sábado, março 21, 2009

Provedor e democracia bipolar

A nomeação/indicação/eleição do Provedor de Justiça, que tem de ocorrer com 2/3 dos votos dos deputados da Assembleia da República, é bem um indicador da qualidade da nossa democracia. Um orgão de apelo, de último recurso dos cidadãos, que pretende dar voz aos não poderosos tem sido objecto da mais abjecta disputa entre o PS e o PSD, ou seja o partido do centrão dos interesses. Como se não bastasse, há nove meses discutirem/disputarem entre si nomes e currículos, surgem agora na praça pública a falar do cargo e sua função a partir da visão do país como uma coutada de caça. Pensar que a nossa democracia se esgota nestes dois exemplares partidários, é uma ofensa aos cidadãos portugueses. É óbvio que destas cabeças do bloco central dos interesses, não poderemos esperar muito mais do que o jogo de xadrez das tricas, dos lugares, dos favores, dos interesses e do assalto ao aparelho de Estado. Há falta de indicadores, este caso - tratado até aqui na alcatifa dos gabinetes e que só agora ganhou notoriedade porque o Provedor de saída, resolveu partir a loiça e dizer que se vai embora !!! - traduz bem da conta em que PS e PSD têm os cidadãos. Para eles, um cargo como o de Provedor de Justiça é apenas mais um a entrar na contabilidade merceeira dos cargos a distribuir, no jogo conhecido por "agora eu, depois tu" ou ainda "vai lá tu, que depois vou lá eu". Uma democracia refém destas formas de olhar o país e a vida democrática, descridibiliza-se e impede o reforço do interesse dos cidadãos pela causa pública e suas formas de participação. Uma democracia de "encartados" bipolares, com o mesmo cartão com duas faces e duas cores ligeiramente diferentes (rosa e laranja) é uma democracia sem futuro e socialmente insustentável.
Até quando?

1 comentário:

douro disse...

Acho que tens montes de razão, Rui. Mas porque é que o PS se meteu em copas desde a primeira proposta do PSD em vez de lhes responder com clareza e propor que todos os partidos fossem consultados? Bem sei que para uma birra são precisos dois, mas agum a começou.
Um abraço