quarta-feira, março 28, 2007

Política, Salazar e concursos de TV

Salazar foi o português vencedor no concurso da RTP, "Os Grandes Portugueses". Esquecendo a natureza do concurso, formato, modo de votação, etc, importa pensar. Porque ganha Salazar? O que está a acontecer na cabeça do cidadão português, para chegados aqui, considerar Salazar "o maior"? Que visão da política e suas práticas, faz nos portugueses emergir uma visão de Salazar como "o maior"?
É com tristeza que chegamos aqui. A este pântano de valores, que permite branquear a personalidade de Salazar em pleno século XXI. Mas, mais que tudo, isto é um forte sinal do que pensam os portugueses. Não desvalorizemos estes resultados. Não desculpemos, afirmando que se trata "apenas de um concurso". Não enfiemos a cabeça na areia, não querendo ver a diferença entre o país que vivemos e sentimos todos os dias e aquele que nos é "apresentado" na comunicação social.

2 comentários:

Anónimo disse...

Esclarecimento prévio:

O programa “Grandes portugueses” da RTP não foi mais do que puro entretenimento.
As votações não têm qualquer fiabilidade nem rigor científico, nem são amostra representativa do país.

Comentário:
Porque é que aparecem tantas pessoas indignadas com a vitória do Salazar, e não se nota indignação pelo segundo lugar de Álvaro Cunhal?
A esquerda, aliás, as esquerdas – a ortodoxa, a radical, a extrema, a chique, a caviar, a moderada, todas - continuam a pavonear a sua “superioridade moral” sobre qualquer grupo social que não se reveja nos seus princípios.
Enquanto o centro-direita e a direita (excepto a extrema direita nacionalista, que não merece qualquer crédito) prontamente concordam que Salazar foi um ditador e, logo, muito mau para o país (apesar de um outro ainda conseguir admitir algum aspecto menos mau do Estado Novo…), a tal esquerda continua a negar qualquer aspecto negativo de Álvaro Cunhal. Esta esquerda tem a distinta lata de apresentar esse comunista ortodoxo como benéfico para o país, e que Portugal deveria ter seguido o seu caminho.
Será que o PREC, como mera amostra, não deu para ver que o comunismo (idealizado, defendido e praticado por Álvaro Cunhal) seria imensamente pior do que o negro Estado Novo?
Haja decência…
Se, por absurdo, devêssemos levar a sério o resultado do programa da RTP, não nos restaria senão corar de vergonha pelos dois primeiros classificados.
Salazar e Cunhal… Pobre país cujos cidadãos escolhem tais escroques como símbolo…
A.M.
Águeda

Unknown disse...

Caro AM

Não me preocupa, discutir Salazar. Não me preocupa discutir quem foi um ditador político. Não me preocupa discutir quem fez política retirando todas as liberdades. Não me preocupa discutir quem mandava prender os seus opositores políticos. Não me preocupa quem fez da perseguição e da morte, ajuste de contas com quem "não fosse da cor". Não me preocupa discutir quem em pleno século XX e no pós-Guerra Mundial defendia políticas externas de "orgulhosamente sós". Não me preocupa discutir quem defendia nos anos 40 do século passado, que três anos de escolaridade eram o suficiente para a formação e qualificação dos portugueses. Não me preocupa discutir quem desenvolveu políticas de "condicionamento industrial" baseadas no controlo da produção nacional distribuída por 5-6 famílias. Não me preocupa discutir quem não foi capaz de adoptar políticas ajustadas ao tempo para os actuais PALOP, preferindo políticas de avestruz. Não me preocupa discutir quem numa atitude de "enorme visão" recusou integrar o Plano Marschal de apoio à Europa no pós II Guerra Mundial. Não me preocupa discutir alguém que tinha o cofre do Banco de Portugal com barras de ouro e o país a passar fome na miséria. Não me preocupa discutir alguém que se orgulhava ao dizer que a viagem mais longa que tinha efectuado, tinha sido a Badajoz.


AGORA, o que me preocupa BASTANTE na actualidade é identificar porque chegámos aqui? Porque e como atingimos o grau 0 ou quase da política? Será que é essa imagem que as pessoas sentem? A qualidade dos actores políticos tem vindo a decair - a nível nacional, regional e local - que induz as pessoas a pensar que o "Botas" era o máximo? Teremos (sem o saber) um país psicanaliticamente carente de "autoritarismo"? A memória é algo imprescindível no desenvolvimento humano. Ao contrário daqueles que se manifestam contra a memória, entendo que cada vez mais a função da(s) nossas memórias(s) é fundamental. O mesmo se passa na política.