Educação Física e Desporto Escolar - aprendizagem, prazer e estilos de vida activos
Para divulgação aqui se regista um texto de opinião que nos foi solicitado e publicado pelo semanário Soberania do Povo (5.9.08), sobre a Educação Física e Desporto Escolar nesta rentrée do novo ano lectivo:
Num momento em que uma simples e atenta observação, nos leva a reflectir perante a inactividade física de muitas crianças e jovens, em que a obesidade galopante ganha forma nas pregas adiposas cada vez em mais crianças e jovens e que as diferentes formas de iliteracia motora e ausência de regular prática desportiva continuam a caracterizar a nossa sociedade, a Educação Física (EF) readquire relevo e significado para a saúde, qualidade de vida e bem-estar de crianças e jovens. Relembremos as suas finalidades educativas:
"-Melhorar a aptidão física, elevando as capacidades físicas de modo harmonioso e adequado às necessidades de desenvolvimento do aluno.
-Promover a aprendizagem de conhecimentos relativos aos processos de elevação e manutenção das capacidades físicas.
-Assegurar a aprendizagem de um conjunto de matérias representativas das diferentes actividades físicas, promovendo o desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno, através da prática de:
-Actividades desportivas nas suas dimensões técnica, táctica, regulamentar e organizativa;
-Actividades físicas expressivas (danças), nas suas dimensões técnica, de composição e interpretação;
-Actividades físicas de exploração da Natureza, nas suas dimensões técnica, organizativa e ecológica;
-Jogos Tradicionais e Populares.
-Promover o gosto pela prática regular das actividades físicas e assegurar a compreensão da sua importância como factor de saúde e componente de cultura, na sua dimensão individual e social;
-Promover a formação de hábitos, atitudes e conhecimentos relativos à interpretação e participação nas estruturas sociais, no seio dos quais se desenvolvem as actividades físicas, valorizando:
-a iniciativa e a responsabilidade pessoal, a cooperação e a solidariedade;
-a ética desportiva;
-a higiene e segurança pessoal e colectiva;
-a consciência cívica na preservação de condições de realização das actividades físicas, em especial da qualidade do ambiente."
Neste contexto a qualidade das práticas proporcionadas aos alunos nas aulas de EF, em cada escola são fundamentais, para que estes, num clima alegre, divertido e positivo retenham boas recordações das suas vivências de práticas desportivas e paralelamente consolidem aprendizagens motoras, conhecimentos, atitudes e valores que lhes permitam continuar cidadãos activos ao longo da vida. Relembremos que apesar de (ainda) não possuirmos estudos sobre a realidade sócio-desportiva de Águeda, Portugal continua no penúltimo lugar europeu na vinculação desportiva da sua população (Eurobarómetro, 2004). Não nos serve de consolação saber que a Grécia é o último …
A EF pode assim, constituir-se como uma abordagem estruturada, desde o 1º ano de escolaridade até aos anos terminais do ensino secundário, a uma Cultura Motora que não se limite a preencher o tempo livre dos jovens ou a contribuir para uma qualquer alfabetização motora. A regularidade e qualidade das suas práticas, potenciadas pelas condições dos contextos de vida de crianças e jovens (espaços verdes, jardins, qualidade de espaços, públicos, quantidade e qualidades de parques lúdico-motores, disseminação de pequenos espaços de jogo, etc.) podem ser factores de vinculação desportiva, mas também de qualidade de vida e um forte contributo para a saúde pública.
Em termos de instalações e equipamentos desportivos, não estarão em causa a construção de naves desportivas, mega-pavilhões ou uma até de uma piscina junto de cada escola. Mas sim de disponibilizar os espaços em termos de área e qualidade e diversidade dos pisos, que em paralelo com a quantidade e qualidade dos recursos materiais (bolas, arcos, cordas, bastões, cones, colchões, etc.) incentivem a prática regular da EF em todas as escolas. Não podemos deixar de recordar aqui a arquitectonicamente interessante escola EB1 de Assequins, com um espaço exterior desqualificado e pobre para a estimulação das crianças… Sabemos hoje que há muitas crianças, alunos das nossas escolas, que apenas nelas têm oportunidades de aprendizagem das habilidades, dos conhecimentos, das atitudes e dos valores característicos das actividades físicas e desportivas. Por outro lado, a dinâmica da turma exige espaços e oportunidades de interacções pessoais fora do contexto da sala de aula, exige actividades que pelas suas características coloquem as crianças perante diferentes desafios e aprendizagens. Por tudo isto, hoje desenvolver o desporto, fomentar as práticas desde cedo das actividades físicas e desportivas, criar oportunidades de prática e aprendizagem para todas as crianças das nossas escolas, também passa pelas preocupações em requalificar espaços e disponibilizar materiais e equipamentos desportivos para a área de EF em todas as escolas do concelho.
Num tempo inflacionado de projectos, planos e plantas como é possível (ainda) fazer aprovar edificações, conjuntos habitacionais, urbanizações onde desde a concepção ao seu planeamento não estejam previstos os fundamentais espaços verdes, de convívio social, de encontro entre as pessoas, de espaços de práticas de actividades físicas e desportivas?
Também em Águeda, a EF não pode ser o contexto educativo de selecção e detecção de talentos “andebolísticos” ou outros, sob pena de hipotecar as suas finalidades educativas perante todas as crianças e jovens. Para os processos de aperfeiçoamento de competências específicas em cada actividade desportiva, o enquadramento do Desporto Escolar (DE) pode ser a resposta adequada, desde que tecnicamente enquadrado.
A prática da EF e o desenvolvimento de projectos de DE nas nossas escolas pode e deve ser rentabilizada numa lógica de rede concelhia em que as escolas se envolvam e trabalhem conjuntamente. Para tal, importa desenvolver políticas municipais de educação que possam ter olhares amplos acerca das oportunidades de rentabilizar recursos e garantir oportunidades qualificantes de vivências desportivas às crianças e jovens de Águeda.
A prática desportiva que para quase todas as crianças se inicia na escola, não é hoje (só) um problema de aprender regras de modalidades desportivas ou de dominar (só) esta ou aquela técnica desportiva. É acima de tudo uma abordagem estruturada de combate à inactividade e ao sedentarismo, de busca do prazer e satisfação nas práticas desportivas, com fortes implicações na nossa saúde pública, na qualidade de vida futura e no bem-estar no presente.
Por tudo isto, vale a pena encarar o ano escolar que se aproxima, como mais um degrau na construção de múltiplas e diferentes oportunidades de que cada vez mais crianças e jovens gostem e gozem com a prática desportiva, consolidem competências e aumentem a sua percepção de sucesso pessoal nas suas práticas e que as suas memórias positivas os incentivem a prolongar um estilo de vida activo ao longo da vida.
Rui Neves
Docente Universitário
Águeda
Setembro/08
"-Melhorar a aptidão física, elevando as capacidades físicas de modo harmonioso e adequado às necessidades de desenvolvimento do aluno.
-Promover a aprendizagem de conhecimentos relativos aos processos de elevação e manutenção das capacidades físicas.
-Assegurar a aprendizagem de um conjunto de matérias representativas das diferentes actividades físicas, promovendo o desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno, através da prática de:
-Actividades desportivas nas suas dimensões técnica, táctica, regulamentar e organizativa;
-Actividades físicas expressivas (danças), nas suas dimensões técnica, de composição e interpretação;
-Actividades físicas de exploração da Natureza, nas suas dimensões técnica, organizativa e ecológica;
-Jogos Tradicionais e Populares.
-Promover o gosto pela prática regular das actividades físicas e assegurar a compreensão da sua importância como factor de saúde e componente de cultura, na sua dimensão individual e social;
-Promover a formação de hábitos, atitudes e conhecimentos relativos à interpretação e participação nas estruturas sociais, no seio dos quais se desenvolvem as actividades físicas, valorizando:
-a iniciativa e a responsabilidade pessoal, a cooperação e a solidariedade;
-a ética desportiva;
-a higiene e segurança pessoal e colectiva;
-a consciência cívica na preservação de condições de realização das actividades físicas, em especial da qualidade do ambiente."
Neste contexto a qualidade das práticas proporcionadas aos alunos nas aulas de EF, em cada escola são fundamentais, para que estes, num clima alegre, divertido e positivo retenham boas recordações das suas vivências de práticas desportivas e paralelamente consolidem aprendizagens motoras, conhecimentos, atitudes e valores que lhes permitam continuar cidadãos activos ao longo da vida. Relembremos que apesar de (ainda) não possuirmos estudos sobre a realidade sócio-desportiva de Águeda, Portugal continua no penúltimo lugar europeu na vinculação desportiva da sua população (Eurobarómetro, 2004). Não nos serve de consolação saber que a Grécia é o último …
A EF pode assim, constituir-se como uma abordagem estruturada, desde o 1º ano de escolaridade até aos anos terminais do ensino secundário, a uma Cultura Motora que não se limite a preencher o tempo livre dos jovens ou a contribuir para uma qualquer alfabetização motora. A regularidade e qualidade das suas práticas, potenciadas pelas condições dos contextos de vida de crianças e jovens (espaços verdes, jardins, qualidade de espaços, públicos, quantidade e qualidades de parques lúdico-motores, disseminação de pequenos espaços de jogo, etc.) podem ser factores de vinculação desportiva, mas também de qualidade de vida e um forte contributo para a saúde pública.
Em termos de instalações e equipamentos desportivos, não estarão em causa a construção de naves desportivas, mega-pavilhões ou uma até de uma piscina junto de cada escola. Mas sim de disponibilizar os espaços em termos de área e qualidade e diversidade dos pisos, que em paralelo com a quantidade e qualidade dos recursos materiais (bolas, arcos, cordas, bastões, cones, colchões, etc.) incentivem a prática regular da EF em todas as escolas. Não podemos deixar de recordar aqui a arquitectonicamente interessante escola EB1 de Assequins, com um espaço exterior desqualificado e pobre para a estimulação das crianças… Sabemos hoje que há muitas crianças, alunos das nossas escolas, que apenas nelas têm oportunidades de aprendizagem das habilidades, dos conhecimentos, das atitudes e dos valores característicos das actividades físicas e desportivas. Por outro lado, a dinâmica da turma exige espaços e oportunidades de interacções pessoais fora do contexto da sala de aula, exige actividades que pelas suas características coloquem as crianças perante diferentes desafios e aprendizagens. Por tudo isto, hoje desenvolver o desporto, fomentar as práticas desde cedo das actividades físicas e desportivas, criar oportunidades de prática e aprendizagem para todas as crianças das nossas escolas, também passa pelas preocupações em requalificar espaços e disponibilizar materiais e equipamentos desportivos para a área de EF em todas as escolas do concelho.
Num tempo inflacionado de projectos, planos e plantas como é possível (ainda) fazer aprovar edificações, conjuntos habitacionais, urbanizações onde desde a concepção ao seu planeamento não estejam previstos os fundamentais espaços verdes, de convívio social, de encontro entre as pessoas, de espaços de práticas de actividades físicas e desportivas?
Também em Águeda, a EF não pode ser o contexto educativo de selecção e detecção de talentos “andebolísticos” ou outros, sob pena de hipotecar as suas finalidades educativas perante todas as crianças e jovens. Para os processos de aperfeiçoamento de competências específicas em cada actividade desportiva, o enquadramento do Desporto Escolar (DE) pode ser a resposta adequada, desde que tecnicamente enquadrado.
A prática da EF e o desenvolvimento de projectos de DE nas nossas escolas pode e deve ser rentabilizada numa lógica de rede concelhia em que as escolas se envolvam e trabalhem conjuntamente. Para tal, importa desenvolver políticas municipais de educação que possam ter olhares amplos acerca das oportunidades de rentabilizar recursos e garantir oportunidades qualificantes de vivências desportivas às crianças e jovens de Águeda.
A prática desportiva que para quase todas as crianças se inicia na escola, não é hoje (só) um problema de aprender regras de modalidades desportivas ou de dominar (só) esta ou aquela técnica desportiva. É acima de tudo uma abordagem estruturada de combate à inactividade e ao sedentarismo, de busca do prazer e satisfação nas práticas desportivas, com fortes implicações na nossa saúde pública, na qualidade de vida futura e no bem-estar no presente.
Por tudo isto, vale a pena encarar o ano escolar que se aproxima, como mais um degrau na construção de múltiplas e diferentes oportunidades de que cada vez mais crianças e jovens gostem e gozem com a prática desportiva, consolidem competências e aumentem a sua percepção de sucesso pessoal nas suas práticas e que as suas memórias positivas os incentivem a prolongar um estilo de vida activo ao longo da vida.
Rui Neves
Docente Universitário
Águeda
Setembro/08
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