Águeda, que plano de mobilidade?
O crescimento das urbes têm destas coisas. Exigem com regularidade repensar a utilização e ordenamento do território urbano, com a finalidade de aumentar a qualidade de vida e os níveis de atractibilidade das cidades. Estas crescem em população, mas também nos seus níveis de exigência. Mas a qualificação das decisões de ordenamento do território e de mobilidade nas urbes modernas, exigem pensar com sentido estratégico e imbuído de ambição. Assim, importa colocar algumas reflexões:
1. Mobilidade que ideia?
Em qualquer plano ou projecto há subjacente uma ideia forte. Que norteará e garantirá coerência às diferentes decisões. Qual a ideia base do Plano de Mobilidade de Águeda? Aumentar o fluxo de trânsito automóvel? Desincentivar a utilização do automóvel nas principais artérias da cidade? Aumentar a velocidade de circulação automóvel na cidade? Incentivar a utilização de transportes públicos? Favorecer a circulação de peões em segurança? Estimular a utilização no centro da cidade de meios de transporte não poluentes como a bicicleta? Desenvolver alternativas de estacionamento automóvel? Afastar o automóvel do centro da cidade? Criar corredores rodoviários que atraem os automóveis para o centro?
Esta questão é nuclear, pois que dela dependem todas as decisões. Um plano de mobilidade não se circunscreve a um mapa com setinhas para cima e para baixo...
2. Mobilidade para quem?
Uma proposta de melhoria da qualidade de vida dirige-se sempre a alguém. Este plano quando propõe mudanças, está a pensar em quem? Nas pessoas? Nos automóveis? Nos transportes públicos? Ou em todos articuladamente? Um plano de mobilidade urbana que hoje se circunscreva à "ditadura dos automóveis" para além de pobre e redutor, transporta uma visão demasiado terceiro mundista da cidade. Não é hoje possível pensar os espaços urbanos por um único prisma. Há que pensar na mobilidade urbana em que a qualidade de vida esteja presente. Estamos na emergência da sustentabilidade das sociedades. As decisões de ordenamento do território e a sua qualificação, não o podem escamotear. Onde está o pensamento acerca da mobilidade dos peões no tecido urbano? Onde está o pensamento sobre formas alternativas de mobilidade como o transporte de bicicleta? Onde estão as eco-vias? Por muito que custe a alguns, mobilidade não é só sinónimo de circulação automóvel.
3. Mobilidade e sustentabilidade
Num momento em que muitas cidades se preocupam em desincentivar o uso e abuso do automóvel como transporte individual, é urgente tomar pequenas medidas que inovem nesta área. Por muito que custe a muita gente não poder ir à Avenida mostrar o novo mercedes ou o novo BMW. A sustentabilidade urbana em termos de ruído, poluição e qualidade de fruição dos espaços, não precisa de fluidez automóvel. Precisa antes de libertar os espaços nobres das cidades para os cidadãos utilizarem em segurança e de forma alternativa e saudável ( a pé ou de bicicleta). Falamos tanto de qualidade de vida, mas tomamos muito poucas decisões nesse sentido. A sua elevação passa pela saúde das pessoas e das cidades. Mas cidades saudáveis são aquelas que contribuem objectivamente para a diminuição de libertação de CO2 e fomentam estilos de vida activos e saudáveis nos seus habitantes.
4. Mobilidade e qualidade de vida
O que é qualidade de vida em Águeda? É pretender tomar café na Avenida e ter a garantia que se estaciona mesmo em frente? É encostar o automóvel em 2ª fila e ir ao estalecimento comercial? É encontrar estacionamento em todo o lado, mesmo que seja em cima dos passeios públicos? A qualidade de vida que desejamos não se compadece com esta "ditadura do automóvel" em que todas as decisões são tomadas em função dele. A qualidade de vida que desejamos preocupa-se com as pessoas no contexto da fruição dos espaços urbanos. Em que importa definir mobilidades dos peões, zonas de convívio e lazer, áreas verdes, mas também a mobilidade de bicicletas nos espaços urbanos. Só desta forma incentivaremos os mais jovens a serem mais activos no seu quotidiano.
5. Mobilidade e propostas
Discutir publicamente um plano de mobilidade, não se pode resumir à "palpitagem" avulsa. Seria deveras interessante disponibilizar todos os estudos realizados acerca da circulação rodoviária, todos os estudos acerca das principais vias de utilização peonizada, todos os estudos sobre práticas de estacionamento, todos os estudos acerca das possibilidades de definição de eco-vias urbanas, todos os estudos acerca das ligações intermodais entre diferentes meios de transporte, todos os estudos acerca da fluidez de circulação peonizada proveniente das escolas e seus horários, etc. Enfim todo o suporte de dados que concerteza ajudou a definir as propostas que agora estão em discussão pública. Só desta forma os cidadãos interessados em participar, poderão opinar com alguma sustentabilidade e fundamento. Ainda assim, com os dados disponíveis a obrigatoriedade de o trânsito circundar o Jardim Conde de Sucena, parece-nos estar ao nível de mais um "disparate urbano". Depois de se transformar na principal via de entrada na cidade, agora querem transformá-lo na de maior caudal de trânsito. Neste plano parecem não existir propostas de peonização, antes pelo contrário a Rua Luís de Camões será reaberta aos automóveis, o que confirma que a "ditadura dos automóveis" está bem presente neste plano.
Pensar mobilidade urbana, portanto se não se resume a definir setinhas para baixo e para cima num mapa, carece de uma visão integrada que com ambição seja capaz de pensar a qualidade de vida na cidade de Águeda nos próximos anos. Que não pense só nos automóveis, mas essencialmente nas pessoas e sua qualidade de vida. Só desta forma estaremos a contribuir para cidades saudáveis onde todos desejem viver.
Sem comentários:
Enviar um comentário