terça-feira, março 31, 2009

Um prescrito país

O que é a prescrição? Perdoar socialmente? Desculpar por desfasamento temporal? Branquear selectivamente?
Há um país à beira de prescrever. Um país onde se alguém é esbofeteado na via pública, tem 15 minutos para apresentar a respectiva queixa. Depois, já não conta. Um país onde se alguém assalta um banco, tem de ser acusado rapidamente pois arrisca-se a prescrever a possibilidade de ser acusado. Um país onde o crime de colarinho branco, realizado ao ritmo do clic de um rato, prescreve 5 minutos depois. Um país onde a negligência médica, prescreve após a morte do doente. Um país onde não importa o quê, realizado quando, por um alguém, terá sempre a honrosa e digna possibilidade da prescrição eterna. Essa eterna e bondosa forma de "sermos um país de tipos porreiros, pá". Apetece-me relembrar a máxima do outro que defendia o fusilamento provisório... Um país em que as únicas coisas que nunca prescrevem são o desemprego, as desiguldades sociais e a corrupção.
Os crimes nazis realizados há mais de 50 anos, se tivessem sido cometidos neste país, já tinham prescrito três vezes...

sábado, março 28, 2009

José Mourinho, FMH e Doutoramento Honoris Causa


A Universidade Técnica de Lisboa (UTL) concedeu na 2ª feira o doutoramento honoris causa a José Mourinho, sob proposta da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) suportado no seu trabalho na área do Desporto de Alta Competição, nomeadamente no Futebol.
Acerca da validade da atribuição deste título académico a alguém da área do Desporto e com um percurso profissional ainda jovem, alguns sorrisos e comentários anónimos foram proferidos, encarando este acto como um sinal dos tempos. É inegável que a actividade profissional de José Mourinho é caracterizada por singularidades e particularidades que cruzadas com as características de personalidade lhe conferem notoriedade, rendimento e uma imagem de uma enorme capacidade de trabalho sustentada em bases científicas. Do que conheço do seu trabalho, considero que apesar de Mourinho nunca referir que era licenciado em Educação Física pelo ISEF de LIsboa ou mesmo que tinha sido aluno de Carlos Queiroz ou Jesualdo Ferreira (apesar de agora a nostalgia, fazê-lo recordar o facto) a natureza da sua intervenção profissional não seria a que é hoje, sem essa formação no seu percurso de vida. A actual FMH (antigo ISEF) revê-se na qualidade do trabalho de Mourinho na área do treino desportivo de Futebol e, obviamente retira partido da enorme exposição mediática do cidadão José Mourinho por essa Europa que quer saber tudo sobre o "Special One". Num mercado universitário cada vez mais concorrencial, é uma forma de promoção que ultrapassa as fronteiras do país. Do meu ponto de vista este tipo de doutoramentos não têm necessariamente que ser "doutoramentos de carreira" ou de reconhecimento de um percurso de vida. No entanto entendo que o percurso profissional de José Mourinho, imensamento polémico e irreverente convenhamos, ainda é curto para tal distinção se relembrarmos que a única individualidade da área do Desporto a quem foi atribuído, foi nem mais nem menos que o "Senhor Atletismo" Profº Mário Moniz Pereira.
Mas, entre consensos ou opiniões menos assumidas, o acto académico teve coberturas de comunicação social nunca vistas (260 jornalistas, directos, reportagens, TV estrangeiras, etc) e permitiu um grau de notoriedade internacional por parte da FMH que concerteza dezenas ou centenas de artigos publicados em revistas internacionais, dificilmente conseguiriam. Sinal dos tempos...

José Mourinho volta hoje, por um dia, à Faculdade de Motricidade Humana (FMH), onde em 1987 se licenciou em Educação Física, opção futebol. Mas para ser distinguido com um doutoramento honoris causa numa cerimónia fortemente mediatizada e que terá a presença de 250 convidados. Entre eles, familiares, amigos, o ministro da presidência Pedro Silva Pereira (representando José Sócrates), o secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, enviou um vídeo.
Face ao forte apelo mediático, a FMH teve de usar todos os meios, e criatividade, para conjugar as necessidades da cerimónia e da imprensa - as televisões nacionais enviam várias equipas cada; vêm jornalistas de Espanha, Itália e Inglaterra.
"Está tudo pronto", disse ontem ao DN o vice-presidente do Conselho Científico da FMH e ex-colega de curso de José Mourinho. "Esta cerimónia terá um duplo sentido, institucional e pessoal, porque fomos colegas há cerca de 20 anos", afirmou António Veloso.
José Mourinho chega hoje de manhã a Lisboa, e segue para a FMH, visitando as instalações (10.00). Às 11.00, encontra-se com estudantes, depois há um almoço a anteceder o cortejo (14.30) e a cerimónia (15.00). in Diário Notícias de 23.3.09



sexta-feira, março 27, 2009

Patético


O ministro que foi candidato do PS a deputado por Aveiro, por se lembrar em criança de vir passar férias a Espinho junto aos comboios, perante a anunciada falência da empresa Quimonda refere que "Vamos tentar recuperar os apoios ... já esperava o processo de insolvência com que a Qimonda avançou hoje ... o Estado vai tentar recuperar os apoios financeiros dados à empresa. Apoiámos esse projecto desde o primeiro dia ... punha Portugal na vanguarda da indústria de semicondutores... Mas que não haja a mínima dúvida: o apoio que nós demos, vamos tentar recuperá-lo até ao último tostão" in Diário Digital 27.3.09.


Num processo em que a empresa-emblema do governo foi apoiada de todas as formas (não contando as viagens de Falcon à Alemanha), este natural desenlace, só vem comprovar a qualidade das nossas lideranças que perante um quadro de mudanças, são incapazes de visões prospectivas mínimas e se encontram ao alcance de qualquer investidor (desde que seja estrangeiro...). O país observou como infelizmente para os seus trabalhadores e a economia nacional, uma empresa pode passar de modelo a apresentar, de foco de todas as atenções e apoios, quase numa cegueira bacoca e parola, para uma normal bancarrota em que os milhões que o Estado investiu devem ser vistos por um canudo não de Braga mas talvez de Bragança...
O país está como está, pelo conjunto de Quimondas ao longo dos anos. Pela decisão fácil, pouco sustentada e frágil. Como é possível apresentar ainda há menos de 1 ano a Quimonda como o expoente do futuro da indústria portuguesa e chegarmos onde chegámos?
Num país de berardos, finos e quimondos a culpa será sempre do Sr. António contínuo do Ministério da Economia... Assim nos querem sempre fazer crer.

quinta-feira, março 26, 2009

Direitos do cidadão inglês 2...

Bem perto do beco onde se pode 'aceder' à informação de que quem se armar em 'vandal', 'thief' ou 'trespasser' poderá ter problemas com a justiça, numa estação do metro de Newcastle, 'concretiza-se' o direito que qualquer um tem de saber quem são os cidadãos que não pagam bilhete para utilizar aquele meio de transporte urbano. Nome, idade, morada (!) e montante da multa. Os textos são variados. O do cartaz fotografado diz, basicamente, que, num determinado mês, 443 pessoas não puderam usufruir da época de saldos porque esturraram o dinheiro todo em multas! Perderam 122.074 libras! A mensagem é simples: se quiseres ir aos saldos, adquire o teu título de viagem...

Direitos do cidadão inglês 1...

O que aconteceria aos 'vandals', 'thieves' & 'trespassers' de Newcastle-upon-Tyne, quando apanhados no exercício da sua 'actividade', se não tivessem acesso à informação de que, por causa dessa 'actividade', poderiam ser processados?

quarta-feira, março 25, 2009

Gama e a massa das nossas elites

Em declarações públicas o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, afirmou, este domingo, no Funchal, que "a indigitação ou eleição do Provedor de Justiça não é uma responsabilidade sua, mas surge de uma escolha de dois terços dos deputados no parlamento nacional." Assim ficamos todos a saber que uma responsabilidade da Assembleia da República não é necessariamente uma responsabilidade do presidente da mesma... Nesta república das bananas, onde a "democracia do faz de conta" impera, é triste verificar como o desplante e a ausência de qualquer pudor político, não fazem parte das preocupações de quem lidera as instituições. Trata-se apenas de um indicador da qualidade das decisões políticas, ao sabor de "repentismos" ou de um qualquer desvario, que não seriam de referir se o país e os seus cidadãos não se encontrassem perante uma das suas maiores crises económicas, em vias de se transformar numa verdadeira crise social. Com políticos destes, para além de bem servidos, resta-nos esperar que coloquem o país todo em formação profissional e que quando cada cidadão tiver frequentado 10 cursos seja premiado com bilhete de avião para emigrar para um país à escolha...

sábado, março 21, 2009

Provedor e democracia bipolar

A nomeação/indicação/eleição do Provedor de Justiça, que tem de ocorrer com 2/3 dos votos dos deputados da Assembleia da República, é bem um indicador da qualidade da nossa democracia. Um orgão de apelo, de último recurso dos cidadãos, que pretende dar voz aos não poderosos tem sido objecto da mais abjecta disputa entre o PS e o PSD, ou seja o partido do centrão dos interesses. Como se não bastasse, há nove meses discutirem/disputarem entre si nomes e currículos, surgem agora na praça pública a falar do cargo e sua função a partir da visão do país como uma coutada de caça. Pensar que a nossa democracia se esgota nestes dois exemplares partidários, é uma ofensa aos cidadãos portugueses. É óbvio que destas cabeças do bloco central dos interesses, não poderemos esperar muito mais do que o jogo de xadrez das tricas, dos lugares, dos favores, dos interesses e do assalto ao aparelho de Estado. Há falta de indicadores, este caso - tratado até aqui na alcatifa dos gabinetes e que só agora ganhou notoriedade porque o Provedor de saída, resolveu partir a loiça e dizer que se vai embora !!! - traduz bem da conta em que PS e PSD têm os cidadãos. Para eles, um cargo como o de Provedor de Justiça é apenas mais um a entrar na contabilidade merceeira dos cargos a distribuir, no jogo conhecido por "agora eu, depois tu" ou ainda "vai lá tu, que depois vou lá eu". Uma democracia refém destas formas de olhar o país e a vida democrática, descridibiliza-se e impede o reforço do interesse dos cidadãos pela causa pública e suas formas de participação. Uma democracia de "encartados" bipolares, com o mesmo cartão com duas faces e duas cores ligeiramente diferentes (rosa e laranja) é uma democracia sem futuro e socialmente insustentável.
Até quando?

quarta-feira, março 18, 2009

Tuning e o país ou o país tuningado

Respeitando as diferentes opiniões, crenças e valores, há situações em que confessamos ter dificuldade em compreender e aceitar a natureza da sua pertinência e relevância. Nesta última semana fomos surpreendidos por uma manifestação de cidadãos adeptos do tuning, exigindo mudanças na legislação para que possam realizar alterações nos seus automóveis. Num momento de uma enorme crise social, com o desemprego a afectar todos os dias centenas de portugueses, com a crescente dificuldade das empresas em exportar e descobrir novos mercados económicos, com um cada vez maior número de portugueses a socorrerem-se do rendimento de inserção social, com a quebra de rendimentos generalizado das famílias, o que observamos que alguns milhares de cidadãos exigem? Alterações legislativas que permitam aumentar a potência dos motores, a largura de jantes, a carroçaria dos seus automóveis e equipamentos de sons de elevada potência.
Que país é este em que no mesmo fim de semana há 200.000 a reclamar sobre as suas condições de vida e ao mesmo tempo alguns milhares dispostos a dispender milhares de euros na nova cor do automóvel, nas jantes super-largas, na alteração do motor ou outra qualquer mudança?

Alguns cidadãos estarão socialmente perdidos ou outros desgraçadamente condenados?

PS - Não se trata de guerra norte/sul, porque se a 1ª manif foi no Porto a 2ª será em Lisboa...

MANIFESTAÇÃO TUNING DIA 12 DE ABRIL EM LISBOA
MANIFESTAÇÃO!!!É CHEGADA A HORA DE REIVINDICARMOS OS NOSSOS DIREITOS!!!BASTA… TUNING LEGAL JÁ!!!GRANDE MANIFESTAÇÃO EM LISBOADIA 12 DE ABRIL PELAS 14H30 NA ROTUNDA DO MARQUÊS DE POMBAL COM DESTINO À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICAEsta manifestação terá início às 14h30 na Rotunda do Marquês de Pombal e os manifestantes seguirão A PÉ E ORDEIRAMENTE pelas ruas até à Assembleia da República.A manifestação está autorizada e o Governo Civil de Lisboa foi informado e as autoridades também tem a devida informação.Esta é oportunidade de darmos vós à nossa luta!Fica em casa e vê o tuning que todos amamos ser destruído e perseguido!Aparece, junta a tua voz à nossa e fazemos abrir todos os jornais da noite, vamos fazer ver à classe política que não somos vândalos mas temos a nossa paixão!Seja dono de empresa, tuner ou apenas amigo da causa, vem.Todos seremos poucos.Depois de terem sido esgotadas todas as vias, esta pode ser a nossa última oportunidade de fazer ouvir a nossa voz!O governo prepara alterações ao Código da Estrada e pode acabar de vez com qualquer hipótese de saíres com o teu carro à rua!!!Vem e reivindica um direito constitucional: o direito à diferença e livre expressão de ideias!Nota:Para quem trouxer carro poderá deixá-lo no parque do Marquês de Pombal (coberto e pago).

sábado, março 14, 2009

Fantástico

A ministra da Educação veio a Águeda inaugurar a nova biblioteca da escola Fernando Caldeira, que entretanto vai acabar por ir “abaixo” uma vez que a Câmara Municipal tem um projecto para construir um novo edifício escolar. in Região de Águeda de 12.3.09

Uma novidade fantástica. Águeda marca pontos nesta nova visão, do investimento público na área da Educação. Contrariamente ao que tínhamos referido, a biblioteca recentemente inaugurada, não será poupada ao camartelo. Será mesmo, dentro de pouco tempo, demolida. Perante a natureza destes novos dados equipas completas de investigadores da área de Planeamento da Universidade de Xen Piang (China), Alala (Índia) e Muzzafarabad (Paquistão) estão a caminho de Águeda com o objectivo de "in loco" verificar a veracidade da informação, mas acima de tudo, para conhecer e analisar as variáveis tidas em consideração em tão arrojado momento do planeamento estratégico da cidade. Alguns dos investimentos públicos em curso, na China, Índia e Paquistão aguardam neste momento dados das equipas que se deslocaram a Águeda, a fim de serem tomadas decisões ao nível de continuar a construção, demolir já, construir e demolir depois ou constuir fazer inaugurações e demolir depois... Os investigadores mantêm tudo em aberto, manifestando enorme curiosidade pelos dados que pretendem recolher em Águeda. Como já vem sendo referido em revistas internacionais de ordenamento do território, planeamento urbano e obras públicas, "the Águeda case", como vem sendo identificado, pode constituir-se como uma nova visão ao nível do planeamento estratégico do investimento público. Isto porque por esta nova visão, pode passar, uma das formas de superação da crise económica e financeira que nos assola, através da simples ideia "fazer, demolir, voltar a fazer" que já começa a circular em alguns meios sob a sigla FDVF. Apenas em restritos meios financeiros e políticos ligados a visões de "Velhos do Restelo" se colocam dúvidas e preocupações acerca desta nova visão de planeamento estratégico, por esta poder colocar em causa o equilíbrio orçamental, o grau de endividamento das instituições e o deficit público... Mas o que é isso, colocado ao nível de ideias arrojadas e inovadoras como as do FDVF? Nada.

quarta-feira, março 11, 2009

LIDL - a vender na Alemanha "online" Volkswagen e Opel

O Lidl está a vender, na Alemanha, "online" Volkswagen Cross Polo e Opel Corsa, oferecendo ambos os modelos a preços mais de 25% abaixo da tabela oficial dos construtores. A segunda maior rede alemã de supermercados, que tem mais de 200 pontos de venda em Portugal, está a vender os Corsa a 10.570 euros e os Polos a 13.645 euros, segundo adianta hoje a agência Bloomberg. in Jornal de Negócios 11.3.09


Para aqueles que ainda duvidavam da crise, da sua existência, da sua profundidade, aqui está um bom indicador. Um supermercado ao serviço do escoamento de produção excessiva da indústria automóvel alemã. Enquanto o consumidor olha para o preço das bananas e agarra numa caixa de yogurtes, diz "ah, é verdade levo também um Opel Corsa" ou enquanto discute com a mulher sobre o tipo de cereais a comprar pergunta "Olha lá, vê aí a que preço está esta semana o Polo da Wolkswagen". Esta crise se todos dizem que não é igual a outras, está a colocar diferentes problemas e a fazer tomar diferentes decisões. Uma das questões foi o desenvolvimento de políticas produtivas que tiveram como permissa que o crescimento económico era eterno e o céu era o limite... A indústria automóvel com a sua capacidade produtiva instalada (infelizmente) parece não ter "feito todo o trabalho de casa" nos seus estudos prospectivos. Sim, porque se alguém dissesse que o LIDL seria um canal de distribuição na venda de automóveis, seria considerado louco ou com vontade de insultar a marca X, Y ou Z. Talvez ainda não tenhamos visto tudo e muitas e variadas surpresas estarão para sair como estratégias de sobrevivência perante as dificuldades que se apresentarão. A nós o que vale é termos um "grande timoneiro"...

terça-feira, março 10, 2009

Aveiro - um bom exemplo


No dia 7 de Abril de 2009 (Dia Mundial da Saúde) a Câmara Municipal de Aveiro, no âmbito do Projecto Life Cycle: a Bicicleta é Vida!, vai promover um Seminário subordinado à temática da Saúde e Actividade Física como modo saudável de mobilidade, com o recurso à Bicicleta.Este evento tem, principalmente, como destinatários os Profissionais das Áreas da Saúde, Motricidade, Psicologia, Ensino e Educação, Acção Social, Desporto, bem como Estudantes Universitários.
Inscrições até 6 de Abril, via
lifecycle@cm-aveiro.pt
(aceda ao programa clicando na imagem)
Sobre o tema, manifestámos posição junto do blogue http://amigosdavenida.blogs.sapo.pt/
Quero expressar o meu apoio a esta iniciativa da C M de Aveiro, que pode ser um contributo para a reflexão e alteração de crenças, atitudes e comportamentos dos cidadãos relativamente às suas formas de mobilidade quotidiana e à natureza das opções dos seus estilos de vida mais ou menos activos. Se Portugal continua nas últimas posições na vinculação à prática desportiva por parte da sua população, com apenas 23% a associar tais práticas ao seu quotidiano (Eurobarómetro, 2004, Marivoet, 2005), iniciativas como esta permitem reflectir sobre contextos locais e regionais, clarificando as hipóteses de novas propostas e alternativas da realidade. Ainda segundo Marivoet (2005), os índices de participação desportiva em Portugal, as assimetrias relativas ao género tendem a atenuar-se nos países do Norte da Europa e a acentuarem-se nos países do Sul. Salienta Marivoet que, apesar da proximidade da realidade portuguesa com a espanhola e italiana, as portuguesas encontram-se ainda mais ausentes da prática desportiva (14%) e contrariamente a estes países, revelam um decréscimo da sua participação em dois pontos percentuais entre as duas últimas décadas (Marivoet, 2005). Em síntese, para a autora as mulheres em Portugal apresentam diferentes experiências e oportunidades relativamente aos homens, que ainda se agravam mais quando se equaciona a sua participação ao nível do desporto de competição (1%). Desconheço estudos credíveis sobre a realidade de Aveiro e sua região, mas quero acreditar que são iniciativas como estas que de forma sustentada poderão promover as alterações de hábitos quotidianos e fomentar a diversos níveis uma prática da actividade física e desportiva, factor integrante da qualidade de vida. Se segundo alguns, a bicicleta está hoje moda, pois que aproveitamos essa moda para tornar a vida de todos mais activa, a começar pelas crianças nas suas acções de mobilidade diária (Ex: Projecto de investigação-acção numa turma do 3º ano da EB1 do Sol Posto - Agrupamento de Escolas de S. Bernardo). O Projecto Bugas ao tornar-se um símbolo nacional da cidade de Aveiro, exige continuidade, aprofundamento e desenvolvimentos que não parecem ter ocorrido. Se fica sempre bem uma fotografia de um passeio de buga junto à Ponte Praça, importa objectivamente encontrar as soluções de desenvolvimento sustentado, que liguem o projecto inicial aos novos desafios da mobilidade urbana, aliada ao fomento de estilos de vida mais activos. Tudo isto porque sem crianças e jovens activos desde a infância não podemos pretender ter praticantes desportivos. Sem contextos urbanos e não urbanos, susceptíveis de estimular a acção, o desejo de se movimentar, dificilmente poderemos exigir adeptos da prática desportiva do Ciclismo, do BTT, do Futebol, do Basquetebol, etc. A investigação a nível de estudos longitudinais (Trudeau, et al. 2004) tem evidenciado que a natureza das vivências de actividade física e desportiva durante a infância - Educação Física, prática desportiva, vivências desportivas informais - condicionam as opções de estilo de vida quando adulto. Neste sentido, uma comunidade que se preocupa com a natureza da mobilidade dos seus cidadãos associando-a à utilização da bicicleta numa lógica de promoção da actividade física, está objectivamente a pensar no futuro e na saúde das pessoas.Aproveito para os convidar a visitar o blog http://bloguejudeu.blogspot.com/ onde alguns judeus (cagaréus e/ou ceboleiros de 2ª a 6ª feira) escrevem também sobre estes temas.

domingo, março 08, 2009

GICA - 100 anos

O Ginásio Clube de Águeda conhecida pelo GICA faz este ano 100 anos de existência. Não é todos os dias que clubes de âmbito local conseguem atingir em plena actividade esta idade na vida das comunidades. Liga-nos ao GICA uma certa nostalgia dos nossos primeiros exercícios gímnicos e saltos de ginástica sob orientação do saudoso Professor Elmano de Vasconcelos, durante o final dos anos 60. Também foi no GICA que eu com o Ramiro Loureiro, o João Eugénio e o Guilherme Guerra ("Guilhas") no âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento do Râguebi, nos de 74-76 demos corpo à experiência do râguebi em Águeda com as grossas camisolas azul bébé, mobilizando na altura dezenas de crianças e jovens em condições de treino só aceitáveis naquela época. Foi no GICA que trabalhámos em actividades gímnicas para crianças e jovens e integrámos o grupo de pessoas que lançou o Futsala (na altura o Futebol de 5) com projectos de férias desportivas e a equipa federada que chegou a participar na I Taça Nacional de Futebol de 5. Para lá desta nossa experiência pessoal, o GICA foi quase sempre o clube do Motocrosse e das suas grandes organizações europeias e mundiais. Mas apesar desta forte imagem de clube do motocrosse, o ecletismo foi uma característica do clube. De forma objectiva o GICA conseguiu sempre ser o mais eclético clube desportivo de Águeda, com modalidades desportivas de maior ou menor expressão como o Atletismo, a Canoagem (fundador da sua Federação), Ginástica, Ténis de Mesa, Basquetebol, Futsala, Karatê, de entre outras. Para lá da lógica dos títulos desportivos, o GICA foi ao longo do tempo um clube de práticas desportivas, valorizando os seus benefícios no desenvolvimento dos jovens e menos jovens. É certo que por vezes, a lógica de clube do motocrosse se sobrepôs a muita coisa, mas, com maior ou menor esforço o ecletismo do GICA esteve sempre presente.
Fazemos votos de que o GICA possa ser GICA ainda por muitos anos e que as requalificações que se perspectivam para o espaço do seu pavilhão desportivo, permitam aumentar a quantidade e qualidade da prática desportiva, sem "municipalizações desportivas" ou outras dependências. Sim, porque só faz 100 anos de vida associativa quem é capaz de ter identidade e vida própria no contexto da comunidade.
Por tudo isto faz todo o sentido, Águeda estar com o GICA no seu jantar centenário. Para divulgação aqui fica o endereço do site http://www.gica.pt/
PS - A imagem acima utilizada é parte de uma foto da nossa classe de ginástica "em digressão" numa apresentação em Aguada de Cima nos anos 70 ... com o Luís Fernando em terceiro ...

segunda-feira, março 02, 2009

Águeda, Carta Educativa, Escolas e algo mais

(imagem pedida de empréstimo de http://www.eb23-agueda.rcts.pt/aeaescolas.html)

Como nos lamentámos ao longo de algum tempo neste blog, a Carta Educativa de Águeda foi uma das 10 (dez!!!) últimas do país a ser discutida e aprovada. Aquilo que deveria ter sido um momento para pensar o futuro em termos da rede escolar e seu desenvolvimento, foi por uns aproveitado para "chicana política" e por outros como exercício de "autoritarismo bacoco". A perder ficou Águeda. O debate arrastou-se, nem sempre se centrou nas questões essenciais de uma Carta Educativa e agora, somos confrontados com informações não confirmadas, informações do tipo "diz-se que", informações do "ouvi dizer que", informações de "surgiu uma oportunidade" relativamente ao futuro da Escola EB 2/3 Fernando Caldeira de Águeda. Falo desta escola porque a Carta Educativa de Águeda diz na sua página 32 diz que "Não estão previstas quaisquer intervenções" e na última reunião do Conselho Geral Transitório do Agrupamento de Escolas de Águeda, também não existiam informações concretas e oficiais - o Sr Presidente da Câmara, a Srª Vereadora da Educação e a Técnica Superior da Autarquia membros de pleno direito do Conselho faltaram à reunião - e ao mesmo tempo ser voz corrente de que logo que a Srª Ministra da Educação inaugure o pavilhão recentemente remodelado da biblioteca da escola, se vai dar início á sua desintegração tendo em vista a construção de um novo edifício.
Assim, para quê definir Cartas Educativas? Para quê equacionar cenários prospectivos? Para quê colocar as pessoas a pensar e discutir, criando simulacros de participação pública?
Basta um qualquer telefonema. Basta um qualquer lembrete. Basta um qualquer ...
E zás, aqui vai uma escola. Assim se projecta um futuro feito de "repentismos e impulsos" e carente de estratégia e racionalidade. Pode uma escola ser decidida assim?
Como equacionar a concepção e planeamento de uma escola da cidade de Águeda na base de "impulse" e repentismos de decisão? Como pensar e projectar equilibradamente uma escola, que não pode ser um "aglomerado de salas de aula"? Como pensar e projectar uma escola que responda às actuais necessidades de Águeda?
Agenda 21 Local?
Participação pública?
Envolvimento da comunidade escolar?
Nem os orgãos de próprios de gestão e administração são capazes de informar do que se vai passar com o futuro da escola a partir de Junho. Assim se define o futuro, assim se respeitam as decisões colectivas, assim se cumpre o planeado, assim se pensa estrategicamente. De repente...