sábado, janeiro 31, 2009

OCDE, o relatório e a política

“Há muitas décadas que leio relatórios da OCDE sobre Educação e eu nunca vi uma avaliação sobre um período da nossa democracia com tantos elogios” José Sócrates, 26 de Janeiro de 2009 ““Eu nunca disse que o relatório é da OCDE” José Sócrates, 28 de Janeiro de 2009.


O relatório encomendado pelo Ministério da Educação a um conjunto de técnico internacionais, (http://www.min-edu.pt/np3content/?newsId=3170&fileName=bilingue_GEPE_portugues_final.pdf)foi apresentado na última segunda-feira com pompa e circunstância pelo primeiro-ministro José Sócrates. Centrado sobre as questões do 1º Ciclo do Ensino Básico, que nos últimos anos lectivos transformaram a vida destas escolas - Actividades de Enriquecimento Curricular, Formação específica de professores (Português, Matemática e Ciências) - da sua leitura resulta uma imagem de um documento demasiado laudatório e (para quem está habituado a ler este tipo de documentos) impossível de ser assumido por um organismo como a OCDE. O conteúdo do relatório versa sobre matérias educativas, que do nosso ponto de vista, em geral e tecnicamente, até são positivas para as aprendizagens dos alunos e a qualidade da escola do 1º CEB, no entanto a forma e o tom com que são descritos e avaliados o que é avaliado, fazem do relatório um documento pouco sério e a "cheirar a encomenda". Porque, efectivamente tropeçar num contínuo de adjectivação balofa - "Este centro, que tem evoluído ao longo dos anos, fornece um modelo admirável para outros centros e promove um caso eficaz para recursos e poderes de gestão delegados" (p. 29) ou ainda " A nova rede escolar e o sistema dos agrupamentos de escolas foram alcançados com grande sucesso e forneceram a solução para uma série de problemas" (p.32) - para referenciar práticas educativas, procurando jogar numa lógica de estímulo-resposta, só pode ser feito com intuitos desfasados daquilo que é a complexidade da mudanças nas escolas. Pretender dizer que a acção A, realizada hoje provocou o efeito B, passado pouco tempo, não é intelectualmente sério no contexto do estudo e análise das transformações educativas.

Como medidas interessantes e importantes para a escola do 1º CEB - generalização do ensino do inglês, actividades físicas e desportivas, ensino da música, apoio ao estudo, refeições, formação de professores, reorganização da rede escolar - um qualquer relatório teria que evidenciar o evoluir da situação e seriamente não "embandeirar em arco" sobre dimensões da mudança por vezes e em alguns contextos polémica (rede escolar, refeições) ou com impacto ainda não observável do ponto de vista da mudança educativa. Ler frases como "A partir de uma perspectiva global da reorganização do primeiro ciclo do ensino básico, consideramos que as metas alcançadas nos últimos três anos são notáveis" (p.55) não nos parece adequado a um relatório que se centra em dimensões da mudança ainda em curso, com problemas não resolvidos, com soluções ainda "atamancadas" e sem conseguir mobilizar e ganhar todos os professores, pais e alunos.

No meio disto tudo podemos concluir que este documento serviu para dar corpo a mais uma campanha de marketing, com a questão "é da OCDE, não é da OCDE, inspirado na metodologia da OCDE" a evidenciar negativamente como hoje se faz política em Portugal.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

O Ministro, o Secretário e o Mundial


O Ministro das Finanças afirmou publicamente que a organização do Mundial de Futebol em 2018 em conjunto com a Espanha, não se constitui como uma prioridade do país. Com a exposição mediática do fenómeno Futebol, tais afirmações, revelaram-se de "lesa pátria", mas o que objectivamente importa é haver alguém que faça imperar o bom senso. Num momento de gravíssima crise nacional e mundial, com o espectro de desemprego a preocupar tudo e todos, colocar na agenda das nossas preocupações a organização de um Mundial de Futebol, não parece de bom tom. Isto, mesmo que o "estafado" argumento de que os estádios já aí estão às moscas e de que é preciso dar-lhes rentabilidade. Como se um Mundial de Futebol se circunscrevesse a uma lógica de haver balizas, relva e bancadas...
Obviamente que o ministro que assim fala, pertence ao mesmo governo que deu luz verde para o assumir da candidatura conjunta com Espanha avançar e inclusivé fazer parte da agenda política da próxima cimeira ibérica.

O Futebol e o Desporto em geral têm a ganhar quando deixarem de ser vistos pela excepcionalidade das organizações europeias ou mundiais, mas antes pela efectividade da sua prática pelos cidadãos portugueses. Estamos fartos de estádios megalómonos, verdadeiros templos de contemplação desportiva, contra o desenvolvimento sustentado de políticas de promoção das práticas desportivas por todos. Cristiano Ronaldo é fantástco, mas o futebol também pode servir para muitos cidadãos serem mais activos envolvendo-se em práticas desportivas regulares.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Águeda - Selecção Municipal de Futebol

Existem as selecções nacionais, as selecções por género (ainda masculino/feminino), as selecções distritais, as selecções por categorias ou etárias dividias por modalidades desportivas. Agora em Águeda temos as selecções municipais de futebol para os mais jovens, com quotas por clubes. Uma espécie de selecções desportivas "politicamente correctas". Esta iniciativa da Câmara Municipal de Águeda, é justificada através do facto de
"Esta Selecção Municipal vai envolver atletas de todos os clubes do Município inscritos oficialmente em provas dos respectivos escalões. Para a Câmara Municipal de Águeda é uma actividade que constitui uma forte motivação para os atletas e para os clubes. Assim como, pode proporcionar novos contactos , novas experiências competitivas e sociais dos jovens do Município de Águeda envolvidos.
Cada selecção do Município será formada por um grupo final de 20 a 22 atletas efectivos. A selecção dos atletas tem como critérios centrais as qualidades futebolísticas, o rendimento desportivo e o comportamento social dos mesmos. O processo de selecção teve em conta a opinião dos treinadores dos clubes e estará sempre aberto a sugestões dos mesmos.
Em sub-17, o número de convocados por clube deverá ser: 4 a 7 se participar na I divisão distrital; 1 a 4 se participar na II divisão distrital. Em sub-15, o número de convocados por clube deverá ser: 4 a 9 se participar na I divisão distrital; 1 a 5 se participar na II divisão distrital. http://www.cm-agueda.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=27652&noticiaId=37873&pastaNoticiasReqId=35276.
Acontece que esta iniciativa, não parece integrar-se em nada. Seria quase um lugar comum, ligar esta actividade a estarmos num ano de eleições, mas não vamos por aí. Mobilizando jovens que já estão ganhos para a prática desportiva. Envolvendos clubes que já têm as suas actividades programadas. Investindo recursos humanos e materiais numa só actividade desportiva (o Futebol). Dinamizando torneios competitivos envolvendo só rapazes de 15 e 17 anos.
Não seria mais lógico, natural e rentável, reforçar o apoio a diferentes práticas nos seus contextos desportivos próprios? Apoiando com mais meios os clubes e colectividades desportivas do concelho? Apoiando e fomentando o desporto escolar por todas as escolas do 2/3º Ciclo e Secundárias do concelho? Mobilizando organizadamente práticas competitivas e não competitivas entre as estruturas desportivas (federadas, não federadas, escolares, etc.)que já existem, funcionam e carecem de apoios?
Que razões e motivos se escondem perante a constituição de duas selecções municipais de futebol, que irão disputar dois torneios ao longo do ano, ao mesmo tempo que integradas em competições desportivas federadas assumem os seus normais compromissos?
Não se conhecendo um projecto de desenvolvimento desportivo para Águeda, estaremos perante mais uma acção isolada, sem continuidade e/ou fundamento real numa lógica sustentada de desenvolvimento.
Considerará a nossa autarquia de que a carga de treino nos respectivos clubes é insuficiente?
Ficava mais barato pagar cursos de actualização de treinadores...

Sextas Culturais


Após a lotação esgotada e o excelente concerto de Sérgio Godinho e os Assessores, as Sextas Culturais vão continuar com nomes mais e menos conhecidos, porque a programação cultural não é fazer o óbvio ou apresentar o som ou o espectáculo da moda. Nesse sentido, as Sextas Culturais possuem essas propriedades de nos fazerem chegar diferentes propostas musicais e não só, alternando o mais mediaticamente difundido, com o de circulação mais restrita (ainda!). http://www.youtube.com/watch?v=A6PXn02l-5I

13 Fevereiro, 21h30 - Couple Coffee
13 Março, 21h45 - Rodrigo Leão
10 Abril, 21h45 - TGB8 Maio
8 Maio 22h00 - Luar na Lubre
12 Junho, 22h00 - A Verdadeira Treta

Á porta fechada

A propósito da audição parlamentar do banqueiro Oliveira e Costa e não pretendendo, analisar ou discutir o caso BPN-BP-Intervenção do Governo, importa no entanto salientar "pormenores". E um desses é este fantástico hábito de as Comissões Parlamentares da nossa Assembleia da República funcionarem à porta fechada e com juramentos de silêncio à mistura. Mas as ditas Comissões não possuem como finalidade, ouvir, esclarecer, clarificar, desocultar informação, tornar tudo mais transparente? Não seria de todo o interesse pautarem a sua acção pela maior abertura e transparência? Parece que não, pois os dois partidos do centrão (PS e PSD) votaram contra o facto da Comissão ser aberta. Este é um claro indicador de que nem tudo se pode saber, ou que então a informação só deve circular de forma restrita num certo nível da nossa elite política. Podem muitas vezes não estar em causa segredos de estado, segredos de justiça ou outras questões, mas aqui relevamos a questão do princípio de abertura e transparência que deveria caracterizar a actividade destas comissões perante os cidadãos. Estamos certos que tal seria um pequeno contributo para a melhor imagem da nossa Assembleia da República.


Lá dentro esperavam-no deputados, assessores dos grupos parlamentares e os seus dois advogados, Leonel Gaspar e Adriano Ramos de Paiva. Antes da chegada de Oliveira e Costa, os deputados do PS e do PSD decidiram que a audiência seria à porta fechada. PCP, PEV e BE votaram contra e o CDS absteve-se. Logo a seguir, Maria de Belém, presidente da Comissão de Inquérito, obrigou os assessores parlamentares a fazerem um juramento de silêncio. in Correiro Manhã de 14.1.09.


Assim se qualifica e torna transparente a nossa democracia,

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Rua de Baixo - nasce um novo partido?

(Águeda, 1974 - eu vi Águeda levar MA ao colo - foto "emprestada" de www.manuelalegre.com)


As divergências públicas do nosso conterrâneo Manuel Alegre (MA), notável militante socialista, com José Sócrates e as medidas políticas do seu governo, têm-no colocado em destaque mediático sobre as possibilidades de se poder afastar do PS, fundar um novo partido político ou aproximar-se de movimentos cívicos (Helena Roseta) ou partidos já existentes (Bloco de Esquerda).
A natureza das divergênias políticas expressas por MA relativamente a vários tópicos das políticas governativas, coincidem sob muitos pontos de vista, com os da maioria dos partidos políticos e os cidadãos que não se revêem nesta forma e neste conteúdo da falida política que saltou da paixão neo-liberal, para a política do bombeiro caritativo-social em nome da crise económico-financeira instalada.
Mas que pode fazer MA com todos aqueles votos que estiveram com ele nas presidenciais? Que destino político dar a todos aqueles que hoje não se revêem na lógica partidária dos interesses de grupos e na demagogia mediaticamente bombardeada? Que espaço existe hoje na sociedade, aqueles que se revêem nas ideias inovadoras e nos princípios estruturantes de cidadania e participação e transparência defendidas pelo nosso conterrâneo da Rua de Baixo? Pode MA ser o político que transgride politicamente e salta a fronteira dos afectos que o prendem ao PS?

Até quando milhares de cidadãos militantes do PS, continuarão a caucionar políticas de que discordam? Até quando milhares calarão em nome da disciplina partidária, as suas consciências?
Por tudo isto, entendemos que MA não pode nem deve manter um silêncio que se aproxime das eleições, sob pena de hipotecar a coerência daquilo que simbolizou nas presidenciais e que possui um enorme potencial de requalificação da nossa democracia demasiado centrado nos interesses dos partidos do bloco central.
A ver vamos...

Chegou a chicana política ou a campanha autárquica já começou?

Na última assembleia municipal da "bila" o meu amigo José Vidal "prestou-se a um número" de duvidosa bondade politica.

Os membros da Assembleia Municipal de Águeda afectos ao PS requereram ao presidente da Câmara, Gil Nadais, que lhes facultasse vários dados relativos ao processo de construção do pavilhão e das piscinas na freguesia de Valongo do Vouga. in Região Águeda http://www.regiaodeagueda.com/ps-quer-saber-tudo-sobre-a-construcao-do-pavilhao-e-das-piscinas-em-valongo/

Formalmente solicitou ao executivo municipal os valores dos apoios financeiros à construção da piscina e pavilhão desportivo da responsabilidade da Junta de Freguesia de Valongo do Vouga. É claro que todos devemos tomar conhecimento de como se gasta e/ou investe o dinheiro público. Só que este pedido cheira a rábula ensaiada, fazendo resvalar o nível do debate político local, que se deseja direccionado para as questões essenciais do desenvolvimento do município.
Isto porque, a natureza, os quantitativos e sua razão de ser deveriam ter sido explicitados no momento próprio. Isto caso as nossas Assembleias Municipais, funcionassem como efectivos orgãos fiscalizadores da acção política dos executivos municipais e não como extensões trágico-cómicas da pequena política, demasiadas vezes bacoca e provinciana.

Se a próxima campanha eleitoral autárquica seguir estes caminhos, típicos da política ensinada na Universidade de Ciências Políticas de Travassô, quem fica a perder somos todos nós e Águeda em geral. É fundamental referenciar o debate político na transparência dos processos, na participação cívica dos cidadãos e na clareza das decisões de desenvolvimento estratégico.