Os 50 anos da CE e o Rote Armee Fraktion
Ontem, a Europa fez 50 anos. Ou seja, a "associação" na qual nós juntamente com outros 26 países, constitui a Comunidade Europeia (CE). Muito se tem escrito sobre esta Europa, muitas vezes justamente (estou a pensar nos custos exorbitantes de um Parlamento em Estrasburgo), mas, no cômputo geral, e enquanto cidadão português a residir num país que também faz parte do "clube", a Suécia, as vantagens são mais do que evidentes. Só o facto de o cidadão europeu poder movimentar-se num espaço como o "nosso", sem grandes burocracias quanto a registos, assistência médica e social, com um universo de Universidades ligadas entre si é, de facto, algo impensável há algumas décadas atrás. A vertente económica, a paz com que antigos inimigos de um passado recente de conflitos hoje se sentam à mesma mesa (Alemanha e Polónia, para dar um exemplo), enfim, a Europa como a conhecemos hoje e que achamos ser algo normal, duas décadas atrás seria impensável . As dúvidas, avanços e recuos fazem parte da história, desde a assinatura do Tratado de Roma a 25 de Março de 1957, mas, no entanto, a Europa sempre conseguiu avançar para além das suas naturais divergências, a última ainda recentemente com o recente alargamento a Leste.
Sendo a Suécia um dos países mais cépticos em relação à ideia de Europa, a que não estará alheia o facto da sua posição geográfica "puxá-la" para Leste, para o Báltico, levou que as comemorações fossem moderadas, mais no plano académico, com os habituais colóquios e conferências, longe do cidadão comum. Felizmente, que a Europa, ou a ideia de Europa não é somente palavras. Cabendo à Alemanha, na actualidade, a presidência da CE, resolveu a Embaixada desse país na Suécia, juntamente com os restantes parceiros, organizar um evento com características de "prova" gastronómica, onde a nossa forma de viver enquanto europeus fosse exposta através dos nossos vinhos, queijos, enchidos, cervejas, etc, e que teve um óptimo retorno mediático. Feliz iniciativa esta que, neste céptico país, teve o ensejo de mostrar que a Europa não é só Bruxelas e a burocracia, mas também a combinação do vinho português, os enchidos romenos, os figos grecos, a cerveja belga, vinho austríaco (nem sabia que tal coisa existia naquele país) etc, etc. Estivémos bem representados com os nossos tintos, durienses e alentejanos em destaque, para além do Porto e Madeira, acompanhado, desta vez, com o magnífico queijo de São Miguel, tendo o nosso país sido um dos mais visitados. Enquanto decorria a prova dei-me conta que o lugar onde me encontrava, a Embaixada da Alemanha em Estocolmo, é um daqueles locais em que a história um dia resolveu visitar. E não pelos melhores motivos. O ano é 1975, nas vésperas do primeiro aniversário de uma revolução pacífica ocorrida num país da Ibéria, a 24 de Abril, um comando de seis terroristas do grupo alemão Baader-Meinhof (Rote Armee Fraktion), seus nomes: Hanna-Elise Krabbe, Karl-Heinz Dellwo, Lutz Taufer, Bernhard Rössner, Ulrich Wessel e Siegfried Hausner, ocupa, de surpresa, a Embaixada da República Federal Alemã na Suécia. O objectivo do comando "Holger Meins" é o de obrigar o governo da Alemanha Federal, do social-democrata Helmut Schmidt, a negociar a libertação dos fundadores do grupo terrorista, Andreas Baader e Ulrike Meinhof. A espiral de terror do comando começa, primeiro, por colocar 13 quilos de TNT no edifício, seguindo-se a ameça de assassinarem os 12 elementos da Embaixada, enquanto vão informando a policía sueca e as autoridades alemãs das suas exigências. As autoridades federais de Bona negam-se a negociar com o comando, o que resulta no consequente assassínio, a sangue frio, do adido militar da Embaixada. Face a nova recusa em negociar, segue-se novo assassínio, desta vez do adido económico, Hillegaart, com 3 tiros, fazendo com que a policía sueca resolva avançar. Não chegam a vias de facto, já que os 13 quilos de TNT são activados, destruindo parte da Embaixada, ferindo os terroristas e os restantes elementos do staff da Embaixada. Durante 12 horas, tempo que decorreu a ocupação, a Europa vê-se confrontada com uma nova realidade, e o governo alemão, de Schmidt, e o sueco, de Olof Palme, são colocados à prova. Este último, Palme, seria 11 anos depois do raide de Estocolmo, assassinado em plena baixa de Estocolmo e, uma das várias teorias que circulam sobre os motivos do crime e que ainda hoje é referenciada, é a da possível participação do Rote Armee Fraktion. Enquanto circulava pelas várias dependências da Embaixada onde decorria o evento, e observava como as diversas nacionalidades da "nova" Europa comunicavam entre si e trocavam opiniões, o dinamarquês com o letão, o eslovénio com o cipriota, e por aí fora, não deixava de pensar que, 30 anos atrás, o fanatismo e a violência tinham tomado conta deste espaço e destes corredores. Essa é, definitivamente, a Europa que não queremos. Só por isso, o que não é pouco, devemos comemorar os 50 anos da Europa.
2 comentários:
Então e nem um cheirinho de um leitão da Bairrada? Nem uma pelezita?
Caro Rui. Ainda seríamos presos! Com a forca que os ambientalistas têm na Suécia, a minha pele é que ficaria tostada...
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