segunda-feira, outubro 16, 2006

A salvação da Pátria...

Nada vai ser como dantes! Uma economia pujante e competitiva (que se cuidem os melhores...); uma estrutura produtiva que faz jus à economia do conhecimento; uma universidade de excelência (não só no ensino como no seu relacionamento com as empresas)... enfim, um país totalmente novo, uma espécie de Finlândia do Sul da Europa. O que terá acontecido neste cantinho à beira-mar plantado para que esta mensagem tenha entrado de rompante pelos nossos lares, doces lares, dentro? O Alberto João demitiu-se? Em vez de elevarem Canas de Senhorim a concelho, os nossos políticos decidiram agrupar municípios de dimensão ridícula? Um efeito borboleta relacionado com as pedradas atiradas aos funcionários do Ministério do Ambiente? Nada disso... foi assinado um acordo entre o Estado português e o Massachussets Institute of Technology (MIT). É a panaceia para todos os problemas que nos afligem, pelo menos segundo os mensageiros e, particularmente, o seu chefe, leia-se o nosso premier José.
A 'filosofia' do MIT, prestigiado estabelecimento de ensino norte-americano, ao ser transposta para (algumas) universidades portuguesas parece ir ter como resultado (automático, diga-se), uma revolução nas suas estruturas de gestão, métodos de ensino e de investigação, ligação ao muindo exterior, etc.. Empreendorismo (de alta tecnologia, seja lá o que isso for) é a palavra chave. Indivíduos empreendedores, universidades empreendedoras... trata-se afinal de romper abruptamente com uma tradição (de séculos nalguns casos).
Paralelamente, anuncia-se com pompa e circunstância, um aumento (o único!) de 64% no orçamento da Ciência para 2007. 64%! Caramba! Como o José disse, e bem, 'nenhum outro país da Europa o fez até agora'. Somos pioneiros! Produção científica 'a dar com pau' para alimentar empresas sedentas de novo conhecimento para incorporarem nas suas estratégias de competição global (diria o Valentim: venham elas, onde estão, quantas são?).
Agora é que vai ser! Ressuscitámos o chamado modelo linear de inovação, um modelo muito em voga nos anos 60 e que hoje é quase unanimente considerado como obsoleto! Segundo este modelo, basta investir fortemente na ciência para que se desenvolva toda uma cadeia ao longo da qual novos produtos e novos processos de produção ficam disponíveis no mercado. Coisas como o nível de qualificação dos portugueses, a qualidade da justiça e da administração pública, a qualidade de vida nas nossas zonas urbanas e rurais deixam de interessar.
Espero que o futuro não reflicta as minhas dúvidas quanto à eficácia da estratégia milagrosa que nos é agora apresentada. Gostava de não ter razão. Mas... note-se, por exemplo, que enquanto se assinam acordos com o MIT, asfixiam-se financeiramente as universidades portuguesas (sem dinheiro para cobrir as suas despesas de funcionamento básicas), para ao mesmo tempo exigir excelência, exigir a adaptação (mais ou menos em 'cima do joelho') a Bolonha (o que parece exigir mais recursos, nomeadamente humanos). Poderemos estar optimistas?

2 comentários:

Unknown disse...

Bom regresso.
Efectivamente o país está "mitado". Eu mito, tu mitas ele mita. Esta visão linear e redutora das parcerias entre algumas universidades e o "Sol" do conhecimento e da inovação ...pode levar à cegueira na investigação em geral. Esperemos que a totalidade dos ovos da FCT não sejam colocados no cesto do MIT.

José Manuel Dias disse...

Sempre gostava de saber como é que os profs universitários são avaliadas e como progridem na respectiva carreira...É que ouvi dizer que a "qualidade das aulas que ministram" e " atenção dada aos alunos e à resolução das suas dificuldades" não é sequer considerada...
Abraço