quarta-feira, julho 09, 2008

O país desportivo


O país desportivo está em polvorosa com as consequências do processo Apito Dourado. Mas ... existe país desportivo? Existe um país em que os clubes desportivos são iguais entre si? Existe um país desportivo, unicamente dependente da verdade desportiva aleatoriamente demonstrada em cada época? Todas as épocas desportivas os vencedores são diferentes? Todas as épocas desportivas as decisões das organização são equilibradas e justas para todos? Portugal está futebolizado para mal de todos nós. A TV, os jornais - de referência e sem ser de referência - desportivamente falando só concedem espaço ao futebol. E dentro do futebol aos três grandes clubes. E assim, o que existe em Portugal é um país desportivo unicamente dependente dos resultados desportivos dos três grandes - SLB, SCP e FCP - do grau de pressão e tráfico de influências de cada um deles junto de orgãos directivos da modalidade e da arbitragem, da capacidade de "comprarem-influenciarem" a comunicação social. Que chega ao cúmulo dos cúmulos de ter jornalistas "especializados" em SLB, em SCP e em FCP. Jornalistas que só observam, só escrevem, só opinam sobre um clube desportivo. Portanto um país desportivo centrado em três clubes só pode dar no que se está a passar. Um processo que não é analisado à luz de factos e suas implicações, mas na presunção de quem é adepto, gosta ou é ligado a um dos três clubes desportivos. Pobre país que não respira para lá de um triângulo sufocante de projectos, financiamentos e ideias desportivas de três clubes. Os factos dizem que temos um país em que a televisão pública produz programas, unicamente a falar dos referidos três clubes. Com pessoas que pretensamente representam a visão de cada um dos três clubes desportivos. Em que os jornais sabem antecipadamente quantos exemplares vendem se colocarem na capa o clube A ou B...
A futebolização do desporto e a concentração em três clubes desportivos, podem ser importantes para o nível desportivo possível de alcançar, mas não estimulam a vinculação dos portugueses à prática desportiva e contribuem objectivamente para este clima de claustrofobia desportiva. Em que qualquer pessoa antes de dizer o que pensa sobre qualquer fenómeno desportivo, tem de fazer declaração de proximidade com um dos três clubes. A continuar assim, os estádios vão continuar a encher-se com milhares a bater palmas, as lojas dos chineses vão continuar a importar e vender milhares de bandeiras portuguesas com defeito e Portugal continuará na cauda da Europa como país rei do comando e do sofá e longe da prática desportiva integrada no estilo de vida de cada um.

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