sexta-feira, dezembro 26, 2008

O grau zero da política

O Governo usará todos os meios ao seu alcance para ajudar os portugueses a ultrapassar as dificuldades impostas pela "grave crise económica e financeira". A garantia foi dada ontem pelo primeiro-ministro numa mensagem de Natal dirigida ao País, onde recordou as medidas tomadas pelo Executivo. Na mensagem, Sócrates chamou a si, inclusivamente, a descida das taxas de juro afirmando que, "criámos as condições para que baixassem os juros com a habitação", atirando para segundo plano as decisões do Banco Central Europeu. in Correio da Manhã 26.12.08.


Quando pensamos que já ouvimos de tudo, enganamo-nos. Quando imaginamos que não é possível baixar o nível, surpreendemo-nos. Quando conjecturamos que a "elite política do bloco central" ainda tem alguma lata política, desiludimo-nos. Como entender afirmações desta natureza, na quadra natalícia? Como compreender este ar caritativo, tendo como pano de fundo o novo ano? Como aquilatar do valor destas afirmações, num tempo pós-ajuda/dádiva à banca portuguesa?
Mas, a razão de ser e de estar politicamente de um PM não é claramente "ajudar os portugueses a ultrapassar as dificuldades"? Estaria o nosso PM a referir-se a outros portugueses que não aqueles que têm sido ajudados até agora? Pensaria o nosso PM nos portugueses que não integram o bloco central?
Para além da demagogia sobre as taxas de juros dos empréstimos à habitação, como é possível encenar tanta farsa e hipocrisia? Assume-se agora que tudo o que foi pensado e feito ao longo destes anos, não foi para ajudar os portugueses? Considera-se que "agora é que é" a sério. Com orçamentos de estado de faz de conta, vamos iniciar 2009 em clima político de pré-campanha eleitoral, em que agora até os 3% do deficit público já nada importam. Com as trapalhadas habituais mascaradas pelas excelentes agências de comunicação que tudo esmagam em termos de comunicação social, chega para completar o ramalhete o inenarrável Pedro Santana Lopes, figura apenas consumível politicamente neste país.

Politicamente 2009 não augura nada de bom. Em cima das políticas de trapalhadas, temos ainda o regresso à luz potente dos holofotes desta figura que Manuela Ferreira Leite não teve a coragem política de vetar para a candidatura autárquica a Lisboa.

sábado, dezembro 20, 2008

Sérgio Godinho a abrir as sextas

As iniciativas culturais e desportivas carecem de ritualidade para integrarem a vida das comunidades. As sextas culturais de Águeda promovidas pela nossa autarquia e pensadas e dirigidas artisticamente pela D'Orfeu, aí estão com a qualidade de um bom cartaz. E para abrir o programa nada mais nada menos que o espectáculo dia 9 de Janeiro no Cine-Teatro S.Pedro com Sérgio Godinho (http://www.myspace.com/sergiogodinhooficial) um "camaleão" musical que desde os anos 70 do século passado engrossa a nossa colecção musical de vinil e agora a de CD. Sérgio Godinho cantou publicamente em Águeda pela primeira vez no ano de 1975 (?) num canto livre no ginásio masculino da actual Escola Secundária Marques de Castilho. Diziam as más línguas da época que apenas aceitou participar se a iniciativa fosse apartidária. Lembro-me que foi um dos últimos dos cantautores portugueses nesses anos de brasa, a cantar em Águeda. Já Zeca Afonso, Fausto, Vitorino, Carlos Paredes e Adriano Correia de Oliveira o tinham feito. Sérgio Godinho foi o cantautor mais difícil de ouvir em Águeda. Nessa época tivemos o privilégio de ouvir Adriano Correia de Oliveira e as suas belíssimas canções inúmeras vezes. Quase que a caminho de Avintes, Adriano Correia de Oliveira à sexta-feira cantava em Águeda, tantas foram as suas actuações em Águeda...
Em 1975 (?) para mim foi a primeira vez de Sérgio Godinho, ainda sózinho com a sua guitarra e as canções da época como "Saltimbancos", "Que força é essa?", "Charlatão" e do albúm Pré Histórias como a famosíssima "Barnabé", "O Homem dos sete instrumentos", "Porto, Porto", "A noite passada" ou "Aprendi a amar". Um Sérgio Godinho que teve a inteligência, o saber e a mestria de fazer uma carreira musical de qualidade ao longo dos tempos, quanto a mim, ancorada na descoberta de novos valores ao nível da orquestração musical que lhe garantiram espaço e público constante ao longo das várias gerações sonoras. Com canções que se tornaram verdadeiros hinos de gerações - "Etelvina", "O Grande Capital", "Com um brilhozinho nos olhos" e tantas outras ...- Sérgio Godinho foi capaz de atravessar a etiqueta de cantautor ou baladeiro do 25 de Abril a partir da qualidade musical e poética das suas canções, hoje objecto de admiração e culto por parte das novas gerações de grupos musicais. Sérgio Godinho sempre soube "enroupar" as suas criações com a sonoridade mais próxima da actualidade, sem prescindir da mensagem que pretendia transmitir nas suas letras ou da inovação da sua escrita musical. Só assim se explica a qualidade e longevidade da sua carreira musical.
Outra questão é a sua performance em palco. Sérgio Godinho tem aquilo que poderemos chamar "quilómetros de palco". Mas só isso é pouco para explicar a sua presença, energia e forma de envolver os públicos nas suas canções. Público que muitas das vezes vai aos concertos para cantar as suas canções.

Sérgio Godinho a abrir as sextas culturais para além de uma boa notícia, é um bom sinal.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Os padeiros versus Galp

A Autoridade da Concorrência acusa a Associação dos Industriais de Panificação de Lisboa (AIPL) de “impedir, restringir ou falsear a concorrência” no sector da panificação, incorrendo a associação no pagamento de uma coima de 1,18 milhões de euros.Em comunicado, divulgado hoje no seu site, o regulador concluiu que entre 2002 e 2005 a AIPL criou um “sistema de trocou informações sobre preços de venda de pão ao público com as suas [empresas] associadas”, com o intuito de “fixar, de forma directa e indirecta, os preços de compra ou de venda, ou interferir na sua determinação pelo livre jogo do mercado”. Este tipo de práticas coincide com a designação de cartel, que é a formação de preços iguais entre várias entidades que supostamente deviam concorrer entre si, através do preço dos produtos intermédios ou de venda ao público.A Autoridade da Concorrência, presidida por Manuel Sebastião, identificou, após denúncia, 14 empresas que adoptaram este tipo de prática durante o período de quatro anos e que envolveu um montante de 17,7 milhões de euros. O regulador adianta ainda que a AIPL “induziu, artificialmente, quer a alta, quer a baixa [dos preços do pão]”.Recorrendo aos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o regulador identificou ainda que entre 2002 e 2005 o pão registou “o maior aumento de preços” entre a classe dos Produtos Alimentares e Bebidas não Alcoólicas, facto que fortalece ainda mais a convicção da prática de combinação de preços no sector do pão entre este grupo de 14 empresas.A multa aplicada pela Concorrência corresponde a dez por cento do volume de negócios agregado anual das empresas que participaram na prática de preços combinados, que é proibido por lei, lembra ainda o mesmo comunicado.


Dá vontade de rir. Para lá da justeza e razão da posição, que acreditamos poder ter fundamento. Chamou-nos a atenção como neste país um regulador (figura-mor da defunta onda neo-liberal) é tão lesto a punir os padeiros e tão lento a controlar o regabofe que foi e ainda é a determinação do preço da gasolina e gasóleo pelas empresas petrolíferas. Durante meses, anos, os preços da gasolina e gasóleo ao consumidor foi uma mina escandalosa, bem expressa nos milhões de euros jamais alcançados nos lucros dessas empresas. É sempre mais fácil punir os pequenos, do que se meter com os grandes, desta forma vindo a evidenciar como estes organimos com funções de polícias de mercados económicos possuem sempre dois pesos e duas medidas e usurpam funções sociais do Estado que esse sim deve actuar em nome do interesse público. A comercialização de bens como a gasolina ou o pão, não são um jogo que carece de um árbitro (pretensamente) especializado e pago a peso de ouro. Mais uma no país do faz de conta....

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Alçada Batista - a morte de um sábio

Morreu o escritor Alçada Batista (http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Al%C3%A7ada_Baptista).
Autor de uma obra não muito extensa, (1971 - Peregrinação Interior I - Reflexões sobre Deus
1973 - O Tempo das Palavras; 1973 - Conversas com Marcello Caetano;1982 - Peregrinação Interior II - O Anjo da Esperança; 1985 - Os Nós e os Laços (romance); 1988 - Catarina ou a Sabor a Maçã; 1989 - Tia Suzana, Meu Amor (romance); 1994 - O Riso de Deus (romance)
1998 - A Pesca À Linha, Algumas Memórias; 2003 - A Cor dos Dias.

Apenas o descobri com livros como O nós e os Laços, Tia Suzana. meu amor e O Riso de Deus. Para mim a sua literatura irradiava sabedoria e um não sei quê de uma mística das relações pessoais que nem todos conseguem transpor para o papel. Alçada Batista com a riqueza e simplicidade da sua escrita constrói uma literatura carregada de afectos, sem pieguices e com uma enorme profundidade humana, só passíveis de serem escritos por alguém de bem com a vida. O seu ar de idoso calmo e sabedor sobre todas as coisas da vida, eram reforçadas pela tranquilidade das suas falas e dos seus escritos diversos. Perdemos (mais uma) uma voz do bom-senso e da visão humanista da vida.

domingo, dezembro 07, 2008

Também Lisboa

Mobilidade: Câmara de Lisboa investe cinco milhões de euros para pôr munícipes a pedalar
Lisboa.

A Câmara de Lisboa vai investir, nos próximos anos, cinco milhões de euros para criar 40 quilómetros de novas vias cicláveis e recuperar outras já existentes, anunciou hoje o presidente da autarquia. O projecto, apresentado na data em que se celebra o Dia Europeu Sem Carros, compreende um conjunto de iniciativas entre as quais um protocolo hoje assinado com a Administração do Porto de Lisboa (APL) para desenvolver uma pista ciclável com sete quilómetros, entre Belém e o Cais do Sodré, a inaugurar no próximo dia 05 de Junho de 2009.
O presidente da câmara, António Costa, salientou que parte da verba necessária (1,7 milhões de euros) deverá ser obtida através de fundos comunitários, no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN). A pista ciclável na frente ribeirinha vai ser feita em parceria com a APL e deve mobilizar igualmente patrocínios privados, acrescentou o autarca.
"O porto é essencial à economia da cidade de Lisboa. Lisboa nasceu e existe porque tem este porto, mas ao longo destes 19 quilómetros é possível compatibilizar os diferentes usos da frente ribeirinha", afirmou, à margem da apresentação das novas vias cicláveis.
Depois deste primeiro troço, a pista vai ligar o Cais do Sodré a Santa Apolónia e, mais tarde, vai chegar até ao Parque das Nações. A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, sublinhou igualmente a importância do protocolo assinado entre a autarquia e a administração portuária, que "vai permitir o acesso a certos troços até agora interditos à fruição pública", melhorando o bem estar e a qualidade de vida dos cidadãos.
"Ao criar uma infra-estrutira ciclável contínua, dedicada e segura estamos a contribuir para a promoção da utilização da bicicleta como paradigma de um novo tipo de mobilidade mais sustentável", frisou a governante.
O plano de mobilidade da câmara de Lisboa prevê ainda a instalação de uma rede de 2500 bicicletas de uso partilhado, devendo as primeiras mil estar disponíveis em 2009 e as restantes até 2012, segundo o programa apresentada pelo vereador com o pelouro da mobilidade e vice-presidente da câmara, Marcos Perestrello.
O concurso público internacional vai ser apresentado quarta-feira na reunião de câmara e prevê que os operadores cumpram vários critérios, entre os quais garantir um tempo inicial de utilização gratuita de 20 minutos aos utilizadores que tenham adquirido um passe anual, a associação ao cartão Lisboa Viva e um horário mínimo de funcionamento entre as 06:00 e as 01:00.
O vereador com o pelouro dos espaços verdes, José Sá Fernandes, adiantou que, somando as novas pistas e as que serão recuperadas, Lisboa terá um total de quase 80 quilómetros de ciclovias.
Além dos 250 postos disponíveis para as bicicletas da rede de uso partilhado que vão ser criados mais 65 estacionamentos (http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=364310&visual=26&rss=0)
Para incentivar os utilizadores e "para as pessoas sentirem mais confiança", o município vai ainda lançar cursos para aprender a andar de bicicleta em meio urbano em colaboração com a Federação Portuguesa de Cicloturismo, acrescentou o autarca.


Não discutindo as dimensões políticas nas suas vertentes económico-financeiras, no actual contexto da autarquia lisboeta, a ideia como exemplo nacional deve ser relevado. O facto de Lisboa assumir uma política de promoção da bicicleta na mobilidade urbana, pode ser um incentivo para outras autarquias, pela visibilidade mediática de tal iniciativa no país. Para lá da moda das bikes, Lisboa poderá ser um exemplo da adaptabilidade do uso das bicicletas numa cidade dita pouco favorável para o seu uso, por ser "a cidade das sete colinas".
Vamos aguardar a multiplicação sustentada destas políticas e ajudar às alterações de padrões de atitudes e comportamentos dos cidadãos.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

French music

Uma enorme canção francesa, refrescada numa nova interpretação de StephanieValentin.