Sérgio Godinho a abrir as sextas
As iniciativas culturais e desportivas carecem de ritualidade para integrarem a vida das comunidades. As sextas culturais de Águeda promovidas pela nossa autarquia e pensadas e dirigidas artisticamente pela D'Orfeu, aí estão com a qualidade de um bom cartaz. E para abrir o programa nada mais nada menos que o espectáculo dia 9 de Janeiro no Cine-Teatro S.Pedro com Sérgio Godinho (http://www.myspace.com/sergiogodinhooficial) um "camaleão" musical que desde os anos 70 do século passado engrossa a nossa colecção musical de vinil e agora a de CD. Sérgio Godinho cantou publicamente em Águeda pela primeira vez no ano de 1975 (?) num canto livre no ginásio masculino da actual Escola Secundária Marques de Castilho. Diziam as más línguas da época que apenas aceitou participar se a iniciativa fosse apartidária. Lembro-me que foi um dos últimos dos cantautores portugueses nesses anos de brasa, a cantar em Águeda. Já Zeca Afonso, Fausto, Vitorino, Carlos Paredes e Adriano Correia de Oliveira o tinham feito. Sérgio Godinho foi o cantautor mais difícil de ouvir em Águeda. Nessa época tivemos o privilégio de ouvir Adriano Correia de Oliveira e as suas belíssimas canções inúmeras vezes. Quase que a caminho de Avintes, Adriano Correia de Oliveira à sexta-feira cantava em Águeda, tantas foram as suas actuações em Águeda...
Em 1975 (?) para mim foi a primeira vez de Sérgio Godinho, ainda sózinho com a sua guitarra e as canções da época como "Saltimbancos", "Que força é essa?", "Charlatão" e do albúm Pré Histórias como a famosíssima "Barnabé", "O Homem dos sete instrumentos", "Porto, Porto", "A noite passada" ou "Aprendi a amar". Um Sérgio Godinho que teve a inteligência, o saber e a mestria de fazer uma carreira musical de qualidade ao longo dos tempos, quanto a mim, ancorada na descoberta de novos valores ao nível da orquestração musical que lhe garantiram espaço e público constante ao longo das várias gerações sonoras. Com canções que se tornaram verdadeiros hinos de gerações - "Etelvina", "O Grande Capital", "Com um brilhozinho nos olhos" e tantas outras ...- Sérgio Godinho foi capaz de atravessar a etiqueta de cantautor ou baladeiro do 25 de Abril a partir da qualidade musical e poética das suas canções, hoje objecto de admiração e culto por parte das novas gerações de grupos musicais. Sérgio Godinho sempre soube "enroupar" as suas criações com a sonoridade mais próxima da actualidade, sem prescindir da mensagem que pretendia transmitir nas suas letras ou da inovação da sua escrita musical. Só assim se explica a qualidade e longevidade da sua carreira musical.
Outra questão é a sua performance em palco. Sérgio Godinho tem aquilo que poderemos chamar "quilómetros de palco". Mas só isso é pouco para explicar a sua presença, energia e forma de envolver os públicos nas suas canções. Público que muitas das vezes vai aos concertos para cantar as suas canções.
Sérgio Godinho a abrir as sextas culturais para além de uma boa notícia, é um bom sinal.
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