sexta-feira, maio 23, 2008

Escolas, políticas e isolamento



Mães de Vilar de Perdizes contra fecho da escola

Mães consideram que 15 alunos e uma escola com boas condições é suficiente para não fechar.
Em criança, Margarida Carrelo só foi um mês à escola. Abandonou para ir guardar as ovelhas que a mãe comprara. Nesse tempo, " a escola era na parte de cima de uma casa. Na parte de baixo dormiam dois bois". "Cheirava muito mal, mas nem assim Salazar a fechou. E, hoje, com todas as condições, querem-nos a fechar!". Inconformada, ontem, Margarida, de 80 anos, juntou-se a mais de uma dezena de jovens mães que protestam contra o encerramento, no próximo ano lectivo, da escola do primeiro ciclo de Vilar de Perdizes, em Montalegre. "Devia estar aqui o povo em peso", insurgia-se a octogenária que completou a quarta classe já em adulta. O encerramento do estabelecimento foi confirmado há menos de uma semana pelo próprio presidente da Câmara de Montalegre, Fernando Rodrigues, no decorrer de uma reunião com as mães. Dispostas a tudoOs 15 alunos que frequentam a escola terão que ir para Montalegre, onde, no âmbito da reorganização do primeiro ciclo se irá concentrar grande parte dos alunos do concelho. Inconformadas com a decisão, as mães prometem luta. "Estamos dispostas a tudo!", garantem. O autarca diz, no entanto, que é a "qualidade do ensino que está em causa". "Em Montalegre, a escola tem boas salas, aquecimento, cantina, actividades de enriquecimento e um professor por ano, coisa que em Vilar de Perdizes não acontece. O mesmo professor ensina os quatro anos", defende Rodrigues. Os argumentos das mães são de outra ordem. "Vamos ter que os levantar às 6.30 horas. E à noite só chegam às seis. De Inverno, a essa hora é de noite. Ou seja, chegam, comem e vão para a cama. Que tempo passam com a família?", questionava uma mãe professora. "Eles nem em casa comem bem, com uma pessoa a insistir, quanto mais lá!", lamentavam. Mas as "boas" condições da escola também são usadas para defender a sua manutenção. "Quando lá vou, até me apetece ficar. Está um mimo!", explicava a mãe Sameiro. Além de quatro salas, aquecimento central, material informático e recreio coberto. "O presidente diz que lá estão melhor porque cada classe vai ter um professor. Então, se é isso, porque não contratam mais professores?", argumentava outra mulher. in JN 23.5.08



Um caso real. De uma comunidade que se questiona. Que não reclama por reclamar. Apresenta razões e fundamentos. Uma das evidências de como a "cegueira política" alicerçada nas correntes neo-liberais dominantes forçam o destino, o estilo de vida e as relações familiares de um grupo de crianças de uma comunidade. Um caso que prova como a passagem do 8 para o 80 nesta questão nacional da reorganização da rede escolar carece de muita racionalidade e ....sensibilidade. Quantos de nós gostaríamos de fazer levantar os nossos filhos pelas 6.30h da madrugada? Quantos de nós os gostaríamos de voltar a ver pelas 18 horas?
Na pureza das razões subjectivas, estas mães e avós colocam singela, mas objectivamente a falta de visão que leva a escola a contribuir para a litoralização do país e sua desertificação nos pequenos lugares. Se não pode haver uma escola em cada lugar, também não deve existir uma só por concelho!!!

Sem comentários: