sexta-feira, junho 05, 2009

Xutos e Pontapés - sem eira nem beira

Tenho de confessar de que não sou um fã fervoroso do grupo Xutos e Pontapés. Mas, num tempo em que parece que temos dificuldade em explicar às gerações mais jovens como funcionava e o que representava a "Censura Prévia" durante o Estado Novo, com a revista "Visão" a fazer simulações de números censurados com a aplicação do célebre lápis azul, o que se está a passar com esta canção "Sem Eira nem Beira" - http://www.youtube.com/watch?v=LKLjg1Lb03Y&feature=email -do citado grupo é uma subtil forma de censura mais que prévia. Com a maior das poucas vergonhas, os responsáveis (por playlists e outras barbaridades formatadoras do gosto e do pensamento) conseguem tentar justificar-se mantendo uma cara séria e parecendo que argumentam acerca de custos e orçamentos de pregos e cimento... Há uma desfaçatez nisto tudo que incomoda e deliberadamente interfere com a nossa liberdade de opinião. Não se trata da qualidade da música. Não se trata do grupo que é. Apenas em causa está a divulgação pública de uma canção incómoda. Mas, a história da música popular não é feita de incomodidades? Se fosse hoje a geração de baladeiros e cantautores tinha sido fuzilada? Então agora a música, as artes têm de ser bem comportadas? Então só porque temos eleições este ano, o poder não pode sequer ser mencionado? Então ...



O tema chama-se 'Sem Eira nem Beira', mas não há ninguém que não o conheça por 'Sr. Engenheiro'. É uma das faixas mais comentadas e cantadas na rua do último disco dos Xutos & Pontapés, lançado a 6 de Abril. Mas, nas rádios nacionais só passou uma vez, uma única vez. Foi na Antena 3.
Os dados são avançados pela editora da banda, a Universal Music, que pagou a uma empresa para monitorizar três músicas do novo álbum, para saber exactamente quantas vezes foram tocadas. 'Quem É Quem', o primeiro single do disco, passou mais de uma centena de vezes. E 'Perfeito Vazio', o segundo single a ser lançado, foi o único tema a conseguir um lugar numa Lista A das playlists das rádios nacionais (a lista que obriga a que a música tenha em média quatro passagens diárias), com 136 passagens, só na Mega FM.
Zé Pedro, guitarrista dos Xutos, avança com surpresa: "Parece um complô contra o tema, ou uma espécie de exclusão por poder ferir susceptibilidades. Acho estranho. Parece-me que a música podia ter sido aproveitada como notícia e transformar-se num hipe de rádio", afirma. O músico diz manifestar-se contra o sistema de playlists, mas não critica nenhuma rádio por optar ou não por passar um tema dos Xutos. "Compreendo que, estando esta música a ferver, na boca de toda a gente, as direcções das rádios possam ter preferido não a passar por estar em cima da mesa como uma canção de contestação", adianta Zé Pedro, frisando que para os Xutos o sucesso da música é claro. Durante os concertos da banda, o tema é o que tem provocado maior vibração junto do público, aquele com que as pessoas mais se identificam, e a sua procura na Internet tem ultrapassado todas as expectativas. "Sentimo-nos compensados, portanto", afirma o guitarrista. A humorista Maria Rueff, que no seu programa "O Exame de Dona Rosete", na TSF, fez uma rábula com o tema, afiança que "é muito estranho a música não passar nas rádios", e considera pertinente que se investigue porquê.
Contactados pelo Expresso, os directores das maiores rádios nacionais refutam a ideia de qualquer tipo de censura, quer vinda do exterior quer criada internamente. António Mendes, director de programas da RFM, afirma que aquela é uma rádio musical que tem por objectivo tocar e fazer sucessos e que o boom do 'Sr. Engenheiro' nos jornais e televisões (recorde-se que o primeiro vídeo do tema passado pelo 'Jornal Nacional' da TVI foi para o ar a 15 de Abril) chegou a meio da fase de lançamento de "Perfeito Vazio". António Mendes adianta, no entanto, que a canção "se trata de um fenómeno político e não de um fenómeno popular". Nelson Cunha, director de programas da Mega FM, vai mais longe, explicando que a rádio "não está vocacionada para questões políticas, nem quer disso fazer bandeira. Os nossos princípios são de isenção musical e política".
José Marinho fala em nome da Antena 3, a única rádio que passou a canção portuguesa mais polémica da última década. "Não fazia sentido sermos a única rádio a tocar o tema. Fazê-lo isoladamente podia não ter bons resultados para nós, ainda por cima quando o tema ainda nem tem suporte vídeo", afirma. "Mas isso não significa que a canção esteja proscrita e que não venha a ser tocada num futuro próximo. Há três eleições a caminho e o tema é quente", conclui.
Também Pedro Abrunhosa, que em 1995 fez furor com 'Talvez F...", música que se transformou num hino anti-Cavaco (era então primeiro-ministro em final de mandato, tal como Sócrates agora), não quis comentar o assunto. Recorde-se que as improvisações do músico à letra da canção, substituindo o "e eu e tu o que é que vamos fazer", por "e eu e a Maria o que é que vamos fazer", não fizeram com que o tema fosse excluído das rádios. in EXPRESSO 30 Maio 2009 http://clix.expresso.pt/musica-anti-socrates-dos-xutos-varrida-da-radio=f517786

1 comentário:

douro disse...

Isto está a ficar perigoso. E como a espinha tesa está cara, vamos ter de sair à rua e não vai ser de chapéu na mão