Em trânsito...
Finalmente “assentei”… depois de nos últimos dois meses ter transformado a minha casa numa espécie de “transfer centre” de um qualquer aeroporto servindo de ligação entre Bilbao e Bruxelas, Bruxelas e Londres, Londres e Cardiff, Cardiff e Bilbao, etc.. Nas várias vezes que estive em trânsito no sofá da minha sala, fui pondo em dia a literatura jornalística. O Expresso dava conta de um colega universitário, “que dá aulas nos quatro cantos do mundo a pessoas que pagam os cursos a peso de ouro” (sic), a defender que em Portugal se devia pagar um valor muito mais alto pelas propinas: “Se não pagam nada, não exigem nada. Ora eu gosto muito de alunos que exigem. Aumenta a qualidade”. Sim senhor… a solução é então transformar os estudantes universitários em clientes e a Universidade numa organização de prestação de serviços que deverá assegurar a sua qualidade para não correr o risco de receber uma carta da DECO. É por estas e por outras que se escrevem livros com títulos como “A Universidade em Ruínas”, “A MacDonaldização da Universidade”, etc., curiosamente (ou não) escritos em geral por autores americanos.
Na semana seguinte a saga sobre o ensino superior continuou. O mesmo semanário citava o vice-presidente da União Europeia: “O que é preciso é pôr mais ênfase na excelência”. Excelência de quê? Do conhecimento científico produzido e disseminado ou da produtividade económica da investigação? David Harvey, um americano, conta uma história: “[…] when my own department was rumoured to be ‘in trouble’ with the dean […] we prepared voluminous documentation to prove how [academically] excellent we were. The dean said that he had never questioned our excellence but was interested in only one thing, and it was ‘colored green’. We were not, apparently, earning enough of it to justify our existence”.
Uns dias mais tarde, li a crónica do colega Edmundo Fonseca publicado no Litoral Centro e intitulada “Os fariseus da educação”. Gostei. Principalmente depois de ler que o Aníbal anda a apelar para que deixem trabalhar a Maria de Lurdes, apelo que não deixa de encerrar um paradoxo, uma vez que a Maria tende a trabalhar sozinha sem dar “cavaco” a ninguém.
Já depois de ter “assentado”, num dos curtos intervalos televisivos que medeiam a intensa cobertura do Mundial e de eventos relacionados tão interessantes como a blusa creme às bolinhas que a mulher do Beckham comprou em Baden-Baden, vi o nosso premier entusiasmado com o novo serviço dos CTT, o correio digital. O entusiasmo justificava-se, uma vez que, segundo o Zé, estratos sociais que nunca antes tinham entrado nas TICs tinham agora uma oportunidade flagrante para o fazer. Debilitado pela estóica vitória sobre a Holanda, até eu fiquei entusiasmado. Pena foi que logo a seguir à notícia do correio digital dos CTT, a menina da TV (deliciada, diga-se) deu conta de que em três freguesias do concelho de Nelas o correio (normal) é distribuído por apenas um carteiro, que, no seu motociclo, faz nada mais nada menos do que 120 km por dia (!) para cumprir a sua tarefa.
Será que é este cantinho à beira-mar plantado que está em trânsito e que se perdeu num qualquer labirinto do “transfer centre”?
Na semana seguinte a saga sobre o ensino superior continuou. O mesmo semanário citava o vice-presidente da União Europeia: “O que é preciso é pôr mais ênfase na excelência”. Excelência de quê? Do conhecimento científico produzido e disseminado ou da produtividade económica da investigação? David Harvey, um americano, conta uma história: “[…] when my own department was rumoured to be ‘in trouble’ with the dean […] we prepared voluminous documentation to prove how [academically] excellent we were. The dean said that he had never questioned our excellence but was interested in only one thing, and it was ‘colored green’. We were not, apparently, earning enough of it to justify our existence”.
Uns dias mais tarde, li a crónica do colega Edmundo Fonseca publicado no Litoral Centro e intitulada “Os fariseus da educação”. Gostei. Principalmente depois de ler que o Aníbal anda a apelar para que deixem trabalhar a Maria de Lurdes, apelo que não deixa de encerrar um paradoxo, uma vez que a Maria tende a trabalhar sozinha sem dar “cavaco” a ninguém.
Já depois de ter “assentado”, num dos curtos intervalos televisivos que medeiam a intensa cobertura do Mundial e de eventos relacionados tão interessantes como a blusa creme às bolinhas que a mulher do Beckham comprou em Baden-Baden, vi o nosso premier entusiasmado com o novo serviço dos CTT, o correio digital. O entusiasmo justificava-se, uma vez que, segundo o Zé, estratos sociais que nunca antes tinham entrado nas TICs tinham agora uma oportunidade flagrante para o fazer. Debilitado pela estóica vitória sobre a Holanda, até eu fiquei entusiasmado. Pena foi que logo a seguir à notícia do correio digital dos CTT, a menina da TV (deliciada, diga-se) deu conta de que em três freguesias do concelho de Nelas o correio (normal) é distribuído por apenas um carteiro, que, no seu motociclo, faz nada mais nada menos do que 120 km por dia (!) para cumprir a sua tarefa.
Será que é este cantinho à beira-mar plantado que está em trânsito e que se perdeu num qualquer labirinto do “transfer centre”?
1 comentário:
Caro Carlos R
Bem vindo...
Post bem "caçado".
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