quinta-feira, outubro 30, 2008

Primeiro Ministro de Portugal versus Caixeiro viajante da Intel

O primeiro-ministro é o mais alto representante português na Cimeira Ibero-Americana que está a decorrer em El Salvador. Nessa cimeira os países discutem a política internacional, a crise que actualmente grassa por todos eles e suas implicações nas políticas nacionais. O que faz o nosso primeiro, José Sócrates? Não pretendendo perder a oportunidade, sorrateiramente, o que oferece a cada representante dos países presentes? Um plano para aliviar a crise que se vive? Uma ideia para estes países colaborarem num esforço conjunto, para minorar o impacto da crise que se avizinha na vida dos seus cidadãos? Um quadro de reflexão política acerca da origem profunda desta crise e de estratégias refundadoras da organização económica, ao nível dos países ibero-americanos?
Frio. Muito frio...

José Sócrates oferece-lhes um exemplar do "Magalhães"!!!

E assim temos como um primeiro-ministro de um país da Comunidade Europeia, referência social e cultural para muitos países, se transforma num golpe de mágica num caixeiro viajante transcontinental ao serviço da multinacional americana Intel e de uma empresa portuguesa "com um diferendo com o fisco português".

Fantástico. Ora aqui está uma verdadeira visão estratégica de estadista, só ao alcance de alguns. Coisas destas não são para todos.

Por este andar, aconteça o que acontecer quem se atravessar ao caminho do nosso primeiro nos tempos mais próximos, arrisca-se a levar com um "Magalhães". Uma reivindicação salarial da função pública? Atirem-lhes com o "Magalhães". Um protesto acerca da prestação de cuidados de saúde? "Magalhães" para cima deles. Passeatas de militares à paisana a protestar sobre a sua condição? Uns "Magalhães" bem apontados resolvem o problema.

A própria Intel e aquela empresa portuguesa "com um diferendo com o fisco português" nem sabem no que se meteram. Daqui até às eleições de 2009 não vão conseguir estar à altura das necessidades políticas de milhares de exemplares do "Magalhães"...

quinta-feira, outubro 23, 2008

Toques do Caramulo na Antena 1

emprestado de © João Abrantes d'Orfeu


Sem receio de se constituir como uma interpretação provinciana, não queremos deixar de assinalar e orgulhar da passagem do grupo de Águeda Toques do Caramulo com as suas sonoridades serrano-jazzísticas nas ondas hertzianas da Antena 1 no passado dia 16 de Outubro. Tal aconteceu (onde mais poderia ter sido???) nessa ilha de divulgação da melhor música portuguesa que é o programa "Viva a Música" da Antena 1, da responsabilidade de Armando Carvalhêda, que não obedece a "playlists" ou patrocínios de alcance manhoso...

O grupo Toques do Caramulo tem um fantástico CD gravado numa noite de Verão na tenda da Venda Nova no quintal do Drº Adolfo... quem diria. A sonoridade da música típica da zona serrana de Águeda, não é replicada com requintes de perfeição técnica, antes é transformada por via da utilização criativa de novos e diferentes instrumentos e também de arranjos pouco habituais para este género musical. Para quem tinha só a ideia de um grupo folk jovem, fica deslumbrado pela capacidade musical demonstrada ao vivo, muito por culpa de uma sonoridade musical que identificamos como nossa, mas que se enriquece pela forma como é transformada e recriada.

Tal actuação ao vivo pode ser recordada em podcast:


sábado, outubro 18, 2008

Bikes - III maratona btt e a capital das duas rodas

foto "emprestada" de http://www.cm-agueda.pt/
A III Maratona de BTT do Vale do Vouga foi um sucesso de participação desportiva e de capacidade organizativa demonstrada. Reunir cerca de mil betetistas a pedalar em Águeda no curto espaço de 3 anos é algo de louvar e enaltecer. De todo o lado chegam apreciações positivas à organização, ao percurso escolhido, ao ambiente da prova e à imagem pública que se dá de Águeda e da região. Para lá do número patético do nosso Presidente "dizer umas palavrinhas" antes da partida da prova, esta III Maratona organizada pelo Clube de BTT do Vale do Vouga (http://www.maratonavaledovouga.com/) veio evidenciar a oportunidade de voltar a pensar Águeda como uma verdadeira capital das duas rodas. Não a "capital das duas rodas" por ter uma final de etapa da Volta a Portugal à custa de um cheque autárquico de dezenas de milhares de euros ou um Grande Prémio de Ciclismo ABIMOTA com tradição, mas a "capital das duas rodas" por ser capaz de coordenar actividades, iniciativas e acções que rentabilizem esforços de todos na reabilitação da fruição da bicicleta. Uma capital das duas rodas, em que cada importador e/ou montador de bicicletas segue o seu caminho sem olhar para o todo regional é redutor. Porque temos em Santarém o maior certame de exposição e apresentação do mundo das duas rodas? O que tem Santarém a ver com as bicicletas? Porque é uma grande empresa de Águeda um dos principais patrocinadores de Santarém?
Não seremos capazes de criar uma cidade exemplarmente ciclável em Águeda?
Não seremos capazes de fazer em Águeda modelos de provas de BTT extensivas a outros públicos (ex: crianças )?
Não seremos capazes de desenvolver em Águeda um parque fechado de BTT utilizável a qualquer hora?
Não seremos capazes de conceptualizar e planear políticas de mobilidade sustentadas na utilização da bicicleta?
Não seremos capazes de integrar grupos de "lobby" suficientemente fortes para levar à modificação do actual Código da Estrada?
Águeda pode e dever ser "a capital das duas rodas", mas efectiva e sustentada em acções, - de preferências destituídas do habitual "show-off" político-pessoal - que ao longo do tempo e no todo nacional coloquem a questão da mobilidade urbana (e não só) em cima da mesa, recuperem a imagem social da bicicleta como instrumento utilitário pessoal, desafiem políticas promotoras da segurança das bicicletas na via pública (ex: urgente alteração do Código da Estrada) e façam da utilização das bicicletas um factor de qualidade de vida e bem-estar, indutor de estilos de vida saudáveis.

Até na morte ...

A morte é sagrada. Falar da morte, descrever a morte, contabilizar a morte tem um sentido humano imbuído de respeito. Aconteça ela em que circunstâncias seja, a morte é sempre o fim. O fim carregado de tristeza para todos. A vivência de sentimentos pesados e dolorosos. A morte não é somente uma vivência individual e subjectiva. Todos colectivamente lamentamos a morte mesmo daqueles que não conhecemos. Se ela surge de forma brutal, resultante de acidentes rodoviários, choca-nos mais. Sem discutir a qualidade das nossas rodovias ou a segurança e forma de condução típica dos portugueses, a realidade impõe-se. Em Portugal morre-se demasiado na estrada. Mas, agora ... fazer "mais um número" político à custa das mortes das pessoas nos acidentes rodoviários em Portugal e pretender com isso ser galardoado pelas suas pretensas políticas de segurança rodoviária, não imaginava poder ainda observar. Se já estamos habituados "à política do show-off" nas freguesias, nos municípios que tudo propagandeiam e na acção dos vários ministérios, fazê-lo em compicta com os nossos parceiros europeus tem mais riscos. O da chacota e humilhação internacional...
Alguém se lembraria de adulterar critérios de definição da morte resultante de um acidente rodoviário, tendo em vista "apresentar serviço"? A visão tecnocrática das coisas e da vida, não justificam tais situações.

Destaque Expresso
Estatísticas de Segurança Rodoviária
Federação Europeia quer tirar prémio a Portugal
O ministro Mário Lino recebeu em Junho um prémio da Comissão Europeia pelo sucesso do país no combate à sinistralidade, mas hoje chegou à União Europeia uma denúncia que acusa o Governo de mentir nas estatísticas.
Diversas organizações discordam das estatísticas referentes ao número de mortos em acidentes de viação em Portugal e queixaram-se a Bruxelas. A Federação Europeia de Vítimas Rodoviárias, que congrega as maiores associações da Europa de combate à sinistralidade, enviou uma carta ao comissário Europeu dos Transportes a pedir que retire a Portugal o prémio atribuído pelo sucesso nas políticas de segurança rodoviária.
Este prémio foi entregue em Junho ao ministro dos Transportes e Obras Públicas, Mário Lino.
A Federação apresenta vários motivos para provar que Portugal não merece esta distinção. Um deles prende-se com o facto de o nosso país ser "o único da Europa ocidental que ainda contabiliza apenas as pessoas que morrem nas primeiras 24 horas após o acidente", deixando de fora os óbitos nos 30 dias seguintes, que são contados também por todos os outros países. A organização apresenta as conclusões de vários estudos feitos em Portugal por entidades oficiais, como a PSP ou o Instituto de Medicina Legal, para provar que se fossem contabilizadas nas estatíticas as mortes até 30 dias, os números da mortalidade seriam muito superiores. Em Lisboa, por exemplo, 72% dos feridos graves morreram no hospital. A nível nacional o valor é de 40%.
Escrevem ainda que há casos em que, como os delegados de saúde demoram muito tempo a chegar aos locais dos acidentes para declarar os óbitos, as equipas de emergência levam as vítimas já cadáveres para o hospital, não as contabilizando, no entanto, nas estatísticas como mortos. in EXPRESSO 17.10.08

quinta-feira, outubro 09, 2008

A porta Orelhuda da Venda Nova


Em plena semana do Festival Gesto Orelhudo, faz sentido uma imagem de uma das portas que nos faz entrar noutro mundo, onde os sons, o corpo e o humor ganham outra dimensão.


sábado, outubro 04, 2008

Efterår



E o Outono já chegou a Lidingö, Estocolmo.

O que diz Molero

Dinis Machado morreu. Para mim, Dinis Machado foi o autor de um livro. E que livro. Nos anos setenta do século passado "O que diz Molero" (1977) foi uma lufada de ar fresco na literatura portuguesa, ao nível da escrita narrativa em turbilhão e do desocultar de uma certa Lisboa menos conhecida e mais "underground". Sempre interessado nos novos autores Dinis Machado foi na altura um enorme prazer de ler, páginas e páginas entrelaçadas de humor. Um livro genial que será para sempre a imagem de Dinis Machado, pelo humor, imaginação e velocidade narrativa. Será sempre uma delícia de leitura. Até sempre, Molero.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Outra vez o Magalhães

Computadores portáteis portugueses
"Magalhães" pode ir também para a Argentina
O Governo argentino está interessado nos computadores portáteis portugueses, revelou o secretário de Estado das Comunidades, António Braga. in Expresso on-line 3.10.08 (
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/414506)


Outra vez?

Mas já não basta a dose infernal e caricata de viver num país em que para o PM e seus ministros a coisa mais importante que têm para fazer é distribuir computadores portáteis da Intel, pagos pelos operadores de telecomunicações a crianças?

Como se o famigerado "Magalhães" fosse resolver todos os problemas da aprendizagem das crianças da escola portuguesa. Teremos o "Magalhães" com banda larga, mesmo que o WC seja impróprio ou as salas sejam contentores pré-fabricados. Teremos o "Magalhães" julgando que com ele resolvemos todos os problemas da qualificação das aprendizagens.

As TIC podem favorecer a aprendizagem das crianças, motivadas e interessadas pelas novas tecnologias, mas agora fazer disso a emblemática panaceia que tudo resolverá, é uma aposta tosca, bacoca e essencialmente demagógica. Até porque ver o nosso PM José Sócrates rodeado pelos seus ministros a dar à mão embalagens de computadores a crianças embevecidas, fez-me recordar as imagens de José Eduardo dos Santos a oferecer motorizadas e electrodomésticos durante a última campanha eleitoral em Angola. Ou ainda há mais anos, o inenarrável major Valentim Loureiro a distribuir torradeiras e outros electrodomésticos na campanha eleitoral autárquica de Gondomar.
Não pode o país ter um PM com mais sentido de estado e menor apego à demagogia mais fácil?
Estaremos condenados a assistir serenamente até à série de eleições de 2009, a sequências destas em doses compactas de propaganda e "show-off"?
O "Magalhães", a Intel e os operadores de telecomunicações que pagam a factura e as famílias que assinarão contratos de fidelização com elas, não têm culpa. Cada um faz o seu papel e limita-se a cumprir de acordo com o guião pré-estabelecido. O que surge ridículo e demagógico é toda esta propaganda em torno das TIC e em especial do "Magalhães" que nunca serão a varinha de condão que só por si resolverão todos os problemas da aprendizagem dos alunos e da escola portuguesa em geral.