sábado, abril 14, 2007

Em Águeda as árvores não morrem de pé

Eu gosto de árvores, do verde dos campos e da liberdade que se respira. Independentemente das actuais necessidades de preservação ambiental, as árvores não são simples purificadores do ar que respiramos. As árvores ocupam os espaços e são sua referência. Ao longo da vida habituamo-nos a ver crescer as árvores, a medir com o olhar a sua velocidade de crescimento, a apreciar os seus ciclos anuais pautados pelas estações do ano. O desbaste das árvores da avenida Eugénio Ribeiro é um rito anual citadino. As árvores que preenchiam os espaços de lazer da minha infância, no Adro junto à igreja de Águeda, não serviam apenas para fazer sombra.
Elas apoiavam as nossas actividades, tanto eram balizas de futebol, como encosto para o "calhamontra" ou "aí vai alho". A imagem construída do Souto do Rio é indissociável da grandeza das suas árvores, da sua sombra e porte altivo. O Souto do Rio não seria o mesmo sem as árvores que o caracterizam. Quando hoje percorro o concelho de bicicleta, por pequenas estradas e caminhos escondidos, o nosso olhar espanta-se e fica perdido quando há um corte de pinheiros ou eucaliptos que torna tudo diferente. A paisagem da Quinta do Lacerda tem diferente encanto, após o total abate dos seus pinheiros. Até as subidas parecem ser mais íngremes sem a companhia dos pinheiros.
Vem tudo isto a propósito da observação de que alguém em Águeda não gosta de árvores. Que de forma indiscriminada e gratuíta abate árvores como quem corta um eucaliptal que acabou de fazer 25 anos.
O Parque de Alta Vila é palco de abate de árvores desde há algum tempo, traíndo a sua essência de espaço rico de árvores de várias espécies. Quem estuda aquelas árvores? Quem avalia das suas necessidades? Quem trata delas? Não, a solução é cortar, arrasar e abater árvores talvez centenárias, talvez de espécie rara, talvez tratável, talvez capaz de enriquecer a flora diversa da Alta Vila.


Com a "requalificação" realizada no antigo espaço da praça, junto ao rio, todas as árvores lá existentes foram abatidas. E não eram 2 ou 3, eram dezenas delas que nos habituámos a ver crescer, para agora termos um "betódromo" inútil e desolador.
O Parque dos Abadinhos, a caminho do Sardão, tem um aviso de que as árvores podem cair!!! Mas quando algo está para cair, não é a ordem natural das coisas, impedir que isso aconteça? Aquele belo choupal estará condenado a ser abatido? Quem avaliou o estado dos choupos? Quem diagnosticou o problema? A única solução para uma bela zona verde, próxima da cidade é o seu abate puro e simples? Será possível?

A Varanda de Pilatos na subida para Travassô é uma referência na paisagem da zona. Recentemente as árvores de grande porte que a envolviam foram abatidas. As árvores que desde sempre embelezaram o local, desde sempre fizeram parte da sua essência foram decapitadas. As razões apontadas e publicadas, foram de que se estava a preparar o local para ser uma das sete maravilhas de Águeda..... Contra motivos deste tipo, há argumentos possíveis? Contra visões tão bacocas da preservação do nosso património ambiental, é possível compreender que para se ser uma maravilha o preço a pagar é decapitar as árvores envolventes. Registe-se que a Junta de Freguesia que esteve no abate das referidas árvores, na mesma semana comemorou com as crianças das escolas do 1º Ciclo, o Dia Mundial da Árvore, plantando uma árvore ....
Em Águeda está provado de que as árvores não morrem de pé. Alguém não gosta delas ao ponto de não cuidar e preservar da sua saúde e de logo que exista uma oportunidade lhes dar ordem de abate. Porquê?
Num tempo de enormes preocupações ambientais, em que a qualidade do ar que respiramos depende do nível de florestação, em que o combate à redução de CO2 para a atmosfera está na ordem do dia, nós, pacata e bacocamente abatemos árvores. Num tempo em que por todo o território, se busca definir e qualificar espaços verdes, nós abatemos árvores.

Até quando?

Sem comentários: