D' Orfeu - os culpados do costume
O que faz reunir em Águeda numa fria tarde de domingo em Janeiro cidadãos como Américo Rodrigues (programador e Director-geral do Teatro Municipal da Guarda) Ana Pires (ex-Delegada Regional da Cultura do Centro) António Pedro Pita (Delegado Regional da Cultura do Centro) Carlos Seixas (programador do Festival de Músicas do Mundo – Sines) Fernando Mendonça (Adjunto do Governo Civil de Aveiro; ex-Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Estarreja) José António Jesus (Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Tondela) José Rui Martins (actor e encenador; director da ACERT – Tondela) José Pina (Director de Animação Cultural da Feira Viva/Imaginarius - Sta. Maria da Feira) Maria da Luz Nolasco (Directora-geral do Teatro Aveirense) Paula Abreu (socióloga do Centro de Estudos Sociais, Coimbra) Pedro Fernandes (programador do Cine-Teatro de Estarreja) Vasco Sacramento (programador dos festivais “Sons em Trânsito” - Aveiro e “Med” - Loulé) ou Mário Moutinho (Director do Festival de Teatro do Porto - FITEI) ?
Pois é. A D'Orfeu para além da produção de espectáculos, também pensa e reflecte sobre a natureza das políticas culturais que criam e mantêm a cultura artística como um factor de qualidade de vida. E não o faz em circuito fechado e à porta fechada. Faz disso um espaço público de participação, aberta a todos e principalmente a outras associações e colectividades de Águeda. Pensar hoje num tempo de vacas mirradas (só para umas coisas!!!) as questões culturais, à luz de exemplos de outros lugares, faz-nos reflectir acerca do caminho que em Águeda ainda temos que percorrer, para garantir níveis mínimos de sustentabilidade a uma agenda cultural, que não se fique pela aleatória contratação por catálogo, qual jogador de futebol vendido por empresário. Águeda teve oportunidade de ouvir pelos responsáveis institucionais, os percursos realizados diferentes em cada vila, cidade ou região. Desde a oferta cultural produzida por privados, a lógica de parcerias públicas e privadas, a criação de empresas municipais nesta área, a organização de serviços públicos da cultura, até à contratualização de uma associação como motor cultural da comunidade. Podemos dizer que a riqueza deste fluir de práticas culturais viveu muito da sua diversidade e da informalidade com que cada um transmitiu a sua experiência pessoal. Que deve servir não para copiar, antes para reflectir acerca dos modelos mais ajustados em relação às características de cada comunidade. Também aqui as coisas não se devem fechar em torno do financiamento ou do valor do subsídio, mas antes de TODOS, administração central, local, associações, grupos e colectividades se preocuparem em como podem fazer das actividades culturais uma mais valia para a qualidade de vida e a atractibilidade no concelho de Águeda. Como garantir uma política coerente e articulada? Como garantir uma agenda cultural que não se esgota na oferta de espectáculos e se amplia no envolver do cidadão como actor cultural? Como garantir uma política cultural que democraticamente e sem elitismos envolve vários públicos? Como garantir que a agenda cultural em Águeda tem "tiques" de diferenciação relativamente à oferta regional? Como garantir práticas culturais distribuídas pelo todo concelhio? Como garantir práticas culturais que envolvendo as pessoas se tornam ritos da comunidade pelo hábito e significado? Como garantir SUSTENTABILIDADE às práticas culturais que nos permitam pensar que serão um património comunitário transmissível entre gerações?
Este seminário da D'Orfeu (mais uma vez) ajudou a reflectir de como a complexidade da definição de políticas culturais, exige clareza, visão estratégica de desenvolvimento e opções assumidas. Águeda tem o privilégio de contar com a D'Orfeu, mas a D'Orfeu tem de sentir que conta SEMPRE com Águeda...
2 comentários:
Viva d'Orfeu!!!
Marisa
Um acontecimento destes passa quase ao lado da ocupada imprensa local. Felizmente nem a nacional nem a blogosfera andam distraídas.
Conciso, pertinente, este texto expõe a essência do seminário e assume a desfesa de uma política cultural em Águeda, em volta dos seus Agentes Culturais.
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