quinta-feira, dezembro 28, 2006

Portugal pepetizado

"Torna-se cada vez mais consistente a hipótese de Pepe vir a integrar a selecção nacional. Em entrevista a um jornal brasileiro, Luiz Felipe Scolari revelou que o central lhe garantiu que recusaria uma eventual chamada da selecção do Brasil." in Sic On-Line 27.12.06
Para muitos esta questão é mais uma típica do mundo do futebol. A naturalização de mais um brasileiro "que dá jeito no centro da defesa" vem mesmo a calhar dirão alguns. Mas, mais importante que tudo isto, é questionarmos o que é hoje uma selecção nacional de futebol? O que representa a sua participação desportiva internacional? Que poder de identidade nacional ela assume? Que força de afirmação das capacidades e competências de um país, pode uma selecção de futebol traduzir? É chegado o tempo de pensar e reflectir acerca da missão e razão de ser das selecções nacionais. Que antes de tudo devem representar o país. Ou os que praticam futebol nesse país? Os equilíbrios entre a vontade de vencer, sem olhar a nada e os serviços mínimos de preservação de valores e princípios, travam uma luta renhida no mundo da alta competição desportiva. Num mundo desportivo em que parece que tudo vale, desde que a vitória desportiva seja possível é triste ver quotidianamente os princípios, os valores e a coerência das situações serem completamente secundarizados. Tudo isto porque a continuidade e sustentabilidade do futebol enquanto desporto, necessita da afirmação dos valores que fizeram a sua história. Não podem ser uns "sargentões" de meia tigela, que em nome de "outros valores" impõem as suas perspectivas e interesses. Por outro lado a nossa fragilidade de pensamento, leva a que as opiniões postas a circular na comunicação social, permitam que de um momento para o outro, tudo seja natural e completamente pacífico. "Pepe na selecção ... porque não?". Até parece uma manchete de um diário desportivo. Somos um povo de brandos costumes e nenhuns hábitos de questionamento. Até parece que apenas falamos do que nos fazem ler ou ouvir. Há um adormecimento comunicacional, bem presente neste caso da naturalização de mais um brasileiro futebolista.
Se a selecção deixar de ser nacional, tem razão de ser? Deixaremos de ter selecções nacionais no futuro? Teremos a selecção da Nike? Da Adidas? Da Jomar? Da Puma?
Para que existe uma selecção nacional? Serão as selecções do futuro cada vez menos nacionais?
De uma coisa temos a certeza. Uma selecção deve representar uma nação no seu sentido mais amplo, de identidade e afirmação internacional. Contribuindo para um espírito de unidade e comunidade que por vezes só é possível a partir do desporto e neste caso do futebol. Quantas vezes damos com pessoas que passam o ano a dizer que detestam o futebol e depois, perante uns quantos jogos da selecção nacional vibram e emocionam-se. Por tudo, num mundo cada vez mais globalizado/descaracterizado/homogeneizado faz todo o sentido que as selecções desportivas sejam um símbolo nacional, que surjam na base da identidade e valores próprios.
PS - A selecção nacional de basquetebol sénior masculina conseguiu pela 1ª vez na sua história o apuramento para um Campeonato da Europa, a disputar em Espanha em 2007. Alguém ouviu falar disso?

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