segunda-feira, maio 29, 2006

Da avaliação à Eurovisão...


Andam a flutuar no ar, transportados certamente pelos políneos que todas as manhãs irritam as narinas e as laringes, rumores de que a avaliação de professores vai começar a contar com a participação dos pais dos alunos. Não tenho nada contra a avaliação dos professores. Antes pelo contrário. A avaliação é uma forma de melhorar o seu desempenho individual e, por arrastamento, da escola onde leccionam e do sistema de ensino no seu todo. Assim, a avaliação é uma coisa séria, que deve ser levada a sério! Aqui é que a porca, decerto devido ao efeito irritante dos políneos, torce o rabo. A proposta que o Governo estará a preparar não é séria! Porquê? Primeiro, porque a noção de avaliação que o Governo adopta tem fins punitivos! Há que punir aquela corja de mandriões que têm três meses de férias, dão cinco horas de aulas por dia, faltam amiude e não ligam ao sucesso dos seus alunos! Segundo, porque os muitos diagnósticos que têm sido feitos sobre o ensino em Portugal, apresentam de forma recorrente a demissão dos pais relativamente à vida escolar dos seus filhos como um dos factores de insucesso mais relevantes. São os "demissionários" que vão avaliar, ou ajudar a avaliar, o desempenho dos professores?
Esta iniciativa, a ser verdade, resulta da tradução cega de um modelo que em influenciado a acção governativa de forma significativa nos ultimos tempos: o modelo dos países escandinavos. Há uns posts atrás, desejámos que nosso premier tivesse aprendido alguma coisa quando visitou a Finlândia. Pelos vistos copiou mais do que aprendeu...
Já agora, pode ser que os organizadores do nosso festival da canção se lembrem de imitar os finlandeses e, para o ano, enviar à Eurovisão os Moonspell ou coisa semelhante em vez das meninas de minisaia e voz esganiçada que, com o voto electrónico já não convencem ninguém. Na foto abaixo, para quem não conhece, os vencedores finlandeses do festival da Eurovisão 2006!


2 comentários:

Norte disse...

De facto, não cabe na cabeça de ninguém que sejam os Pais das criancinhas a avaliar o desempenho dos professores. Qual será o critério: se a professora tem umas pernas óptimas, se o professor é um gajo porreiro e até passa o puto no final do ano e dá para entrar numa das nossa fantásticas Universidades com média negativa. É aflitivo, porque ao que parece e em Portugal, os Pais das crianças nem participam lá muito na vida escolar. Aqui, na Suécia, ainda na ressaca da vitória do hard rock infantil finlandês, e como muito bem o afirma o Carlos R (de Rodrigsen...)este tipo de avaliação é feito de uma forma contínua, mas sem o efeito persuasório que parece estar a minar a opção portuguesa. Os Pais, por norma, participam no dia a dia da Escola mas, são sempre os professores e os organismos inerentes à sua profissão (que até chega à municipalidade, já que a Escola depende directamente da "comuna/município") que tomam as rédeas da política educativa. Um factor importante e não mencionado pelo CR e que poderá ser a uma das chaves do "probelma" reside no estauto do Professor. Na Suécia, o estatuto de Professor é realçado com apreço pela comunidade, e não se pense que ganham fortunas já que a carga tributária é a doer. Agora, imitar os "evoluídos" dos nórdicos só por imitar não augura grande futuro à introdução desta iniciativa, para mais sendo a classe dos Professores em Portugal um dos "lobbys" mais afinados na defesa dos seus interesses. Outra particularidade nacional.
PS: As cachopas portuguesas na Europa das canções foi simplesmente horrível, mas que se dane já que o festival é "fatela" até dizer chega (os suecos adoram-no, e o país quase que para). O concurso da Eurovisão tem sido ultimamente utilizado como a plantaforma ideal pelos "novos" países de Leste resultantes do defunto bloco soviético, assim como pela Turquia, na procura da "felicidade" europeia e como uma forma sublime de se afirmarem na Europa "civilizada", tal a necessidade de afirmação que têm e de serem reconhecidos. Nós, que temos as fronteiras mais antigas da Europa e uma identidade cultural e línguistica muito forte, coisa rara nesta Europa remediada, não precisamos felizmente desse tipo de "muleta". Como as coisas andam por Espanha, ainda iremos assistir a gaiteiros galegos em representação da Galiza, a bascos impronunciáveis e a Catalães operáticos, a convencerem a Europa das suas "legitimidades" nacionalistas.

Unknown disse...

Caro Carlos R

A estratégia do ME é clara. Colocar ainda mais os professores como os "grandes mandriões" os culpados de todos os insucessos, os únicos responsáveis pela elevada taxa de abandono escolar. Tudo isto metendo tudo no mesmo saco. Sabemos que no nosso Sistema Educativo co-existem escolas muito más e escolas de excelência. A questão não passa por arrasar tudo e todos, porque sabemos o que isso provoca. Atitudes de total descrença. desmobilização e entradas no regime "qb". Alguém que diga à nossa Ministra que nada se pode fazer nas escolas sem os professores. Eles são a pedra angular de todas as boas e/ou más medidas. Ela na sua cruzada cega, dogmática e demagógica está a destruir uma classe e a sua imagem social. Como são vistos hoje os professores? Como são apresentados à sociedade? É claro que nem tudo está bem, nem tudo rola sobre esferas. Mas não pode ser através de estratégias ofensivas do trabalho quotidiano dos professores que se melhoram as coisas. É fácil agredir os professores na comunicação social. É difícil é operar mudanças mobilizadoras de vontades e comportamentos que persistam no tempo e elevem a qualidade geral do Sistema Educativo. Aos professores é proporcionada uma excelente oportunidade de saírem do "nacional-porreirismo" em que todos são bons, todos são impecáveis, todos são bons professores, todos são excelentes profissionais. Todos sabemos que também não é assim. É fundamental separar o trigo do joio. POOr outro lado prevejo o que aconteceria se isto se passasse em Espanha ou em França. Questões como estas e outras bastantes mais graves para a carreira docente, mereceriam uma cabal respostas por parte de uma classe docente distraída com questões acessórias. Não esquecendo que no essencial as preocupações do ME é fazer baixar os custos com pessoal e não a qualidade do Sistema Educativo. As questões de participação dos pais na avaliação dos professores é mais complexa. Neste momento é do interesse do ME o "banzé" que a coisa possa dar. Nós estamos ainda na infância da participação dos pais na vida escolar, com todo o "deficit" de participação cívica na nossa sociedade. Há limites aos contextos da participação dos pais,já que eu não devo interferir nas decisões científico-pedagógicas próprias da profissão docente. Ás vezes o problema é que os "problemas" são tão básicos que se colocam ao nível do senso comum...e daí que os pais se sintam com autoridade para intervir ou avaliar.A procissão ainda vai no adro....