terça-feira, outubro 17, 2006

Desculpem-me a insistência...

Ainda a parceria MIT-Portugal... com um pedido de desculpa pela insistência, a qual resulta, essencialmente, da necessidade de 'desabafar' depois de ter tido acesso a uma série de documentos sobre o processo.
Para o nosso Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, José Mariano Gago, a selecção das universidades e institutos de investigação que participam na parceria "foi a mais transparente e com base numa avaliação feita pelo MIT”, (Diário Económico, 12 de Outubro de 2006). Tive acesso à agenda das visitas de representantes do MIT a Portugal, as quais visaram a tal avaliação a que o Zé Mariano se refere. A agenda está inserida como anexo num documento intitulado "Assessment of an MIT-Portugal Collaboration". Uma prova de transparência, sem dúvida. Porém, um olhar mais atento sobre a agenda mostra de forma clara (e transparente!) que os representantes do MIT apenas visitaram as instituições de ensino superior que, por coincidência (ou não), acabariam por ser as seleccionadas para integrar a parceria. Deduzo que a rapaziada do MIT nunca ouviu falar da Universidade da Beira Interior, da Universidade de Trás-os-Montes, da Universidade de Aveiro, da Universidade do Algarve, e, já agora, dos politécnicos (alguns dos quais têm vindo a desenvolver trabalho de mérito em várias áreas de investigação e fomentando ligações profícuas com as empresas, e.g., Leiria)!
Se houvesse transparência de facto, não haveria lugar a especulações como as que se seguem: será que as instituições seleccionadas, ou seja, a 'nata' do sistema de ensino superior em Portugal, foram objecto de uma pré-selecção? Alguém sentado no seu gabinete localizado na capital decidiu que apenas as instituições x, y e z seriam avaliadas pelo MIT? Mais, (e não é especulação), os portugueses pertencentes ao 'governing board' do programa estão todos ligados ao Instituto Superior Técnico, por coincidência, a 'casa' quer do ministro quer do seu secretário de Estado!
O transparente processo vai render aos cofres do MIT cerca de 33 milhões de euros (seguem-se mais 28 milhões para a Carnegie Mellon e cerca de 10 milhões para a Universidade de Austin). O Zé Mariano diz que o primeiro grupo de empresas afiliadas ao Programa MIT-Portugal, não deverá apenas "contribuir para o programa mas, também, assumir "perante o País a responsabilidade de duplicarem os seus investimentos em investigação e de apostarem em recursos humanos de alto nível científico e tecnológico". De facto, o interesse das empresas portuguesas neste programa atingiu tal dimensão que os dinheiros para pagar aos americanos vão sair dos bolsos dos contribuintes (140 milhões de euros vindos do Orçamento de Estado para financiar o programa nos proximos cinco anos).
Estas 'transparências', somadas a outros 'eventos', como o triste debate sobre a nova lei das finanças locais (alguém viu o Prós e Contras da RTP 1 ontem, com a moderadora a mandar calar os autarcas presentes na plateia - "Calem-se senão...", e o ministro a atirar pedradas ao Ruas de Viseu?), ou a constatação estatística de que há 2 milhões de portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza, não matam mas moem...

1 comentário:

Norte disse...

O sonho americano.
Aviso já que não tenho as fontes de informação do Carlos R., embora assine por baixo. A minha fonte de informação é, para além do mundo virtual, essa coisa fantástica de propaganda com requesitos salazaristas que se chama RTP internacional. Aí, somente vejo, para mal da minha sanidade mental enquanto português residente no estrangeiro, o Telejornal, ou antes, o pasquim do governo. Nesta euforia do MIT, 2 situações teimam em fazer reverbação no meu pobre cortex: Primeiro, o porquê da escolha do MIT em si, e, segundo, mais importante ainda, porque é que somos nós, portugueses, os, ao que parece, pagam o banquete. Na Europa, que por sinal é onde nós nos encontramos, existem instituições universitárias com uma pujança que não deverá estar muito distante da instituição do Tio Sam. Por acaso, aqui, em Estocolmo, existe uma Universidade que se chama KTH - Royal Institute of Technology [Kungliga Tekniska högskolan](http://www.kth.se/), o Carlos R. saberá do que falo, sendo um dos principais centros mundiais de investigação científica, concretamente, nas telecomunicações móveis (o conceito do telemóvel como hoje o conhecemos foi inventado no KTH). Nesta instituição, estudam e investigam portugueses, a maioria pagos por bolsas nacionais, e, infelizmente para o nosso país, a maioria deles não tenciona regressar a esse cantinho tão exótico (o Reininho já cantava que vivia num país tropical), vá-se lá saber porqu ê.