado à eventual complexidade da estrutura e alcance do referido documento. Num tempo em que se discutiu a nova Lei de Bases da Actividade Física e Desportiva (que para alguns só podia e devia ser do Desporto) Águeda tira o sono, escribinha uns textos e discute as finalidades da intervenção autárquica no desenvolvimento desportivo, a visão prospectiva a partir de cenários de promoção de práticas de actividades físicas de acordo com diversos públicos-alvo, o faseamento de uma política de instalações, equipamentos desportivos e de lazer até 2025, as hipóteses de rentabilização das parcerias público-privados na promoção de estilos de vida activos entre a sua população numa base de saúde e qualidade de vida. É neste contexto que opções diversas acerca do papel político e institucional aglutinador da CMA de referência entre os diversos actores, se distinguem com as clivagens ideológicas a vir ao de cima. Suportados em correntes de pensamento e acção claramente centradas na opção Desporto Rendimento, degladiam-se em nobre debate com os defensores do Desporto para Todos numa base mais pluralista. Neste caldo de visões diferentes onde a discussão das políticas de subsiodependência estiveram ausentes e a nobreza das ideias e dos projectos que lhe dão corpo, foram reis. Com todo o esgrimir de argumentos centrados entre diferentes formas de perspectivar a actividade física e desportiva numa comunidade como Águeda, assistiu-se a um aprofundamento daquilo que a breve prazo será uma verdadeira política desportiva municipal, longe de visões estalinistas do desenvolvimento desportivo ou de compadrios de envelope em dia de aniversário. A AM transfigurou-se e foi bonito de ver com elegância um debate onde era evidente ....
Mas.... que horas são? Que sonho este...
A Assembleia Municipal de Águeda decidiu retirar da ordem de trabalhos o único ponto levado à discussão pelo Executivo liderado por Gil Nadais. O autarca considerou que todos os membros da Assembleia Municipal devem ser penalizados "pela falta de participação, porque este documento esteve em discussão pública e não recebeu propostas".No final, Gil Nadais resolveu retirar o ponto agendado na ordem de trabalhos, algo que foi aceite pela unanimidade dos membros municipais (Litoral Centro 1.3.2007).
PS - Discussão Pública? Ouve debates públicos? Esteve disponível no sítio da CMA? Foi distribuído a alguém? Foi apresentado publicamente? Foi divulgado na comunicação social?

Morrer em dia de chuva (em Águeda)

A vida é difícil mas, em Águeda, em dias de chuva, a morte também. Ou melhor, a morte é o que é, o complicado é o funeral. E não, não é porque em dia de cheia as coisas podem tornar-se complicadas.

Basta um dia como o de ontem em que, continuadamente, durante todo o dia, cai aquela chuvinha “molha-tolos” e não é possível fazer um funeral no cemitério de Águeda. Ou melhor, o funeral pode fazer-se, enterrar o morto é que é mais complicado.

E isto porque não dá para abrir a cova em dia de chuva. Fica o funeral em suspenso até que a chuva termine e haja “uma aberta” que dê para abrir a cova. Regressa então a família e retoma-se a cerimónia.

Oh gente da Câmara, há necessidade disto, desta vergonha? Não dá para arranjar uma quitanda ao coveiro, para ele fazer o trabalho quando é preciso e não apenas quando "está sol"? Isto são uns troquitos, custa muito menos que um único funeral!

E se não for pelos mortos, que seja pelo respeito que os VIVOS nos merecem (ou deviam merecer!).

Pérolas da Assembleia Municipal

Hilário Santos acusou o regulamento de apoio ao associativismo desportivo de ser “feito à boa maneira socialista”, ao considerar uma diferenciação positiva às mulheres. “Elas não querem ter primazia sobre os homens, querem é igualdade”, explicou. (SP, 1/03/07)

Olhe que não, olhe que não!… Elas querem mesmo é ter primazia sobre os homens (se fosse eu queria!), não se deixe enganar!
Mas sei uma coisa que elas não querem: que seja um homem a falar por elas. Pelo menos a minha não, eu nunca me atreveria! Louvo a sua coragem!

O social-democrata (Hilário Santos) considerou ser provincianismo exigir que os clubes promovam a frase “com o apoio da Câmara de Águeda”. (SP, 1/03/07)

De facto, a UE é a maior concentração de provincianos do mundo. Pelo menos a julgar pelos dísticos que vejo por aí com a inscrição “com o apoio da UE”.

O social-democrata Antunes Almeida estranhou que a Assembleia Municipal tenha sido convocada “apenas por causa de um regulamento” e explicou que “em vinte anos que ando nestas lides, é a primeira vez que me recordo de ter apenas um ponto na ordem de trabalhos”. (SP, 1/03/07)

Caro Antunes de Almeida, pois olhe, eu preocupava-me menos com a quantidade e mais com o tamanho (Freud?) – dos pontos claro! E pelos vistos, era só um e não se atreveram com ele…
Bem sei que chega a uma altura em que já nos contentamos em “quase” resolver os “assuntos”…

(Antunes de Almeida) “o desenvolvimento das relações da Câmara com o Poder Central para saber se é para estar tudo parado, como parece, ou se há alguma novidade”. (SP, 1/03/07)

O que é mesmo importante é saber se este Presidente sabe “mamar”. Também acho!

(Antunes de Almeida) “a Câmara transformou em quatro páginas a informação escrita que tenho num CD com 173 páginas de notícias dos jornais com acções da Câmara Municipal”. (SP, 1/03/07)

Já viu a poupança de papel? Se já estava publicado… Mais uma daquelas publicações (em papel de luxo!) com a lista das coisas que vão acontecer? Para quê? Para gastar dinheiro? Feira de vaidades? Não é para isso que serve a CS?

Paulo Matos foi da mesma opinião, afirmando que “não faz sentido discutirmos apenas um ponto, quando existe tanto para discutir em Águeda” (SP, 1/03/07)

Caro Paulo Matos, a mim parece-me que, em Águeda, há mais para fazer que para discutir! Mas cada um tem os seus gostos…

O presidente da AM concluiu, finalmente que “está-se a fazer política em Águeda através da comunicação social”. (SP, 1/03/07)

Só agora? Eu pensava que uma das funções da CS, porventura a mais nobre, era mesmo para se fazer política. A mim sempre me disseram que política de corredores era politiquice. Bem, e se é a voz autorizada do nosso Presidente da AM que nos diz, confiemos, finalmente Águeda está a colocar-se em linha com o mundo civilizado. Se este Presidente teve este mérito, bem haja!…

segunda-feira, março 05, 2007

Nørrebro


Não faço ideia qual foi a cobertura dada pelos media portugueses aos recentes distúrbios ocorridos na capital do Reino de Margarida II, Copenhaga, numa das suas zonas mais pitorescas, a Nørrebro, não muito longe da Hovedbanegård (Estação Central), quase a espreitar a velha ruas das pegas e dos amantes de sensações ilegais, a Istegade, hoje transformada em zona de cafés e lojas de design. Mas eu, em mais uma visita de fim de semana a Copenhaga, as boas ligações ferroviárias entre as duas metrópoles escandinávas permitem estes desvaneios de alma, pude observar o acontecimento com uma certa proximidade. E tristeza, diga-se. Para se perceber o que está em causa, é necessário efectuar uma viagem ao passado, quando a Dinamarca era conhecida e admirada como sendo um país tolerante e aberto à experimentação social, cujo elemento mais visível foi Christiania (marcador www.christiania.org), uma zona de Copenhaga transformada desde os anos 60 em cidade comunitária, livre, autónoma de poderes e leis, orgulhosa da sua especificidade, antes de ser minada pelo tráfico de drogas e pela especulação imobiliária, lutando na actualidade pela sua sobrevivência. Até meados dos anos 80, quando pela primeira vez, vindo do Sul, cheguei a esta parte da Europa para sempre, Christiania era, de facto, um laboratório de tolerância e, em geral, apreciada pela população dinamarquesa, ela, própria, muito, digamos, anárquica, no que diz respeito à autoridade e à forma de comunicar com a mesma. Essa característica autócnone, de serem orgulhosos na sua rebeldia a tudo que possa demonstrar autoridade, é algo que está incutido na alma dinamarquesa desde sempre, desde as inúrmeras guerras com o vizinho alemão, a última correspondeu à ocupação nazi durante 4 anos, levando à consequente reserva à cultura germânica (ainda hoje, está vedada a possibilidade de um alemão poder comprar casa na Dinamarca...), à mais do que dúbia relação com a Europa e suas instituições, recordemo-nos do duplo não à moeda Euro, do não ao tratado de Masstricht e, como se fosse necessário ainda mais, de serem dos mais euro-cépticos dos europeus, quase que transforma os dinamarqueses em personagens parecidos com os gauleses de Goscinny (Asterix). Encontrando-se hoje em vias em extinção neste mundo globalizado, os filhos e netos desses dinamarqueses da tolerância de então, ao verem que o símbolo da sua "liberdade colectiva", a casa da juventude ocupada ilegalmente pelos mesmos a ser atacada pela polícia, conforme decisão judicial, responderam com a violência, destruindo bens e escolas (outro símbolo da autoridade). (In)conscientemente, estavam, ao mesmo tempo, a destruir a sua própria génese e o apoio que até então tinham do comum dos cidadãos. É aqui, no uso da violência pela violência, gratuita e bárbara, da não aceitação do sistema e da convivência democrática, que enfureceu a maioria dos dinamarqueses, nada simpatizantes com a transformacão da sua cidade em Beirute e a internacionalizacão da violência pelos BZ (okupas dinamarqueses a que se juntaram suecos e alemães). Dias quentes, estes em Copenhaga, sinónimo de um país em profunda transformação. De país tolerante, simpático, ecológico, com as suas bicicletas a pintar a paisagem, a Dinamarca tem vindo nos últimos anos, desde a subida ao poder dos conservadores apoiados por um partido de extrema-direita, a transformar-se num país com características xenófobas, quase que renegando a sua história. Mas, isso, é para outra altura.

domingo, março 04, 2007

A CP mais rápida. Querias!...

Segundo o Público de hoje, a CP tem preparado um pacote de oferta de novos horários que permitiriam diminuir em 35 minutos o tempo de viagem entre Lisboa e Porto no serviço Alfa Pendular, entre outros.

Mas estes novos horários não são aceites pela REFER, detentora da infraestrutura. Pelos vistos é já a nona tentativa da CP, sem sucesso. Vamos continuar na mesma.

Razões apresentadas pela REFER? Se alguém as perceber…

Será que a verdadeira razão se prende com a necessidade de justificar o TGV? Será que a REFER tem receio que o sucessivo aproveitamento da capacidade da linha actual, encurtando os tempos de viagem, venha a retirar argumentos à necessidade do TGV?

Por este andar, não tardará muito até que os tempos de viagem venham a piorar. A REFER lá encontrará formas de dificultar a vida à CP.

E eu é que sou judeu!...

sábado, março 03, 2007

Bloguejudeu - novo blogger

A equipa do Bloguejudeu está reforçada. Não se trata de nenhum brasileiro contratado por catálogo, ou em vias de naturalização para aguardar a convocatória do sargentão. SC será com toda a certeza uma voz de Águeda, que com lucidez, qualidade e pertinência enriquece este espaço de debate local/global na blogosfera. Obrigado pelo convite aceite e votos de bons "post"...

Uma nova forma de Capitalismo de Estado?

E a OPA (OPA só há uma a da PT e mais nenhuma) morreu, é a notícia das últimas horas.

– Estamos desiludidos, diz a SONAE.

– Estamos orgulhosos pelo trabalho realizado, diz a administração da PT.

– É o mercado a funcionar, diz o ministro. Nós não nos metemos nisso, estávamos só atentos!

E eu, o que me apetece dizer?

– Ora bolas!...

A OPA morreu porque os homens do capital não quiseram ir a jogo, optaram por permanecer debaixo do chapéu protector de uma golden share do estado. Há uns tempos, esses mesmos donos do capital reclamavam do “anacronismo” da permanência do estado no controlo dos destinos da empresa. Agora que o estado estaria disposto a abrir mão desse poder, não quiseram dar esse passo.

O que se passou ontem não foi um momento de funcionamento de “mercado”, foi uma coisa completamente fora das regras de mercado. Pelo menos era assim que “os do mercado” falavam há uns tempos! O estado deter uma posição privilegiada de controlo de uma empresa não era coisa de mercado!...

Mas estaria o estado mesmo disposto a abrir mão da sua posição privilegiada? É claro que não. A prova é que a CGD, completamente controlada pelo estado, defendeu o patrão, votou contra! O ministro diz que não deu ordens nenhumas. A gente é claro que não acredita!

Mas, neste caso, se o estado queria mesmo que o mercado funcionasse, e ser neutro, teria que fazer com que todas as suas posições (do estado), directas ou indirectas, fossem neutras. Isto é, a CGD teria, no mínimo, que se ter abstido. Não venha o ministro dizer que a CGD é uma empresa “normal”, se o fosse, o Armando Vara podia ser administrador, mas só se fosse dos contínuos…

O Gato Fedorento, perguntaria ao capitalista:

– Deve o estado deixar de deter uma situação de privilégio na PT?

– Sim.

– Vamos acabar com o privilégio?

– Não.

Será isto uma nova fórmula de capitalismo de estado?
Economia de mercado? Pois sim… com “mercadores” destes?! Só se for mercado de adro de igreja (vendilhões do templo?).

E eu é que sou o judeu!…

NB: Nesta minha chegada a este espaço, os meus cumprimentos a todos os amigos que o têm vindo a alimentar com os seus excelentes textos. Espero apenas não vir a desmerecer o convite, apesar de não vislumbrar, algum dia, vos chegar aos calcanhares nestas coisas da prosa. Vamos lá a ver… E fica feita a minha inauguração nestas lides.