terça-feira, junho 19, 2007

Portugal, futebol e ... vitórias morais


A selecção portuguesa sub-21 de futebol, não conseguiu passar à fase seguinte no campeonato europeu respectivo. Perdendo com a Holanda, empatando com a Bélgica e ganhando a Israel, à equipa portuguesa está destinado a disputa de um lugar europeu para os Jogos Olímpicos de Pequim, através de um jogo com a Itália.
O "filme futebolístico" que vimos neste europeu foi igual a muitos outros. Uma comunicação social que hipervaloriza a nossa equipa e os seus jogadores e desvaloriza os outros. Depois dentro do campo as coisas são sempre um pouco diferentes... Mais uma vez, dei comigo a reflectir acerca de algumas das ideias que tenho sobre o nosso futebol e as razões para estes insucessos, por vezes pouco previsíveis.
Em termos individuais, ao contrário de outros países, os nossos jovens são profissionais "muito cedo" em termos do seu percurso de vida e confrontados muitas vezes com um estrelato e uns holofotes da comunicação social, que podem ofuscar o normal desenvolvimento de um jovem jogador. Com isto muitos dos nossos jovens "armam-se em vedetas" muito cedo e é visível nestes jogos internacionais como as suas prestações desportivas são banalizadas. Muitos deles são estrelas confirmadas nos seus clubes e reconhecidos como jogadores transferíveis, em que o que se discute é apenas o valor dos €€€ da cláusula de rescisão. Obviamente que psicologicamente estes ingredientes aos 19/22 anos podem ser perturbadores do rendimento desportivo.
Em termos colectivos, tenho para mim que à excepção da selecção de Riade (João Pinto e companhia tacticamente pareciam um relógio suiço), Portugal nunca teve verdadeiras equipas. Nunca desenvolveu futebol assente num colectivo, em que o valor brotasse da articulação das suas peças. O sucesso, as vitórias estiveram sempre muito mais dependentes da iniciativa de excelência de um ou outro jogador de eleição que em cada geração de jogadores surge. Dependente do génio e criatividade individual de um Figo, Rui Costa ou outro. Se em certos jogos a excelência dos predestinados não surge, então o nosso futebol bloqueia e restam-nos as vitórias morais, as desculpas dos árbitros e os treinadores da escola Scolari. O melhor e triste exemplo foi a euforia do Euro-2004, em que morremos na praia às mãos de uma equipa de futebol, bem treinada e orientada. Podem dizer que sempre foi assim e assim será. Mas teremos futuro se continuarmos a desperdiçar a excelência de jogadores de futebol como os da geração desta equipa de sub-21? Teremos sempre de ficar expectantes à espera do pique de Nani, da visão do Moutinho, do remate poderoso do Miguel Veloso (desculpem lá, só sairam lagartos!!!)? Ou não é possível conjugar as individualidades que fortaleçam e acrescentem valor à equipa. Sim, porque para lá da genialidade reinante dos jogadores portugueses de futebol, este ainda continua a ser um jogo colectivo.

Relembro aqui a recente entrevista de Artur Jorge sobre o seu Benfica dos anos 70. Dizia ele que as pessoas não faziam ideia do elevado nível de desorganização da estrutura que era completamente branqueada pela excelência desportiva dos jogadores ...

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