A ver passar os comboios...
Hoje de manhã, parado no meio do tradicional engarrafamento das 9 horas em Aveiro, pus-me a pensar como seria bom ter um metro de superfície (com todo o conforto e frequência que a coisa exige) que me pudesse transformar num verdadeiro "commuter" Águeda-Aveiro-Águeda. Goradas as expectativas de 'desengarrafamento', estendi a reflexão e dei comigo a pensar na falência técnica da CP. Falência técnica? Apesar de não ser contabilista nem economista, uma empresa entra em falencia técnica quando, mais coisa menos coisa, não consegue cobrir as suas dívidas com o valor contabilístico dos activos. Cinco metros mais à frente... a CP não é uma empresa pública que existe, como a sua designação indica, para prestar um serviço público? Sim, pensei... logo, o Estado deveria assegurar a resolução do problema, o mesmo Estado que paga compensações financeiras a empresas privadas pelo serviço público que estas prestam (como é o caso da Fertagus que assegura a ligação ferroviária entre as duas margens do Tejo).
Mais cinco metros, e já com a rotunda do Hospital à vista... lembrei-me de um episódio ocorrido há uns tempos numa das minhas deambulações pela gélida Escandinávia. Estava num daqueles retiros que por vezes uns académicos arranjam a outras académicos para contemplar o Mundo, ou seja, no meio de nenhures, rodeado de neve e floresta por todos os lados, e, da janela do meu quarto, via, todos os dias, quatro vezes ao dia, duas na direcção de Ostersund, outras duas na direcção da fronteira Suécia/Noruega, um comboio a passar. Na maior parte das vezes... quase vazio, o que não admira numa região em relação à qual o Alentejo tem um densidade populacional extremente elevada. Será que a SJ (a CP sueca) já entrou em falência técnica? Só pode... a não ser que para os suecos seja mais importante prestar o tal serviço público do que assegurar a auto-sustentabilidade da SJ (já agora, para mim boa gestão pública não é assegurar auto-sustentabilidade, é gerir da melhor forma possível os recursos públicos que permitem prestar serviços públicos dignos.
A partir da rotunda, o trânsito desanuviou, a velocidade aumentou e... TGV. Um país que tem a sua transportadora ferroviária em falência técnica vai construir uma linha de TGV entre o Porto e Lisboa? 330 km? Deixem-me voltar às gélidas paragens: a Finlândia, o país mais competitivo do Mundo em 2004, com as contas nacionais todas em dia, tem cidades social e economicamente pujantes a mais de 900 km de Helsinquia, a capital (Oulu , por exemplo, a 620 km, é um dos grandes centros de I&D da Nokia). O tráfego ferroviário de passageiros é intenso e os comboios existentes (tipo pendolino) confortáveis e pontuais. Falem no TGV a um finlandês e a resposta mais certa é "Mikä?", ou seja "o que é isso?".
Estacionei o carro... ainda não consegui perceber como é que Aveiro, Águeda e outros municípios da região não agarraram com unhas e dentes o projecto do metro de superficie...
CR
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