quinta-feira, julho 19, 2007

Sobre a importância do conhecimento tácito...

A temporada que passei recentemente em Nápoles reforçou a ideia, alimentada ao longo de anos de trabalho científico, de que o conhecimento de natureza tácita é um recurso fundamental. A terceira cidade de Itália, unanimemente considerada como a urbe mais perigosa do país, é um exemplo de auto-governo (alguns chamariam-lhe desgoverno) e até de expressão democrática. Ironia à parte, a percepção que se vai ganhando à medida que nos vamos inserindo no modo de viver napolitano é a de que quem gere a cidade não são os poderes legitimados por eleições, mas sim os milhares de condutores de 'motorini' (as lambretas...) e de automóveis (na sua maioria velhos e cheios de amolgadelas), os vendedores de relógios Rolex (a 20 €...) e de óculos de sol Gucci (a 5 €...), os 4 indivíduos que jogam às cartas numa mesa de campismo enquanto tomam conta de um parque de estacionamento com capacidade para 10 viaturas, os 'carabinieri' que fumam o seu cigarro no interior da estação ferroviária (onde um grande cartaz avisa: 'Vietato fumare'), o gasolineiro que enche o depósito enquanto 'saboreia' o seu cigarro pendurado no canto da boca, etc., etc., etc....
No meio da balbúrdia resultante, a 'sobrevivência' depende da capacidade de pôr em prática o mote "Em Nápoles, sê napolitano!". E aqui entra o conhecimento tácito... um exemplo: para atravessar uma rua, não adianta procurar uma passadeira (ou mesmo semáforos). Quase ninguém liga às zebras e aos sinais vermelhos. Solução? Atravessar em qualquer local que não tenha passadeira ou semáforos, dar dois ou três passos decididos para a frente, olhar de frente os motoqueiros e automobilistas e, surpresa, surpresa, eles param! Funciona (quase) sempre...
Da balbúrdia também resulta uma naifesta incapacidade de aproveitar fundos comunitários para melhorar as infra-estruturas. Ao contrário de outras zonas do sul da Europa (Portugal foi um bom aluno neste aspecto), a influência dos dinheiros europeus mal se nota. Auto-estradas e vias rápidas de acesso à cidade num estado miserável, aeroporto idem, etc.. Mais, um problema crónico com a recolha do lixo, que se vai amontoando mesmo nas zonas mais nobres (até no parque natural que circunda o Vesúvio há montanhas de lixo!). Juntemos-lhe agora o problema do crime organizado (diz-se que o principal responsável pela situação do lixo é a Camorra napolitana...), e obtemos uma grande 'caldeirada'.
Se dependermos de um guia impresso da cidade (conhecimento codificado), a tendência será 'fugir a sete pés'. Para contrariar a tendência, a acumulação de conhecimento tácito é crucial.
Gostei...

1 comentário:

Unknown disse...

Caro CR

O teu tão longo desaparecimento da blogosfera, apenas é explicável, pelo envolvimento tácito "napolitano" ...
Então depois da tua proposta de finlandização judia teremos a chegada a estas nobres urbes da camorra italiana? Vê lá no que te metes...
Se for preciso arranjamos uma mesa de campismo....porque os gajos a jogar às cartas já cá temos...

Aguardemos serenamente.