sexta-feira, junho 06, 2008

O exemplo que vem de cima ...

10 de Junho
Dezanove ministros e secretários de Estado nos quatro cantos do mundo

05.06.2008 - 23h27 Ana Cristina Pereira, Ricardo Dias Felner

É o maior investimento de sempre de um Governo nas comemorações do 10 de Junho no estrangeiro. Ao todo, cinco ministros e 14 secretários de Estado irão assinalar o Dia de Portugal junto de portugueses residentes no estrangeiro, em comemorações que decorrerão entre os dias 8 e 15 de Junho. Do Luxemburgo a Sydney (Austrália), de Pretória (África do Sul) a Montevideu (Uruguai), em cada continente haverá algum membro do Executivo.Manuela Aguiar, secretária de Estado das Comunidades nos governos de Cavaco Silva, garante que "nem por sombras" conseguiu tamanho envolvimento dos seus colegas no Executivo: "Iam uma meia dúzia se tanto, quase só secretários de Estado." Também José Cesário, que ocupou o mesmo lugar com Durão Barroso a primeiro-ministro, sublinha o facto de se tratar de uma operação "inédita" no Dia de Portugal: "Normalmente éramos uns sete, oito, nove".O actual titular da pasta, António Braga, diz-se satisfeito, focando a "receptividade" dos seus colegas no Governo. O esforço parece-lhe tanto mais importante quanto a diáspora engloba áreas que tocam "todos os ministérios, desde a Segurança Social à Educação ou à Justiça". Parte dos governantes aproveitarão para manter contactos bilaterais. O secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira, por exemplo, irá a Lambeth, município que mais concentra portugueses no Reino Unido. Terá uma reunião de trabalho com o chefe da polícia, Jeremy Tagg, outra com a sua homóloga britânica, Bridget Prentice.Houve solicitações "praticamente de todos os sítios" que acolhem uma população portuguesa numerosa ou influente. Por impossibilidade de agenda, muitas ficaram por satisfazer.Aguiar e Cesário consideram o investimento válido e justificado. O presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas, Carlos Pereira, também, "até porque a maior parte dos membros do Governo não costuma ter sensibilidade para estas questões". "É muito importante para os portugueses que estão fora do país terem um membro do Governo junto deles", diz Manuela Aguiar, explicando que, no seu tempo, tal não foi possível por "questões orçamentais" e por não ser "prática comum"."Se for só para passear, não vale a pena, as pessoas que venham para ouvir, para tomar medidas", avisa José Xavier, sindicalista e conselheiro das comunidades na Holanda, onde há problemas graves de exploração de trabalhadores temporários portugueses. A representar o Governo, em Haia, estará Idália Moniz, secretária de Estado Adjunto e da Reabilitação, do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social.Há reacções mais agrestes, como a de Ivo Sousa, conselheiro eleito por Pretória: "Mandam um secretário de Estado que a gente não conhece." Quem? O secretário de Estado do Comércio, Fernando Serrasqueiro. "A África do Sul tem meio milhão de portugueses. Podia vir, não digo José Sócrates, mas alguém conhecido como António Braga." Braga irá a Moçambique e Sócrates não alinha.Cesário estranha algumas decisões: "Não tenho conhecimento que vá alguém a Toronto e isso é uma falha." Esta cidade canadiana é conhecida por ter as maiores festas do Dia de Portugal, a par com as de Newark, nos Estados Unidos.O Conselheiro das Comunidades Portuguesas em Toronto, Laurentino Sousa Esteves, é ainda mais crítico: "Já estamos habituados. Toronto nunca esteve entre as prioridades do Governo Português", afirma, sublinhando tratar-se de uma das maiores "cidades portuguesas" fora de Portugal continental, capaz de reunir 100 mil pessoas na parada, que este ano ocorrerá a 8 de Junho. Há uma explicação para isto, atesta a secretaria de Estado das Comunidades. O presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, visitará os portugueses ali residentes por essa altura.Um tom particular terá este ano a festa na Suíça. Os festejos oficiais transferem-se para Neuchâtel, onde está radicada a selecção nacional de futebol, e terão como anfitrião Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto. in O Público 6.6.08 http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1331423&idCanal=12
Assim se vê a força de um país. Crise económica? Dificuldades nas finanças públicas? Deficit orçamental? Tempo de vacas magras? Necessidade de racionalizar os custos? Aperto generalizado do cinto? Importância de introduzir rigor nas contas públicas? Quem disse tudo isto?
Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço. Aqui está um bom exemplo, de como um gesto destroi grandes discursos. Aqui está como uma atitude extremamente assertiva sobre decisões de gestão financeira das contas do Estado, apenas se aplicam aos outros. Aqui está um bom exemplo de enormes tiros nos pés, contribuindo para a descredibilização dos políticos que nos (des)governam e da classe política em geral. Apesar de tudo compreendo estes senhores. Perante a natureza dos problemas e a forma como as respostas políticas encontradas estão a operacionalizar-se, a solução é ... viajar.
Até quando?

2 comentários:

José Manuel Dias disse...

Com essa argumentação poderíamos questionar: universidades para quê se há pessoas que ainda são analfabetas?!!

Unknown disse...

Caro Dias
A questão que se coloca é essencialmente do momento em que se bate o record... Nunca tais números foram atingidos, nunca a dramatização da situação do país foi esta...
O resto já é padrão político.