Até na morte ...
A morte é sagrada. Falar da morte, descrever a morte, contabilizar a morte tem um sentido humano imbuído de respeito. Aconteça ela em que circunstâncias seja, a morte é sempre o fim. O fim carregado de tristeza para todos. A vivência de sentimentos pesados e dolorosos. A morte não é somente uma vivência individual e subjectiva. Todos colectivamente lamentamos a morte mesmo daqueles que não conhecemos. Se ela surge de forma brutal, resultante de acidentes rodoviários, choca-nos mais. Sem discutir a qualidade das nossas rodovias ou a segurança e forma de condução típica dos portugueses, a realidade impõe-se. Em Portugal morre-se demasiado na estrada. Mas, agora ... fazer "mais um número" político à custa das mortes das pessoas nos acidentes rodoviários em Portugal e pretender com isso ser galardoado pelas suas pretensas políticas de segurança rodoviária, não imaginava poder ainda observar. Se já estamos habituados "à política do show-off" nas freguesias, nos municípios que tudo propagandeiam e na acção dos vários ministérios, fazê-lo em compicta com os nossos parceiros europeus tem mais riscos. O da chacota e humilhação internacional...
Alguém se lembraria de adulterar critérios de definição da morte resultante de um acidente rodoviário, tendo em vista "apresentar serviço"? A visão tecnocrática das coisas e da vida, não justificam tais situações.
Destaque Expresso
Estatísticas de Segurança Rodoviária
Federação Europeia quer tirar prémio a Portugal
O ministro Mário Lino recebeu em Junho um prémio da Comissão Europeia pelo sucesso do país no combate à sinistralidade, mas hoje chegou à União Europeia uma denúncia que acusa o Governo de mentir nas estatísticas.
Diversas organizações discordam das estatísticas referentes ao número de mortos em acidentes de viação em Portugal e queixaram-se a Bruxelas. A Federação Europeia de Vítimas Rodoviárias, que congrega as maiores associações da Europa de combate à sinistralidade, enviou uma carta ao comissário Europeu dos Transportes a pedir que retire a Portugal o prémio atribuído pelo sucesso nas políticas de segurança rodoviária.
Este prémio foi entregue em Junho ao ministro dos Transportes e Obras Públicas, Mário Lino.
A Federação apresenta vários motivos para provar que Portugal não merece esta distinção. Um deles prende-se com o facto de o nosso país ser "o único da Europa ocidental que ainda contabiliza apenas as pessoas que morrem nas primeiras 24 horas após o acidente", deixando de fora os óbitos nos 30 dias seguintes, que são contados também por todos os outros países. A organização apresenta as conclusões de vários estudos feitos em Portugal por entidades oficiais, como a PSP ou o Instituto de Medicina Legal, para provar que se fossem contabilizadas nas estatíticas as mortes até 30 dias, os números da mortalidade seriam muito superiores. Em Lisboa, por exemplo, 72% dos feridos graves morreram no hospital. A nível nacional o valor é de 40%.
Escrevem ainda que há casos em que, como os delegados de saúde demoram muito tempo a chegar aos locais dos acidentes para declarar os óbitos, as equipas de emergência levam as vítimas já cadáveres para o hospital, não as contabilizando, no entanto, nas estatísticas como mortos. in EXPRESSO 17.10.08
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