quarta-feira, janeiro 30, 2008

Tarde demais...

Na última edição do Expresso o então ainda Ministro da Saúde, cheio de vitalidade, dizia que finalmente os portugueses começavam a entender a sua política de saúde. No mesmo dia em que aquela edição do Expresso saía, tive a minha inflamação anual de garganta. A procura da receita do antibiótico que geralmente abrevia a cura começou elo Centro de Saúde de Águeda. O médico de serviço, apesar de não ter ninguém para atender, já tinha atingido o número máximo de utentes que podem ser atendidos ao Sábado, número que um qualquer regulamento vindo de Lisboa especifica. Fui às urgências do Hospital de Águeda. Cheguei às 11.45, fui atendido às 17.50, ou seja, cerca de seis horas depois. Gargantas inflamadas, otites, dores de barriga, ambulâncias a chegar com AVCs, politraumatizados, etc., um quadro caótico que nos coloca a nós, o país do plano tecnológico, num patamar de desenvolvimento que deixa muito a desejar. Primeiro, é ridículo uma curriqueira infecção na garganta ser tratada como um 'episódio de urgência', como aparece no recibo (já agora paguei cerca de 9 euros). Segundo, é ridículo esperar seis horas pela prestação de um serviço público. Mas nem tudo foi mau. De facto, esta visita às urgências foi decisiva para entender a política do Correia de Campos, ou melhor dizendo, do governo que ele integrava. Como? Enquanto esperava, percebi que havia dois tipos de utentes: Uns, resignados, decerto habituados a uma vida cheia de injustiça e vazia de qualidade, esperavam em silêncio. Outros, prostestavam com força: "Isto é uma vergonha". A pergunta que recorrentemente se seguia ao "isto é uma vergonha" fez-me finalmente perceber a política governamental e o amor do governo pelo SNS. A pergunta era: "Alguém sabe se a CLIRIA está aberta?". Os portugueses como eu finalmente perceberam que o objectivo é o de reservar o SNS para os resignados e os injustiçados, vulgo os mais idosos e mais pobres, e convencer os que podem pagar, com maior ou menor esforço, a utilizar os cuidados de saúde prestados pelo sector privado.
Para o Correia de Campos foi tarde demais... vem aí uma 'amiga' do Manuel Alegre, que tem vindo a mostrar uma 'comichão' crescente por fazer parte de um partido que apoia um governo cujas políticas criam grandes dificuldades à oposição de direita para simplesmente se 'opôr', pois essa oposição, se estivesse no 'poleiro', dificilmente conseguiria fazer diferente (talvez a privatização total do governo, tipo Governo S.A. ou SGPS, constituisse factor de diferenciação). Vamos esperar para ver. Já agora uma última questão: quem acredita que o Correia de Campos, tão entusiasmado que estava para enfrentar o parlamento e expressar mais uma vez o seu amor pelo SNS e até para trabalhar em conjunto com bombeiros, jornalistas, utentes, etc., se demitiu?

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