Vai uma missa?
Não. Não se trata de nenhum convite para uma refrescante bebida alcoólica, numa qualquer esplanada da "bila". Antes recordar um insólito facto que exige alguma reflexão.
- A igreja não estava cheia, mas a grande maioria dos lugares sentados estava preenchida por funcionários da Administração Fiscal, que faziam a diferença em relação à habital missa das quartas-feiras.O cónego, que se esforçou por considerar “normal” aquilo que foi inédito para os trabalhadores dos Impostos, não ficou imune ao mediatismo da cerimónia, empolado durante todo o dia por rádios e televisões. “É uma missa absolutamente normal, como todas as que se celebram na Sé, diariamente, às 18h30”, adiantou. O padre Manuel Pereira da Silva deu até o exemplo da abertura do ano judicial ao dizer que, “após a cerimónia oficial realizada pela manhã, muitos juristas católicos têm por hábito celebrar uma missa à tarde”.O grande protagonista do evento, o director-geral dos Impostos, chegou pouco antes do início da cerimónia. Sem prestar declarações, Paulo de Macedo sentou-se nas filas da frente e acompanhou toda a cerimónia em recolhimento. Não comungou, mas deixou o seu contributo durante o período do peditório. Um momento em que aqueles que estão habituados a cobrar... desta vez deram.Depois da leitura da Epístola aos Hebreus, em que se exaltou o sentido da pregação, o Evangelho segundo S. Marcos glorificou a vitória do bem sobre o mal. Só no momento de recordar os que partiram foi feita uma referência aos “colegas trabalhadores dos Impostos”.A missa realizou-se no dia em que o ministro das Finanças reafirmou que está à procura de uma “solução” para reconduzir o director-geral dos Impostos, cujo mandato termina em Maio, sem criar “excepções legais”, nomeadamente em relação ao seu vencimento. “A vontade é com certeza que ele se possa manter em funções, e farei todos os possíveis para que assim seja, mas obviamente não criando quaisquer entorses ou situações legais excepcionais para que isso seja possível”, afirmou o ministro das Finanças, após a cerimónia de assinatura do contrato da concessão rodoviária da Grande Lisboa. O principal obstáculo à recondução do actual director-geral, Paulo de Macedo, tem sido o seu salário, significativamente acima do habitual para o cargo. “Será dentro do quadro legal vigente que teremos que encontrar uma solução para este assunto, e não depende só do Governo, dependerá da pessoa envolvida e da sua vontade”, disse Teixeira dos Santos. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, João Amaral Tomaz, também marcou presença na cerimónia. in Correio da Manhã 11.1.07
Não, também não se trata de nenhuma actividade realizada por religiosos fundamentalistas de Alá. Como o assunto me pareceu estranho, resolvi pesquisar e lancei para o Google as palavras "impostos e missa". Para meu espanto surgiram 225.000 referências, o que comprova que os resultados obtidos contra a evasão fiscal nos últimos anos, estão associados a uma questão de fé. Pessoalmente também sempre achámos de que as igrejas desenvolvem relações muito peculiares com o dinheiro (principalmente o dos fiéis!!!). Andam para aí a dizer que o Estado é laico, que não se deve subjugar a qualquer confissão religiosa, que se deve preocupar em estimular relações institucionais com todos os credos e confissões. Tudo música fiada!!! Se para cobrar mais impostos, para a estrutura da sua DGCI funcionar de forma mais eficaz, se para motivar os funcionários na participação ao combate à evasão fiscal, for preciso....ai não que não vai uma missa. Obviamente que sabemos de onde veio (e para onde irá) o Sr Director-Geral. Para o banco da "ordem", logo não nos podemos espantar com a forma como se consideram normais tais actos litúrgicos misturados com o exercício da função pública numa república que na constituição se diz laica (mas pouco!!!)
Perante os factos aguardamos as próximas cerimónias religiosas da Igreja do 7º dia, das Testemunhas de Jeová, da Igreja Ortodoxa Russa, Da Igreja Maná, da Igreja Protestante e outras. Caso isso não aconteça receio que a fuga aos impostos por parte dos cidadãos destas religiões se intensifique. Ou bem que somos coerentes na completa relação entre religião e impostos ou nada feito.
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