A avaliação dos professores, a manifestação e a ministra
No contexto da discordância dos professores para com o modelo desenvolvido pelo Ministério da Educação (ME) para a avaliação do seu desempenho profissional, teve lugar no último sábado mais uma mega-manifestação em Lisboa. Apesar de os números da manifestação nos terem surpreendido e entendermos que estas iniciativas são formas de exteriorizar indignações individuais e colectivas, chama-me mais a atenção ver envolvidas nestas iniciativas professores que nunca em tal se viram. O que releva do grau de indignação latente nas escolas e que o modelo de avaliação do desempenho é apenas o rastilho. É hoje um dado adquirido que (mais uma vez) as estruturas sindicais não estiveram à altura da liderança das lutas dos professores, pois ao assinarem o memorandum em Julho, comprometeram-se com ideias e propostas que sabiam não merecer a concordância da maioria dos professores. Portanto, o que se passa neste momento é fruto da falta de visão estratégica na condução da contestação de Junho, que não foi capaz de ir até ao fim, exigindo clareza e rigor na avaliação do desempenho dos professores. Por outro lado, o ME e a pessoa da Srª Ministra assume tiques autoritários e de um autismo de quem não está à altura de dirigir os destinos da Educação em Portugal no século XXI. Dirigir o ME com base num conjunto de preconceitos acerca do trabalho dos professores, não é de quem tenha o bom senso necessário para fazer mudanças, qualificando a escola pública. Neste momento, do lado dos professores é urgente credibilizar a sua acção, através de iniciativas que transmitam a verdade acerca do que efectivamente está em causa. Para isso, é necessário fugir de mais manifestações que sendo importantes num determinado contexto, tendem a descredibilizar a sua acção e a perder necessariamente fulgor e entusiasmo. Independentemente dos promotores, outra manifestação no dia 15 é uma tontice, carente de estratégia, que apenas levará ao descrédito social. Mais importante é agora o trabalho de formiga, organizando as acções no contexto das escolas, conselhos pedagógicos e departamentos de forma a por um lado inviabilizar a aplicação deste modelo de avaliação e em alternativa ser capaz de testar e validar outro que sem burocracias, com bom senso e rigor científico seja capaz de seriar os professores. Em todas as profissões há uns melhores do que outros. Também assim é na classe dos professores. A Educação do país tem a ganhar com a ultrapassagem da ideia peregrina de que "os professores são todos bons" como durante dezenas de anos foi defendido pelos Sindicatos.
Em função do exposto é fundamental que a primeira avaliação realizada de forma consistente e sistemática seja feita primeiro às escolas como organizações educativas e não como repartições administrativas. Como organizações, as escolas necessitam de avaliações periódicas que lhes forneçam informação específica acerca do seu desempenho colectivamente entendido. Por arrastamento uma avaliação da organização implicará, uma avaliação individualizada dos professores na sua acção quotidiano e no contributo para a melhoria colectiva da educação dos alunos. As escolas são organizações complexas que não obedecem aos princípios dos manuais de gestão, necessitando de uma percepção ecológica e complexa.
Para que todos ganhem, principalmente os alunos no contexto da sua aprendizagem, importa a todo o custo retomar a paz social nas escolas e centrar as motivações e energias dos professores no essencial.
1 comentário:
Para quê a avaliação?
Será esta importante e essencial?
Todos dizem que sim, com vista à criação de condições para premiar os melhores professores e, assim, motiva-los a eles (os melhores) e aos outros objectivando um melhor trabalho com efeitos no sistema e na sua produtividade (mais e melhor educação).
É preciso clarificar que não ser premiado (promovido) não é ser castigado (despromovido). Apesar de essa ideia ser um dado adquirido e transversal na corporação docente.
Sem dúvida que é necessário separar o trigo do joio e, se possível, a prazo, transformar (algum) joio em trigo. Claro que os sindicatos não gostam disto. Porque ao fazer a separação, para além de se distinguir os bons, se vão revelar os medíocres…
A verdade é que vão todos dizendo que querem ser avaliados. Mas, simultaneamente, vão recusando todos os modelos. E não apontam para nenhum que seja aceitável. E dizem aquilo com a maior das convicções, tal como afirmam que, antes, já eram avaliados. Mesmo quando todos eram (muito bem) avaliados sendo a promoção generalizada.
Sem dizer, mas a dar a entender, o Governo tem também em consideração as questões economicistas. Progressões a todos sem distinção (como antes) obrigavam a remunerações de docentes absolutamente inauditas (em função do PIB nacional) no conjunto dos países desenvolvidos.
Assim, precisamos de algo (um instrumento) que ordene os professores a fim de poder premiar (com progressão na carreira) os melhores professores. Nesse processo, os piores não são castigados (não regredirão) mas não serão premiados.
Assim o prémio dos (melhores) docentes será a progressão na carreira.
Com os melhores premiados e os docentes razoáveis a trabalhar para lá chegar, teremos, nas Escolas um ambiente propício para a melhoria.
Será que, para isto, é necessária uma AVALIAÇÃO? Saber se os professores são BONS, EXCELENTES ou MUITO BONS?
A minha resposta é : NÂO.
A avaliação docente é difícil, complicada e, verifica-se, extremamente penalizadora para os avaliados e para os alunos (os professores estão distraídos com outras coisas que não e ensino). São papeis, reuniões, fiscalizações, aulas assistidas, mapas, orientações, relatórios, quadros, listas, reclamações, afixações, publicações, etc.
A avaliação é difícil, também, pelos factores próprios da actividade. A parte quantificável é curta. E grande parte do trabalho é feito muito “isoladamente” (em sala de aula). Não há um “superior” com quem se trabalha directamente.
Não haverá outra forma para valorizar os melhores e só a estes atribuir o prémio de progressão?
Sim. Há. E não é outro modelo de avaliação.
É a seriação.
PROPOSTA
Considerando uma carreira de 36 anos (mantendo-se ao longo dos anos a “transformação” de parte do tempo de trabalho (horário) de actividade lectiva noutro tipo de actividade e um objectivo de chegarem ao topo da carreira 1/3 dos docentes, seria fácil de montar o seguinte sistema (de 8 escalões):
(1)Todos os docentes, na entrada da carreira, estão no escalão 1.
(2)Todos os docentes promovidos num ano estarão 2 anos sem poderem repetir a progressão (mínimo 3 anos em cada escalão). Um professor que progrida de 3 em 3 anos chegará ao 8º escalão em 22 anos.
(3)Sobre-formações não aceleram progressões, os docentes mais formados terão que traduzir essa vantagem em qualidade de trabalho.
(4)Haverá progressão anual (de escalão) garantida para 10% dos professores de cada agrupamento/escola.
(5)Na mudança de agrupamento/escola, cada docente apenas poderá progredir depois de 2 anos de trabalho no novo estabelecimento.
(6)Aquela taxa (10%) é mínima e cada agrupamento/escola poderá ser bonificada em alguns pontos percentuais (até 20%, no máximo) por conta de subidas nas listas de escolas anuais referentes às provas aferidas e exames nacionais dos seus alunos. As descidas nesses rankings provocarão descidas da taxa anual anterior até ao mínimo de 10%. A manutenção mantém a taxa no valor do ano anterior.
(Poderá ou não haver listas separadas por níveis de ensino)
(O número de progressões será o resultado arredondado para o inteiro superior, havendo acertos de 3 em três anos em que o resultado – de um acerto - poderá ser o inteiro inferior)
(7)Caberá aos agrupamentos/escolas concretizar e chegar à lista anual ordenada dos seus docentes (em condições de progressão).
(8)Para além daquele prémio directo, serão promovidos todos os docentes que, em condições de promoção, que somem 6 anos alternados ou consecutivos em posições na primeira metade da lista anual ordenada naquele agrupamento/escola.
Lista de docentes ordenada. Como lá chegar?
Cada Escola determinará as suas formas. O ME apenas indicará alguns items, dos quais, um ou dois obrigatórios e com um número mínimo a considerar. As escolas poderão, assim, escolher aqueles que mais se adaptem à sua escola e, até, propor outros que o ME poderá validar e juntar à lista de opções.
Aquela lista deverá ser interna. E dela ser retirada a lista de docentes a promover. E anotados os que se situam na sua primeira metade. Sem qualquer necessidade de classificar ninguém.
ITEMs DE AVALIAÇÂO
Podem ser muitos. Uns melhores que outros. Todos com contras, mas também com prós. Os aqui indicados ou outros quaisquer.
1)Escolha por votação secreta por parte dos elementos do conselho pedagógico. Cada elemento do conselho escolheria os 3 docentes que considere mais merecedores da progressão. Os X docentes mais nomeados teriam 1 ponto.
2)Escolha por votação dentro do grupo pedagógico do docente. Idem.
3)Escolha por parte dos funcionários da escola. Idem.
4)Pelos pais, pelos alunos. Idem.
5)Os X professores com menor número de faltas (justificadas ou não) teriam 1 ponto. Nesta matéria há considerar o ponto de vista da produtividade (quantitativa).
Aqui não há que avaliar pela qualidade (resultados). Esse item liga-se à Escola e reflecte-se no aumento das vagas de promoção. Aqui há que escolher os melhores, do ponto de vista da comunidade educativa onde estão inseridos.
No início poderá se dar o caso de haver grupos onde uns votam nos outros distorcendo os objectivos de escolher os melhores. Mas gradualmente se aperceberão que a Escola (e eles) no seu todo, perderão com isso. Pois menores resultados por parte da Escola origina a redução das quotas de progressão. E o sistema se ajustará por si só. Afinal, se a Escola não subir no ranking anual, as vagas de promoção serão mínimas.
Assim, pode mesmo não ser necessária a avaliação. Nem este nem outro modelo. Os seus objectivos atingem-se de uma forma muito mais simplificada.
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